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Conteúdo partilhado com: Público Gostava que viesses mas não virás nem sei se o desejarias de facto, se tudo não passa de imaginações, sonhos, encenações para lá da magia e do encanto. É tramado o peso da educação ancestral, de séculos de feminina submissão e domínio, de jogos de gato e rato, em que se não sabe bem quem domina ou quer dominar quem. São tramadas as cadeias tecidas pelas dez mil bocas e pelos cem mil olhos em redor, da vizinhança, de comadres ou compadres, de filhos, irmãos e netos. Restam as palavras, o desejo e o silêncio em redor de mim, para lá das sonoridades da brisa que sopra lá fora, do suave rodado dos carros no empedrado da calçada, do meu dedilhar no teclado que pobremente fixa e limita o escorrer do meu pensar e sentir, ou do troar dos comboios que de longe chegam ou para longe partem. Mas se não vens ou se vieste e não voltaste, satisfeita a curiosidadesinha de conhecer quem tão bem escreve - dizes tu e muita gente - por vezes como se fosse príncipe ou princesa encantados cujo encantamento o personagem físico e real, ao alcance de todos os sentidos desfaz em nada e se perde no vazio. Sem retorno.
Poderia talvez escrever coisas belas, para ti, a quem dei um nome de código que só tu conheces, aquele com que te identifico quando me telefonas, Poderia talvez usar a magia das palavras tecendo rendilhados e redes, mas não vale a pena fazê-lo se não és, pois gastas estão as palavras para quem é inominado Amor. Mas às prisões e aos egoísmos do Amor prefiro a serenidade, a liberdade e a tolerância da Amizade. Tão ou mais exigente que românticos amores. Mas, para lá de Ítaca, estão gastas as palavras. Como escreveu Eugénio de Andrade, o poeta cujos textos expressam não a plenitude da alegria do amor alcançado mas a nostalgia do que se perdeu ou não alcançou. Escuta, é o
Acorda-me
um rumor de ave.
Talvez seja a tarde
a querer voar.
A levantar do chão
qualquer coisa que vive,
e é como um perdão
que não tive.
Talvez nada.
Ou só um olhar
que na tarde fechada
é ave.
Mas não pode voar. (Eugénio de Andrade)
DA SÈRIE entre eros e afrodite - cartas de ítaca
foto victor nogueira - pôr do sol em beringel
Manuela Vieira da Silva - Magnífico texto, Victor. «Mas às prisões e aos egoísmos do Amor prefiro a serenidade, a liberdade e a tolerância da Amizade.»
8 a
Silvia Mendonça - Um dueto de tirar o fôlego : Victor Nogueira e Eugênio de Andrade. Prosa e Poesia na mesma toada. Lindo! Parabéns a ambos.
8 a
Clara Roque Esteves - Um belo pedaço de prosa poética, como é hábito.
8 a
Maria Jorgete Teixeira - Gostei de ler. Nele te reconheço. Reencontro. Bjs
8 a
Maria Márcia Marques
O rumor da brisa está a provocar-te muita nostalgia, fica-se sempre à espera de alguém que não cumpre promessas, talvez se encontre no esvoaçar de uma ave em fim de tarde, brincando com as ondas do mar....
7 a
Judite Faquinha - Meu querido amigo e camarada, amei o teu maravilhoso texto como sempre, mas o rumor da brisa que passa e encanta, te provoca muita nostalgia... na espera de alguém, deixa amigo, não esperes...porque quando não esperamos esse alguém aparece, ou dá sinal… Ver mais
7 a
Judite Faquinha - Não sei o que aconteceu!!! - Que me apareceu o nome de uma amiga minha que também tem Andrade no nome...me desculpa, beijokinhas Victor...feliz segunda feira... a foto também está lindíssima, fica bem!!!
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Manela Pinto ~Sempre bom ler o k aqui públicas, aguardo o livro esperado 😉
7 a
Victor Barroso Nogueira - Ora, ora, não tenho secretária de carne e osso. Quando eu morrer pode ser que surja alguém que compile e publique os meus textos literários, históricos e políticos, Manela Pinto 😛
7 a
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)