sábado, 16 de fevereiro de 2008

De Luanda a Cambambe (1964)

* Victor Nogueira

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Saímos de Luanda às 4 horas da madrugada, tendo regressado às 22 horas. Passámos por Viana, Catete, Maria Teresa, Dondo, etc.) Almoçámos na cantina da barragem. No Dondo parámos. Fui à capela de lá.

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Atravessámos vários rios: Cuanza, Lucala e outros. Visitámos a barragem. As ruínas da antiga povoação estão cobertas de capim. (Diário 1962.06.17)

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Outra viagem - 7:40 - início da viagem Luanda, Catete, Dondo, Cambambe A mãe conta o filme “O Livro de Saint Michele”, de Axel Munthe.

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Às 8 horas parámos na estrada. Ouviam se os pássaros a chilrear. Ao km 44 a paisagem é a savana, com muitos arbustos. Predominam o capim e as mangueiras. O dia mantém se enevoado. Às 8:15 desapareceram as mangueiras e aparecem os imbondeiros e árvores candelabro. O capim encontra se queimado. A estrada, embora asfaltada, encontra se com muitos solavancos. Estamos a 5 km de Catete. Gosto de ver os imbondeiros ao longe. De quando em quando aparecem uns eucaliptos

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Estamos perto de Catete. Já se avistam sanzalas e bairros para indígenas. Paramos junto a um posto militar de controle. São cerca de 8:20 e a vegetação é rasteira. À beira da estrada e até ao horizonte não se avistam árvores. Passarinhos encontram se à beira nas linhas telefónicas, ao longo da estrada. Reaparecem os imbondeiros. Aparecem manchas verdes, não amarelecidas mas sim viçosas.

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Às 8:40 passamos por uma sanzala, onde há acácias, palmeiras e coqueiros. Na EN 3 há uma estância, de aspecto acolhedor, à venda. Passamos por um aquartelamento militar, onde há umas carteiras e quadro negro, sob uma árvore frondosa. A E.N. 3 é agora aos altos e baixos. Ultrapassámos um jipão militar, com reboque, no qual iam dois soldados armados com espingardas metralhadoras.

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Chegamos a Barraca às 8:50. Paramos numa patrulha militar. Pela 2ª vez perguntam nos se trazemos armas de fogo.

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Ao km 105 aparecem eucaliptos ao longo da estrada. Passamos por Maria Teresa, povoação pequena, cujos habitantes foram todos assassinados no fatídico mês de Março de 61. Vegetação exuberante.

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Ao km 113 há imbondeiros e precipícios. Ao km 126 (9:11) chegamos ao Zenza do Itombe e entramos no distrito de Cuanza Norte. Passamos pelo sítio onde matabichámos da última vez que fomos a Cambambe. A vegetação é luxuriante e há um pequeno rio temporário e imbondeiros. A linha férrea segue do lado esquerdo da Rodovia. Os frutos do imbondeiro fazem me lembrar ratos pendurados pelo rabo. Coqueiros.

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Os fios que transportam a energia das Mabubas a Luanda passaram para o nosso lado esquerdo. O sol continua encoberto.

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A 125 km do Dondo há uma sanzala. São 9:30. Passamos pelo Rio Lucala. O rio Mucoso [?] está seco. A paisagem é de outeiros e há bananeiras.

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Chegamos ao Dondo. São 9:45. À entrada há casas género bairro operário. Paramos no jardim, bem arranjado, e com uns bancos rústicos, candeeiros e um coreto, tudo com aspecto antigo, embora arranjado. Ao fundo uma rua, ladeada de casas antigas e árvores frondosas. Do lado esquerdo da praça, a igreja.

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A igreja de Cambambe (ou Dondo?) é modesta, sem estilo arquitectónico. À saída encontrámos o Ruca, filho da Beatriz. Está muito sério, a tropa modificou o fisionomicamente. O terreno agora é mais acidentado. Demos uma boleia a um tropa até Cambambe, onde chegámos às 10:20. Dentro de Cambambe há um bairro, com casas modernas e arvoredo. O terreno é acidentado e há uma pousada. Há um cinema, com bilhetes a 50$00, às 5ªs e domingos.

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Visitámos a barragem, cujas turbinas giram a 230 rotações por minuto. A 1ª fase da construção está concluída. O rio passa a um nível superior ao das turbinas. A água sai pelo descarregador com uma força impressionante, oferecendo um aspecto maravilhoso.

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Visitámos as ruínas da antiga povoação de Cambambe. Fomos até à ponte do Rio Cuanza. Almoçámos num restaurante duma estação de serviço FINA, a uns 8 km da povoação: bife com ovo estrelado... e batatas fritas.

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Às 14:45 demos início ao regresso a Luanda. No Dondo está sol. Na viagem de ida e volta a Luanda percorreram se cerca de 430 km. (Das notas manuscritas da viagem, 1964.06.14)

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)