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Peniche é uma terra de pescadores, pobre, sem monumentalidade. Situada num istmo, que outrora era uma ilha, é conhecida por ter albergado uma prisão política no regime fascista, donde se evadiram dirigentes comunistas como Dias Lourenço e Álvaro Cunhal. O actual Forte de Peniche, setecentista, é imponente. No seu interior uns edifícios brancos, recentes, albergavam as celas, agora visitáveis e constituindo um embrião dum museu da resistência ao fascismo. Para além deste existe um museu ligado ao mar, com despojos de naufrágios, conchas e rendas de Bilros, uma arte tradicional preservada pelo município, tal como sucede em Vila do Conde. No Forte existe também o Museu da resistência, pobre, com algumas celas, parlatório. Desenhos de Álvaro Cunhal e poemas e testemunhos escritos de outros presos.
..........De Peniche seguimos para o Cabo Carvoeiro, zona rochosa e alcantilada, com um farol e um Santuário, o da Nossa Senhora dos Remédios, ermida com interior azulejado e adro espaçoso. As rochas dispõem-se em estratos, inclinados, formando um efeito insólito. Do alto da penedia, lá em baixo, as traineiras parecem de brinquedo. Destacado, um penedo estratificado, conhecido como Nau dos Corvos.
O Santuário, erguido num descampado ventoso, é pobre, sem monumentalidade. Defronte, um terreiro, ladeado de casas, algumas das quais serviriam para albergar os peregrinos. Para a Igreja entra-se através dum pátio murado, interior, a um nível inferior. Ao longo do caminho para o santuário encontram-se as estações da via sacra.
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Baleal é uma praia e Atouguia da Baleia uma povoação com alguns monumentos, outrora porto, hoje assoreado. São nomes que lembram esses enormes cetáceos que ainda povoam os oceanos. Uma delas, não me recordo qual, andou pelos jornais aqui há uns anos devido a um serial killer português, salvo erro funcionário público, que por aqui assassinou quase toda a família. Outra povoação é Ferrel, afamada pela luta dos ecologistas contra a instalação duma central nuclear. Mas destas terras se falará adiante. (Notas de Viagem, 1997.07.07)
Consolação e Geraldes
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Passamos pela Consolação já de noite e dela recordo as casas modernas e um vasto terreiro, com a igreja matriz e cruzeiro e, defronte, um forte à beira mar.
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Geraldes é outra povoação por onde nos levam as deambulações nocturnas, onde se encontra a igreja de S. Sebastião e Santa Luzia, com painel de azulejos polícromo na fachada principal, representando os oragos, defronte a uma casa com escadaria exterior e varanda alpendrada. Perto, na rua do Castelo, uma casa acastelada, com ameias medievais, torre de menagem e guaritas setecentistas, ao estilo romântico da burguesia do século XIX. Nas paredes painéis de azulejos representam o milagre de D. Fuas Roupinho (Nazaré) e de santo António (?) falando aos lobos. Na mesma rua uma casa modesta tem um painel de azulejos relatando que ali nasceu o Dr. Frei João da Trindade, OFM, em homenagem prestada pelo povo da aldeia em 1944. Mais adiante, a caminho de Bernardino, uma igreja moderna.
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No lugar de Bernardino, do antigo convento, hoje reformatório de rapazes ligado à agricultura, apenas entrevejo a álea que conduz à igreja, arborizada e ladeada de nichos que outrora devem ter contido imagens, mas hoje têm vasos de flores. Do convento dão-nos notícia da existência do claustro primitivo. Perto um portão de quinta ostenta uma carranca. Da toponímia regista se as travessas dos Namorados e da Escola, o largo do Cruzeiro e a rua do Poço, com o dito à entrada.
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No lugar da Estrada existe um cruzeiro e poço, casas antigas e uma igreja moderna. (Notas de Viagem, 1998.02.23)
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)