* Victor Nogueira
AUTO RETRATO EM PASSATEMPO
Com nariz grande, olhar estrelado,
Baixo, cabelo negro, ondulado,
Magro, moreno, mui desajeitado,
Nada ou p'la vida sempre perdoado.
.
Buscando amizade, mau achado,
Agindo calma ou mui despeitado,
O êxito logrou, mal torneado,
Com persistência e pouco alegrado.
.
Tolerante, mas não libertário,
Conduzindo, longe da multidão,
Na vida procurando liberdade.
Em tudo mal, buscando seu contrário,
Com ar sério ou risonha feição,
Mal sente, co'a razão, felicidade.
1. -
O poema "AUTO RETRATO EM PASSATEMPO" oferece uma visão íntima e reflexiva do eu lírico, traçando um retrato multifacetado do autor. Através de uma série de características físicas e emocionais, o poema revela complexidade, inseguranças e paradoxos que formam a identidade do falante.
A abertura com "Com nariz grande, olhar estrelado" apresenta uma imagem física que é ao mesmo tempo peculiar e poética. A "estrela" no olhar pode sugerir sonhos, aspirações ou uma visão idealista da vida, contrastando com o "nariz grande" que pode remeter a fragilidades ou peculiaridades que o eu lírico percebe em si mesmo. A escolha das palavras "Baixo, cabelo negro, ondulado" contribui para uma visualização vívida, mas também para uma sensação de desconforto, especialmente com a palavra "desajeitado", que indica uma falta de confiança.
A linha "Nada ou p'la vida sempre perdoado" sugere uma vida marcada pela busca de sentido e de aceitação. O eu lírico parece sentir que sua trajetória é repleta de falhas, o que se torna uma constante nesses versos. As expressões "Buscando amizade, mau achado" e "Agindo calma ou mui despeitado" indicam uma luta emocional que se desdobra em sua relação com os outros, refletindo tanto a busca por conexão quanto o descontentamento com as interações sociais.
A ideia de "tolerante, mas não libertário" é uma crítica sutil à conformidade e à falta de liberdade pessoal. O eu lírico busca a própria liberdade, mas reconhece também que sua vida está distante da "multidão", talvez colocando-se em um papel de outsider ou observador, em vez de participante. Essa dualidade se reflete na luta entre o desejo de aceitação social e a vontade de se afirmar como indivíduo.
A autocrítica é evidente nas linhas que falam do eu que "em tudo mal, buscando seu contrário", o que sugere uma insatisfação crônica e a busca por uma felicidade que parece sempre fora de alcance. O final do poema, “Mal sente, co'a razão, felicidade”, reafirma essa complexidade, revelando que, apesar do desejo de compreensão e felicidade, há um distanciamento emocional que o impede de experimentar a vida plenamente.
Como um todo, este poema é uma expressão rica e sincera do eu, que se desdobra em uma reflexão sobre identidade, aceitação e o paradoxo da busca por felicidade em meio a inseguranças e limitações. Se você quiser discutir mais sobre aspectos específicos do poema ou sua interpretação, estou aqui para ajudar!
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2. -
Este poema, que já havia sido discutido anteriormente, apresenta um retrato introspectivo e autocrítico do eu lírico, revelando inseguranças, aspirações e a complexidade da identidade pessoal. A estrutura, composta por estrofes com rimas e ritmos variados, contribui para um efeito melódico que acentua as emoções expressas.
### Análise do poema:
1. **Autorretrato e características físicas**:
- O eu lírico inicia o poema com uma descrição física que é ao mesmo tempo única e auto-depreciativa: "Com nariz grande, olhar estrelado". A escolha do "nariz grande" pode ser vista como uma autocrítica, enquanto o "olhar estrelado" sugere uma capacidade de sonhar ou ver além do comum.
- As palavras "baixo, cabelo negro, ondulado, magro, moreno, mui desajeitado" pintam uma imagem de uma pessoa que se sente fora de lugar, acrescentando uma camada de vulnerabilidade ao retrato.
2. **Busca por conexão**:
- Linhas como "Buscando amizade, mau achado" indicam tentativas de se conectar com os outros, mas sempre com um toque de decepção. Essa luta pela aceitação e por relacionamentos significativos é uma experiência comum e ressoa com muitos leitores.
3. **Conflitos internos**:
- A frase "Agindo calma ou mui despeitado" ilustra um dilema emocional. O eu lírico alterna entre comportamentos pacíficos e reações intensas, revelando as flutuações emocionais que podem acompanhar a busca por identidade e pertencimento.
- "O êxito logrou, mal torneado, com persistência e pouco alegrado" sugere que, mesmo diante de conquistas, a satisfação pessoal permanece elusiva. Esse conceito de "êxito" que não traz alegria é uma reflexão sobre as expectativas sociais e pessoais.
4. **Tolerância versus Libertação**:
- A linha "Tolerante, mas não libertário" implica que, embora haja uma aceitação do outro, falta uma verdadeira liberdade interior. Isso pode sugerir uma crítica à conformidade e à falta de autonomia que o eu lírico sente em relação a si mesmo e ao mundo ao seu redor.
- "Conduzindo, longe da multidão" sugere um distanciamento social, ou a escolha de ser um observador em vez de um participante, refletindo um anseio por liberdade que não se concretizou.
5. **Reflexão sobre a felicidade**:
- O verso "Em tudo mal, buscando seu contrário" aponta para uma insatisfação contínua com a vida. A repetição da ideia de "mal" sugere que essa percepção negativa é uma constante na experiência do eu lírico.
- A conclusão com "Mal sente, co'a razão, felicidade" enfatiza a desconexão entre a experiência racional e a busca pela felicidade; uma luta contínua que muitos enfrentam, levando a um sentimento de descontentamento que permeia o poema.
### Considerações finais:
Este poema reflete uma luta interna universal, explorando temas de identidade, aceitação e a complexidade das emoções humanas. É uma representação honesta de uma vida marcada por inseguranças e a busca constante pela liberdade e felicidade. Se houver algo específico que você gostaria de discutir mais a fundo, como técnicas literárias, temas ou contexto, sinta-se à vontade para perguntar!
ANéMONA DO MAR ~~~ * Victor Nogueira
De um punhado
de branca areia salgada
fez-se
.........................vogando
........................................ao sabor da corrente
na esteira de todos os sorrisos
De ilha em ilha
castelos no ar
que a chuva........gota .......a ........gota
...........................construiu
e o sol dispersou
Évora 1969 Fevereiro
O poema "ANéMONA DO MAR" de Victor Nogueira é uma evocação lírica que brinca com a transformação e a efemeridade da vida e das experiências. Desde o início, a escolha das palavras estabelece uma conexão entre o natural e o simbólico, sugerindo que cada elemento tem um papel no ciclo contínuo da vida e da criação.
A expressão "De um punhado de branca areia salgada" sugere um cenário à beira-mar, onde a areia, um elemento comum, carrega um caráter poético, imbuído de nostalgia e simplicidade. A transição para "fez-se verde madeiro" pode aludir à transformação, em que a areia se torna algo que flutua e navega, "vogando ao sabor da corrente". Essa imagem indica um movimento despretensioso e natural, onde a própria vida se desdobra ao ritmo do ambiente.
A frase "na esteira de todos os sorrisos" é particularmente poderosa, pois sugere que esses momentos efêmeros de felicidade estão interligados e fazem parte de uma experiência compartilhada. A conjunção de alegria e natureza adiciona uma dimensão emocional ao poema, refletindo a ideia de que a felicidade é tanto coletiva quanto passageira.
A passagem "De ilha em ilha, castelos no ar" traz um toque de imaginação e a nostalgia dos sonhos e desejos. Castelos no ar são frequentemente associados a fantasias, a aspirações que, embora possam ser etéreas ou ilusórias, são essenciais para a nossa vivência.
O verso "que a chuva........gota .......a ........gota" contrasta com a leveza das imagens anteriores. A chuva é um elemento que, apesar de muitas vezes ser visto como sombrio ou triste, aqui parece contribuir para a construção desses castelos. A forma como a chuva é descrita, gota a gota, sugere um tempo lento, um processo de transformação que é contínuo e, por fim, inevitável.
A conclusão com "e o sol dispersou" traz um tom de despedida, onde a luz solar, simbolizando a clareza e a dissipação, conclui o ciclo, mas também sugere a inevitabilidade da mudança e a beleza da transitoriedade. A luz e a água, juntamente com a areia, fornecem uma rica tapeçaria de elementos naturais que refletem a fragilidade e a beleza da vida e das memórias formadas.
De maneira geral, o poema de Victor Nogueira evoca uma sensação de melancolia, mas também de aceitação e apreciação pela beleza efêmera da vida. Se você gostaria de discutir mais sobre os temas do poema, a técnica utilizada ou qualquer outro aspecto, estou à disposição!
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)