* Victor Nogueira
Nos meus textos surgem referências a moinhos de vento, alguns dos quais fotografei. Nas povoações por onde deambulei, a memória deles persiste na topomímia: Rua do Moinho, em Setúbal e Arraiolos, Rua do Moinho do Frade, em Setúbal, Beco do Moinho e Travessa do Moinho, na Paia da Nazaré, Rua do Moinho Velho, no Couto (Coutos de Alcobaça), Rua do Rio Moinho (Alpedriz), Escadinhas do Moinho Velho (Mira de Aire) ... Na toponímia das povoações os moinhos também marcam posição, como Rio de Moinhos (rcos de Valdevez e Aljustrel) ou em Moinhos da Usseira (Caldas da Rainha) e Alto dos Moinhos de S. Bento (Évora) e Alto dos Moinhos (Lisboa)
1963
De Fátima recordava-me do chão enlameado e da Capela das Aparições. A Basílica é bonita. Vi também os moinhos de vento, mas só de longe. (NSF - 1963.09.04)
1973
Domingo fomos até à Ericeira. A povoação não tem já a beleza e o pitoresco que nela se via. Prédios incaracterísticos ("É o progresso", comentava me a Irene [Pacheco]), ocupados pelos veraneantes, destroem a beleza e harmonia de que ainda vão sobrevivendo testemunhos. Café, cinema, praia, passeios, são o entretenimento dos "estrangeiros", cujo falar parecia mesmo uma chilreada no pequeno largo, cujos bancos e espaço enchiam com a sua presença. A estrada até à povoação é muito estreita e atravessa algumas povoações, todas elas vitimas do "progresso", como se o progresso fosse a construção de casas de mau-gosto atroz; havia muitos moinhos, a maioria branquinhos e funcionando, contrariamente ao que sucede no Alentejo. (1973.09.19)
O meu avô Barroso tem uma casa no Mindelo, onde há uma praia rochosa que me deslumbra pela violência com que as ondas batem na rocha em cascatas de espuma que salpicam o rosto. ou então aquele moinho [azenha] que eu visitei ao inquirir dois velhotes, lá para os lados de Arraiolos: azenha na Ribeira do Divor Gostava de passar as férias, p.ex., num sítio assim. (MCG - 1973.08.02)
1997
Palmela é terra de muitos moinhos, alguns funcionando, na crista das serras do Louro e dos Barris, e das vistas deslumbrantes até aos confins do horizonte. (Memórias de Viagem, 1997)
A parte antiga do Barreiro possui um passeio arborizado ao longo do rio Tejo, com arruamentos em quadrícula. As três igrejas antigas concentram-se à beira-rio (N. Sra do Rosário, Misericórdia e Santa Cruz), onde também existem uma praia fluvial, poluída, os moinhos de vento da Alburrica, um deles acentuadamente cónico (naquele onde funciona uma Ludoteca), e moinhos de maré, que são testemunhos de processos de fabrico que pertencem ao passado. Avenida Alfredo da Silva, fundador da CUF (Quimigal) é uma importante artéria onde se concentra variado comércio, com um jardim. O edifício da Câmara é pobre, com vitral na escadaria. Junto ao rio Tejo um dédalo de linhas férreas, com Lisboa na outra margem. (Memórias de Viagem, 1997)
A vila de Alhos Vedros possui pelourinho, coreto e um desactivado moinho de maré, com um muito degradado palácio com varandas de sacada. Estes dois edifícios situam-se no Largo do Descarregador, ao qual se chega pela rua do Marítimo, perto dum esteiro mal cheiroso, onde vogam ainda algumas embarcações.
Nesta vila os reis e fidalgos refugiavam se quando havia peste em Lisboa. A cortiça e as salinas foram uma importante actividade económica. A pacatez da vila foi quebrada pelo cruzamento de viadutos, mesmo ali ao lado do cemitério, cujos mortos vêm o seu sono perturbado pela passagem dos comboios e dos automóveis. A porta do cemitério contém uma data - 1880 - e uma inscrição: "Só Deus é eterno". (Notas de Viagem, 1997)
Seixal é uma pequena povoação. uma rua central e duas laterais, transversais para o rio, dois pequenos jardins, um em cada extremo, e um passeio alameda ao longo do rio. O Ecomuseu tem vários núcleos, como o da construção naval, moagem (moinho de maré de Corroios) e romano. Situa-se num esteiro do rio Tejo, denominado Rio Judeu, em cujas margens ficam também Arrentela, Amora e Corroios. Barcos recuperados: um varino e dois botes de fragata. O moinho de maré de Corroios, o único de dez que se mantém em funcionamento; no século XVI ascendiam a 60, que abasteciam Lisboa com farinha. (1) À entrada do Seixal impõe se o edifício da fábrica corticeira da Mundet, hoje encerrada, em processo de degradação. (Notas de Viagem, 1997)
(1) - Outros moinhos são os da Quinta da Palmeira e do Zemoto (aldeia de Paio Pires), do Breyner (Arrentela), da Torre, do Capitão, do Galvão e da Passagem (Amora), Velho e Novo dos Paulistas (Seixal).
Amareleja - Situada perto da ribeira do Ardila, possui moinhos de água nas margens do Guadiana. O cemitério espelha um costume característico, cuja razão desconheço, com as campas ao cimo da térrea, onde ninguém é enterrado. (Memórias de Viagem, 1997)
Uma música alegre, ao chegar pela estrada vindos de Mafra, faz-me pensar que se trata duma festa religiosa, das muitas que enxameiam o país de norte a sul, em Agosto. mas embora sejam as festas atrás referidas, de 9 a 17 de Agosto, a música provém dum conjunto de edifícios pequenos, à beira da estrada, reconhecível pela miniatura dum pequeno moinho, de velas rodando. trata-se da Aldeia de João Franco, (no Sobreiro), um artesão oleiro, já velhote, agora especializado em estatuetas de barro, religiosas umas, pagãs outras, elegantes, alegres e bem humoradas. (Notas de Viagens 1997 08 15)
A mata cavalos fomos do Mindelo a Valença do Minho, regressando pelo interior, de manhã até pela noite dentro. Passamos pelos moinhos, de pedra não caiada, mata e praia da Apúlia - terra de sargaço e sargaceiros, é uma praia de areia fina, atravessamos Ofir, povoação bonitinha na margem do Rio Cávado, passamos por Esposende, . (Memórias de Viagem, 1997.08.21)
De Setúbal à Atalaia o percurso ainda é feito por estreita e movimentada estrada, passando por povoações à beira da estrada sem algo de notável para assinalar. O Santuário da N.Sra da Atalaia era a primeira agradável surpresa, lá no cimo da escadaria que parte do amplo terreiro onde existe um cruzeiro. Depois a ponte das Enguias, periclitante, onde se situava um arruinado edifício que outrora fora caiado de branco, que não confirmei se teria sido um moinho de maré, para além de salinas e arrozais. (Memórias de Viagens 1997)
Chove desalmadamente na noite em que vamos a S. Martinho do Porto, em baia conchiforme que figura num azulejo à entrada da povoação, em curva apertada onde não se pode parar o carro, pelo que sigo caminho. A chuva não convida a passeios pedestres e da povoação retenho as ruas molhadas, a iluminação, as casas ao longo da baia e outras pela encosta acima. De dia noto quer os cabeços das colinas em volta estão cobertos de moinhos, muitos com ar de abandono. (Notas de Viagem, 1997.10.26)
Praia (da Nazaré) - Quem entra na Nazaré vê a sua atenção desperta na Marginal por inúmeras lojas com estendais à porta e pelos passeios ostentando roupa e louça artesanais, estando do outro lado a praia comprida. A povoação, mais nova que o Sítio e a Pederneira, desevolida a partir do século XVIII, é uma malha ortogonal subindo suavemente pela encosta. As ruas são estreitas e as casas brancas, conversando com as mulheres à soleira das portas, com um falar próprio, estilo algaraviada arrastada e cantada. (…) Há duas praças principais, onde ficam as esplanadas, e as ruas nesta parte velha ostentam nomes como o Beco do Moinho. Na rua da Subvila há muito comércio e por toda a povoação as brancas casas apresentam um ar cuidado. (Notas de Viagem, 1997.10.31)
Usseira é a terra que deu nome ao aqueduto que abastecia Óbidos de água, construído no século XVI. Resolvo ir visitá-la, seguindo pela estrada velha que liga as Caldas da Rainha a t
Torres Vedras, estrada cheia de curvas e agradávelmente arborizada no vale transposto pelo viaduto da IC 1. Dos pontos mais altos avistam-se os campos, cabeços e povoações nos arredores, designadamente do Lugar dos Moinhos da Usseira. uma placa indica uma estrada secundária, mas chegado à povoação ninguém sabe onde fica a nascente ou mãe de água do aqueduto. rRsta a visita à aldeia, longilínea, com casas arruinadas, um moinho de vento caiado e conservando ainda a estrutura das velas, vinhedos pelos campos. (Notas de Viagens 1997 11)
Os campos em redor estão cultivados. De Leceia, no alto do monte, a Barcarena, lá em baixo no vale, junto à ribeira, é um pulo pela rua Marquês de Pombal. Na encosta, junto à estrada, avista se o corpo central dum moinho de vento transformado em miradouro, com parapeito no lugar do telhado. De Leceia avista-se até longe, até Laveiras e ao Hospital Prisional de Caxias. Em Leceia situam-se ruínas pré-históricas duma povoação fortificada. (Notas de Viagem, 1997)
1998
De Inverno o dia escurece rapidamente e as últimas fotografias em Serra d’El Rey são já feitas ao anoitecer. (...) O adiantado do escurecer impede-nos de apreciar as belas paisagens em redor, tendo como limite o mar e o horizonte longínquo. (...) Pelos arredores alguns moinhos, um dos quais fotografo já com o sol a pôr-se para lá dele, num retrato pouco conseguido.
A caminho de Atouguia da Baleia, próximo objectivo, em Coimbrã uma placa indica a existência dum cruzeiro, pelo que toca a fazer uma inversão de marcha para um pequeno desvio, acabando por encontrar um cruzeiro manuelino, num recanto ajardinado, com palmeiras, flores e arbustos, sob um coberto; o cruzeiro apresenta numa das faces Cristo na Cruz e na outra, morto, nos braços da Mãe. Dentro da povoação um moinho bem conservado, da Senhora da Memória. Que memórias são estas não consigo saber desta vez. (Notas de Viagens 1997.12.05 e 1998.02.23)
Dado o adiantado da hora é difícil encontrar onde jantar, [em Sobral do Monte Agraço] pelo que regressamos ao restaurante O Ferrador, [em Sapataria], cujos donos nos contam curiosidades da terra, como sejam a origem do seu nome, derivado dali se fabricar o calçado para a tropa. Do terraço da casa mostram nos o Monte do Moinho do Céu, de que se distingue o piscar das luzes para a navegação aérea. .(Notas de viagem, 1998.01.--)
Dos pontos mais altos avistam-se os campos, cabeços e povoações nos arredores, designadamente do lugar dos Moinhos da Usseira. Uma placa indica uma estrada secundária, mas chegado à povoação ninguém sabe onde fica a nascente ou mãe de água do aqueduto. Resta a visita à aldeia, longilínea, com casas arruinadas, um moinho de vento caiado e conservando ainda a estrutura das velas, vinhedos pelos campos. (Notas de Viagem, 1998.01.14 e 1998.02.07)
Da Foz do Arelho, nas terras da Rainha, a S. Martinho do Porto, nas terras do Mosteiro de que foi granja, podemos seguir pelo cume da Serra do Bouro, cuja altitude é de apenas 162 m, sobranceiro ao mar, primeiro caracterizada por ser ventosa, com vegetação rasteira, inóspita, que vai dando lugar a arvoredo à medida que nos aproximamos de S. Martinho. Não obstante o deserto, na encosta norte até ao vale existem alguns casais, como o de Celão e o das Cidades, de ruas ingremes, estreitas e casas arruinadas. Alguns moinhos estão reconvertidos em residências. No Cabeço da Vela, à berma da estrada, uma enorme eira, reconstruida recentemente. (Notas de Viagens, 1998.02.09 e 24)
Perto da Tornada, pela Rua dos Queridos acima, dirigimo-nos ao Couto, que não pertencia aos coutos de Alcobaça e que nada de notável nos mostra: um cruzeiro e um poço com bomba de água, ambos à beira da estrada. Da toponímia registo a estrada da Laje e as ruas dos Lagares, do Forno , do Vale Velho, do Ramalhal, do Moinho Velho, da Eira, das e da Associação, para além da travessa Estreita e do Beco da Belavista Já fora da povoação deparo com a Rua do Sol Nascente. (...)
Santa Catarina [nos coutos de Alcobaça] foi esta uma vila importante, embora a importância seja relativa ao tempo e à era; com efeito, em 1527 teria ... 31 moradores na vila e 69 no termo, possuindo até 1834 duas Companhia de Ordenanças para manter a ordem!
(...) No largo principal, chamado do Pelourinho,, situa-se uma igreja modernizada, com alteres de talha dourada ("outrora é que era bonita", conta-me um velhote ilustrado com outros dois sentado num banco), o pelourinho, a antiga casa da Câmara, um solar setecentista (com uma capela arruinada), para além dum modesto jardim com caramanchões e um fontenário. Passeio pelas ruas e registo os seus nomes: o Beco do Moinho e as ruas do Lagarão, do Jardim, do Arsenal, do Paiol, do Caixeiro,, Direita e da Índia. Deparo com muitas casas arruinadas e outras para venda.
Entre as várias histórias referidas pelo velhote, que tinha lá em casa um livro assinado contando histórias da região, registo a que se refere ao Casal do Coito (?!), onde eram acolhidas as crianças sem pai nem mãe, para além de esclarecer que a forca se situava num cabeço fronteiro, fora da vila, mas que constava que ninguém fora lá executado. (Notas de Viagem, 1998.02.22)
Vilar de Mouros - Espigueiros. Igreja com Adão e Eva, em baixo relevo Célebre pelos festivais de música, o 1º realizado em 1972, um Woodstock à portuguesa. Bomba de poço. "Alminhas". Portal do cemitério. Nova (?)
Situada na serra de Agra e atravessada pelo rio Coura, aqui proliferam os moinhos, azenhas e açudes, uma ponte medieval ligando as duas margens em que se situa a aldeia, célebre pelos festivais de música, o 1º realizado em 1972, um Woodstock à portuguesa. (1998 06 11)
Rio de Moinhos (Arcos de Valdevez) - Nesta freguesia os montes são agrestes e a vegetação rasteira. (1998 08 30)
Porto de Mós - Castelo. Igreja Jardim aprazível à beira rio, com estátuas de pedra e miradouro. Igreja de S. Pedro no largo do Rossio - pobre. Povoação cercada por montes verdejantes com a cumeada coberta de moinhos de vento, a maioria abandonados. (1998.09.11 - ?)
Malveira da Serra - Fotos - moinhos, cemitério, túmulo de Beatriz Costa (1998.12.19)
1999
Beringel - Casas brancas, térreas, bem cuidadas. Três igrejas, uma das quais mais modesta. Moinhos pelos arredores. A casa de Brito Lança é agora Centro Regional. Portão de acesso à quinta (1865) (1999.02.19)
Mértola - Moinhos de água no rio Guadiana, como os do Ardila. (1999 02 20)
Melroeira - Esta terra tem um ar rural, com moinhos nos cabeços. A igreja situa-se num pequeno adro com palmeiras. (1999 07 17)
Mira de Aire - Toponímia: travessa do Mau Tempo, escadinhas do Moinho Velho, rua do Terreirinho. (1999 08 21)
2002
Seixal (Moinho de Corroios) (2000.07.29)
Santa Margarida da Serra - À entrada lavadouro público e pela aldeia muitas pontes. Os habitantes utilizam os balneários públicos. Moinho abandonado, sem velas, mas bem conservado. (Notas de Viagens 2000.08.26)
Rio de Moinhos /Aljustrel) É uma terra pequena. A estrada é plana e levemente ondulada. A 5 km de
Aljustrel os campos estão despidos, com algumas oliveiras aqui e além. Três
enormes “montes” de pirites desfeiam a paisagem. (2000.11.11)
2001
Arraiolos - Ruas estreitas e labirínticas. Toponímia - Rua dos Arcos, Travessas do Castelo, do Quebra-Costas, Ruas Nova, do Páteo, do Rossio, da Cruz, das Escolas, dos Moinhos de Vento, da Parreira e Travessas do Algarvio, dos Pintos, dos Britos, Torta e das Almas. (2001.10.18)
2020
Existe em Barcarena uma capela cujo orago é S. Sebastião, protector dos doentes da peste e dos artilheiros Presume-se que o templo resulte da adaptação dum antigo moinho de vento, ao qual se anexou uma pequena nave. Não é conhecida a data de construção da capela, mas uma das pedras tumulares no seu interior regista a data de 1599. O templo foi reconstruído no século XVIII. (Notas de Viagens, 2020)
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)