quarta-feira, 2 de abril de 2008

Pela Serra do Bouro

Entrada da Concha de S. Martinho. Ao fundo, a Serra do Bouro


* Victor Nogueira
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Da Foz do Arelho, nas terras da Rainha, a S. Martinho do Porto, nas terras do Mosteiro de que foi granja, podemos seguir pelo cume da Serra do Bouro, cuja altitude é de apenas 162 m, sobranceiro ao mar, primeiro caracterizada por ser ventosa, com vegetação rasteira, inóspita, que vai dando lugar a arvoredo à medida que nos aproximamos de S. Martinho. Não obstante o deserto, na encosta norte até ao vale existem alguns casais, como o de Celão e o das Cidades, de ruas ingremes, estreitas e casas arruinadas. Alguns moinhos estão reconvertidos em residências. No Cabeço da Vela, à berma da estrada, uma enorme eira, reconstruida recentemente.


Numa povoação que um velho mal humorado me diz ser a da Serra do Bouro, registo nomes de ruas como a das Hortas, da Prata, do Loureiro, do Centro Social, do Chafariz e dos Quintais. Em Casal Celão reparo na rua dos Ribeiros. (Notas de Viagem, 1998.02.09 e 24)


Vagueando de noite pela serrra, deparamos com o que resta da estação do caminho de ferro, perdida num ermo, um barracão de madeira longe da povoação. Da estação resta apenas este fantasmagórico armazém, e no chão a marcação do edifício demolido e rosiras do jardim que outroras alindavam o local. Nesta existe uma pequena igreja branca, adjacente ao cemitério e a um coreto de betão armado, com coberto. (Notas de Viagem, 1998.02.24)



S. Martinho do Porto


Chove desalmadamente na noite em que vamos a S. Martinho do Porto, em baia conchiforme que figura num azulejo à entrada da povoação, em curva apertada onde não se pode parar o carro, pelo que sigo caminho. A chuva não convida a passeios pedestres e da povoação retenho as ruas molhadas, a iluminação, as casas ao longo da baia e outras pela encosta acima.


De dia noto quer os cabeços das colinas em volta estão cobertos de moinhos, muitos com ar de abandono. (Notas de Viagem, 1997.10.26)


Por acaso, doutra feita, sigo por uma rua acima e tenho uma surpresa agradável, pois vou ter ao centro antigo da povoação, que afinal não se resume à estrada marginal. Esta parte tem algumas parecenças com Aljubarrota, na brancura das casas e na estreiteza das ruas; num largo que pouco mais é que o alargamento duma rua encontra-se a incaracterística Igreja Paroquial de S. Martinho. Insólitamente, no altar mor, um enorme quadro representa S. Martinho ... e o seu cavalo branco! Nunca tal vira, a imagem dum animal no altar mor! Mais adiante, em direcção à baia, um fontenário amarelo, mandado construir no século XIX com o legado de José Bento da Silva, personagem que reaparece mais adiante, num aprazível largo sobranceiro ao mar.


O que há de notável nesta povoação, procurada pela burguesia para banhos, é o mostruário de variados estilos arquitectónicos, de várias épocas, que se encontram ao percorrer as suas ruas.


Prosseguindo a subida. em busca do pôr-do-sol, subimos ao Monte do Facho, algo inóspito, donde se avista a entrada da barra e, mais adiante, S. Martinho e Salir do Porto. (Notas de Viagem, 1998.02.09 e 24)


Salir do Porto


Foi esta povação porto de mar e estaleiro naval, até que o assoreamento da barra trasnferiu esta função para S. Martinho, povoação fronteira, que sofreu o mesmo destino sem que pudesse transferir aquelas funções. O mar já não vai terra adentro, até Alfeizerão e à Cela, e a concha de S.Martinho é alimentada por um modesto riacho que passa por entre as dunas de areia.


A povoação, que foi outrora importante e pertencia às terras da Rainha, hoje é mais modesta e à noite uma e outra refletem as suas luzes no negrume da escuridão. Um parque de campismo por entre as dunas, que me parece não ter condições, não constitui concorrência ao cosmopolitismo da povoação que lhe fica defronte.


Pelas ruas ingremes ascende-se a um pequeno largo ajardinado em escadaria, no topo do qual se situa uma bica. Mais para cima sobressai a brancura da Igreja, no topo duma pequena escadaria. (Notas de Viagem, 1998.02.09)

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)