sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Lumpen (2013)


* Victor Nogueira

2 de agosto de 2013 
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Público
Esta gente, mandantes e manageiros, não é gente da alta. É o lumpen da burguesia, na desumanidade.
As que brincam aos pobrezinhos. Os que mandam auguentar, ai auguentar. Os que mandam emigrar, mas não saiem da sua zona de conforto no Governo, nos Conselhos de Administração, em off-shores, os que chamam piegas aos portugueses (m/f) qando sempre foram os meninos da mamã e os queixinhas na escola ("não fui eu, sessôra, foi aquele"), os que acham que o desemprego é uma nova oportunidade para melhorar de vida, os dos que dos sem-abrigo apenas conhecem aqueles que dorrmem no pórtico do seu banco da usura enquanto a polícia os não enxota (aos sem-abrigo, naturalmente). As que vivem da caridadedezinha noutros bancos que enchem a bolsa do grande patronato. Aqueles que, mandantes ou simples manageiros, consideram a humanidade descartável, incluindo quem entre o diabo e o inferno escolhe o grande patronato, como seguro UGT.
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Escreve Pacheco Pereira no Abrupto

«A dama Espírito Santo que disse ao Expresso que os da sua laia, os ricos, iam para a Comporta “brincar aos pobrezinhos”, também vale pelo que vale. Zero. Mas já que a dama gosta de brincar “aos pobrezinhos”, então vamos brincar a sério. Vamos atribuir casa no Barreiro à dama, num dos dormitórios lisboetas que ali se fizeram há vinte anos, dar-lhe, vá lá, mais do que o salário mínimo nacional, 600 euros brutos, por exemplo, dar-lhe um emprego em Lisboa, num lar da Misericórdia, numa cantina, que é o que faz quem ganha esta fortuna, um marido a preceito, talvez funcionário da Câmara, mil euros brutos, dois filhos que está bem para a natalidade da classe dos ricos, agora a brincar aos pobrezinhos. Depois, acordamos todos os dias a dama, às 6 da manhã, merenda para os meninos, barco, autocarro, oito horas de trabalho, mais autocarro e barco e fazer o jantar. Aturar o marido, os filhos, limpar a casa. No dia seguinte, a mesma coisa, no dia seguinte, a mesma coisa. Um ano a “brincar aos pobrezinhos”, e aos “pobrezinhos de cima, porque os pobrezinhos de baixo estão na limpeza e no desemprego. Um ano. Sem Xanax. Ao fim do ano, volta para a Comporta. As mãos não são as mesmas. O cabelo não é o mesmo. A roupa não é a mesma. O marido e os filhos não são os mesmos. A cabeça? Não sei. Mas também não deve estar na mesma. Um ano a 600 euros não ajuda a querer “brincar aos pobrezinhos”. Agora já podem dar-lhe o Xanax, o Valium, o que quiser. Vai precisar.»

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