domingo, 2 de novembro de 2025

Os Moinhos e os Moleiros na Literatura Portuguesa e Universal

 


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"Encarreguei"  o chatGPT  de indiar-me do me pesquisar o que nesta publicação  é o título   sendo o que a seguir trancrevo o resultado final apurado.

1. Introdução

Desde tempos remotos, o moinho acompanha o ser humano como instrumento de sobrevivência, engenho e simbolismo. Seja movido pela força do vento, da água ou das marés, representa a tentativa humana de dominar a natureza e transformá-la em pão, energia e vida.

moleiro, guardião desse engenho, é figura de fronteira: entre o homem e a máquina, o natural e o espiritual, o quotidiano e o mítico.

Na literatura portuguesa — e, por extensão, na europeia —, moinhos e moleiros são presença constante, tanto como símbolos da persistência e da humildade do trabalho como figuras de sonho, memória e destino.

Este estudo reúne as principais obras onde o moinho ou o moleiro têm papel dominante ou relevante, na literatura portuguesa e universal.


2. Os Moinhos na Literatura Portuguesa

2.1. O moinho como símbolo popular e romântico

Durante o romantismo, o moinho surge como emblema do mundo rural e das virtudes do povo. Autores como Garrett e Junqueiro elevam o trabalho simples à dignidade poética.

  • Almeida Garrett – “O Moleiro de Santarém” (Romanceiro, 1843–1851)

Garrett recolhe e recria uma balada popular em que o moleiro é o herói humilde, representante da justiça natural e da moral camponesa. O moinho é o cenário do trabalho e da vida honesta.

  • Guerra Junqueiro – “Os Moinhos” (Os Simples, 1892)

Obra maior do simbolismo rural português. O moinho é símbolo do labor universal e da presença divina nas tarefas humanas.

“Roda, moinho, roda, / Que o pão de todos moas...”


Junqueiro transforma o ato mecânico de moer grão num gesto sagrado, unindo o homem e o cosmos.

  • Lendas e contos recolhidos por Teófilo Braga e Adolfo Coelho

O moleiro aparece como figura popular recorrente, astuto e moralizador, protagonista de lendas como O Moleiro e o Rei ou A Moura do Moinho. O moinho é local de fronteira entre o natural e o sobrenatural.


2.2. O moinho no realismo e naturalismo

O século XIX e o início do XX trazem uma visão mais sombria: o moinho torna-se símbolo de isolamento e decadência rural.

  • Júlio Dinis – As Pupilas do Senhor Reitor (1867)

O moinho é elemento do cenário pitoresco e harmonioso da aldeia nortenha. A presença do moleiro reforça a cor local e a verosimilhança social.

  • Fialho de Almeida – “O Moinho” (Contos, c. 1890)

Descrição crua e melancólica da vida no Alentejo. O moinho é espaço de solidão e de luta contra o tempo, e o moleiro, figura trágica da decadência rural.


2.3. O moinho no modernismo e regionalismo

No século XX, o moinho passa a representar o tempo, o destino e a memória coletiva.

  • Raul Brandão – Os Pescadores (1923)

Os moinhos de maré surgem nas margens das vilas costeiras, como metáfora da ruína e da passagem do tempo. O tom é elegíaco e simbolista.

  • Miguel Torga – “O Moleiro” (Contos da Montanha, 1941)

O moleiro é figura resistente e trágica, confrontado com a dureza da terra e o ciclo implacável da água. Representa o homem português na sua relação com a natureza e a fatalidade.

  • Tomaz de Figueiredo – “Os Moinhos da Maré” (Contos Rústicos, 1946)
  • O moleiro vive preso ao ritmo das marés, símbolo do destino repetitivo e da solidão humana.
  • Sebastião da Gama – “O Moleiro do Mar” (Campo Aberto, 1951)

Poema lírico onde o moleiro, junto aos moinhos da Arrábida, funde-se com o mar e o vento. O trabalho é visto como poesia do quotidiano, em comunhão com a natureza.

  • Aquilino Ribeiro – Quando os Lobos Uivam (1958)

O moleiro aparece entre as figuras da serra, representando o povo resistente e livre, símbolo de autonomia e sabedoria prática.

  • Vergílio Ferreira – Manhã Submersa (1954)

O moinho e o moleiro são evocados como figuras da infância e da nostalgia, reminiscências de um mundo rural perdido.


3. Os Moinhos na Literatura Universal

O motivo do moinho é transversal na cultura europeia, assumindo significados distintos conforme o tempo e o espaço: idealismo, nostalgia, destino ou conflito entre o homem e a natureza.

  • Miguel de Cervantes – Don Quijote de la Mancha (1605–1615)
  • O episódio dos “moinhos de vento” é símbolo universal da luta ilusória contra forças imaginárias. O moinho é o emblema da fantasia humana e da cegueira heroica.
  • George Eliot – The Mill on the Floss (1860)
  • O moinho é núcleo da vida e do destino trágico de Maggie Tulliver. Representa o fluxo do tempo, a fatalidade e o vínculo entre homem e rio.
  • Alphonse Daudet – Lettres de mon moulin (1869)

O moinho da Provença é lar e observatório do narrador, símbolo de memória, trabalho e poesia rural. A influência desta obra é visível no regionalismo português.

  • Theodor Storm – Der Schimmelreiter (1888)

O engenheiro de diques e moinhos luta contra o mar. O moinho é símbolo da audácia humana e da inevitável derrota perante a natureza.

  • Giovanni Verga – “Il Mulino” (Novelle rusticane, 1883)

O moleiro siciliano e a sua família enfrentam a miséria, espelhando o verismo trágico e fatalista da vida camponesa.

  • Wilhelm Müller – Die schöne Müllerin (1823)

Ciclo de poemas (musicado por Schubert) sobre um aprendiz de moleiro apaixonado e condenado ao desespero. O moinho é espaço de inocência e tragédia romântica.


4. O Moleiro como Figura Literária

moleiro é uma das personagens rurais mais antigas da literatura europeia. Trabalhador, astuto, solitário ou contemplativo, é uma figura liminar: entre a terra e a água, o trabalho e o mito.00000000000000000000000000000000

4.1. Na literatura portuguesa

  • Garrett e Junqueiro: o moleiro é herói moral e símbolo da harmonia natural.
  • Fialho e Torgahomem trágico, símbolo da resistência diante do destino.
  • Tomaz de Figueiredo e Sebastião da Gama: o moleiro como figura contemplativa, integrada na paisagem.
  • Brandão e Aquilino: o moleiro como testemunha da decadência rural e da dignidade popular.
  • Vergílio Ferreira: o moleiro como memória e símbolo da infância.

4.2. Na literatura universal

  • Cervantes: o moleiro é o contraponto realista do sonho quixotesco.
  • Daudet: o narrador-moleiro é o poeta da vida simples.
  • Eliot: o moleiro é o pai teimoso e digno, expressão do ciclo humano.
  • Storm e Verga: o moleiro é homem vencido pela natureza ou pela sociedade.
  • Müller: o aprendiz de moleiro encarna a pureza romântica e a dor amorosa.

5. Tabela Cronológica Comparada

(podes copiar esta tabela diretamente; o Word mantém o formato)

Século

Autor / Obra

Nacionalidade

Tipo de Moinho

Papel do Moleiro

Tom Dominante

XVII

Miguel de Cervantes – Don Quijote de la Mancha

🇪🇸

Vento

Implícito / simbólico

Satírico, idealista

XIX

Almeida Garrett – “O Moleiro de Santarém”

🇵🇹

Vento

Herói popular

Moral, popular

XIX

George Eliot – The Mill on the Floss

🇬🇧

Água

Pai protagonista

Trágico, realista

XIX

Guerra Junqueiro – “Os Moinhos”

🇵🇹

Vento

Coletivo / simbólico

Lírico, espiritual

XIX

Júlio Dinis – As Pupilas do Senhor Reitor

🇵🇹

Água

Figurante rural

Idílico, realista

XIX

Fialho de Almeida – “O Moinho”

🇵🇹

Água

Protagonista trágico

Naturalista

XIX

Alphonse Daudet – Lettres de mon moulin

🇫🇷

Vento

Narrador / poético

Nostálgico, humorístico

XIX

Giovanni Verga – “Il Mulino”

🇮🇹

Água

Protagonista

Trágico, verista

XIX

Theodor Storm – Der Schimmelreiter

🇩🇪

Maré

Engenheiro / simbólico

Fatalista

XIX

Wilhelm Müller – Die schöne Müllerin

🇩🇪

Água

Jovem aprendiz

Romântico, trágico

XX

Raul Brandão – Os Pescadores

🇵🇹

Maré

Figurante simbólico

Melancólico

XX

Miguel Torga – “O Moleiro”

🇵🇹

Água

Protagonista

Trágico, simbólico

XX

Tomaz de Figueiredo – “Os Moinhos da Maré”

🇵🇹

Maré

Protagonista

Contemplativo

XX

Sebastião da Gama – “O Moleiro do Mar”

🇵🇹

Maré

Poético / simbólico

Lírico

XX

Aquilino Ribeiro – Quando os Lobos Uivam

🇵🇹

Água

Secundário / simbólico

Social, resistente

XX

Vergílio Ferreira – Manhã Submersa

🇵🇹

Água

Evocativo / memória

Existencial, nostálgico


6. Conclusão

O moinho e o moleiro são símbolos universais do ciclo da vida e do esforço humano. O moinho gira movido por forças naturais — vento, água ou maré — tal como o homem se move pelo tempo e pela necessidade.

O moleiro, entre o engenho e a contemplação, é guardião da matéria e do espírito, figura de persistência, solidão e saber.

Na literatura portuguesa, o moinho é ao mesmo tempo cenário e metáfora: o labor humilde que se eleva à poesia.


Na literatura universal, torna-se símbolo da utopia e da luta humana — desde a ilusão quixotesca até ao fatalismo verista.

Em todos os casos, o moinho é mais do que uma máquina: é um espelho do destino humano, sempre a girar entre o esforço e a esperança.


7. Fontes e Referências Principais

7.1. Literatura Portuguesa

  • Almeida Garrett, Romanceiro (1843–1851)
  • Guerra Junqueiro, Os Simples (1892)
  • Júlio Dinis, As Pupilas do Senhor Reitor (1867)
  • Fialho de Almeida, Contos (c. 1890)
  • Raul Brandão, Os Pescadores (1923)
  • Miguel Torga, Contos da Montanha (1941)
  • Tomaz de Figueiredo, Contos Rústicos (1946)
  • Sebastião da Gama, Campo Aberto (1951)
  • Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam (1958)
  • Vergílio Ferreira, Manhã Submersa (1954)
  • Teófilo Braga, Contos e Lendas do Norte (séc. XIX)

7.2. Literatura Universal

  • Miguel de Cervantes, Don Quijote de la Mancha (1605–1615)
  • George Eliot, The Mill on the Floss (1860)
  • Alphonse Daudet, Lettres de mon moulin (1869)
  • Theodor Storm, Der Schimmelreiter (1888)
  • Giovanni Verga, Novelle rusticane (1883)
  • Wilhelm Müller, Die schöne Müllerin (1823)

8. Resumo Final

O moinho é o coração do mundo rural; o moleiro, a sua consciência.
Juntos, representam o movimento eterno do trabalho e do tempo, a luta do homem com os elementos e a beleza silenciosa do esforço humano transformado em literatura.

 

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(1) o Joaquim das Neves brincando com o seu cão, junto a um dos três moinhos de vento que se situavam junto à antiga pousada de São Brás de Alportel. Fotografia real, provavelmente do início dos anos 40 do século XX, gentilmente cedida pela família.

in https://www.facebook.com/photo/?fbid=10157935472252666&set=a.10156040118187666

 




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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)