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* Victor Nogueira
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4º Retrato do pessoal da pensão de Évora
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O silêncio que substituiu as discussões políticas à mesa após a partida da sra.D.Ilda e do sr.Marquês tem sido agora substituído por "importantíssimas" discussões entre o Diogo da Amareleja e o Victor [Dordio] do Cano sobre as altas percentagens de reprovações no Liceu e, sobretudo, como hoje, [por] questões automobilísticas. Enfim, se todos gostassem do mesmo era esta vida uma sensaboria, como diria a sabedoria popular. (MCG - 1972.06.30)
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O senhor Marquês escreveu me [de Aveiro], uma carta muito formal. Está bem. ([1]). Da Bia [de Safara] não há notícias; escrevi lhe meia dúzia de linhas pelo aniversário. O Diogo [de Santo Aleixo da Restauração] foi se embora sem dizer água vai nem a mim nem ao seu homónimo. O [da Amareleja] - agora mais sorridente e falador - fez hoje oral de Inglês [e passou com 13] (MCG - 1972.07.21)
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Sabes quem apareceu por Évora, hoje? O Aristides ! Vem fazer quatro exames, regressando aos Açores no fim de Outubro. Até lá será hóspede da D.Vitória, a quem pagará ... 50$00 diários. Safa! (MCG - 1972.09.29)
[1] - O senhor Marquês era um velhote, empregado bancário, que por problemas familiares que não recordo teve de ir para Aveiro. Na tertúlia da casa da D. Vitória era um pacato conversador, delicado, mas pouco sorridente, parceiro nas partidas de cartas. Fisicamente fazia lembrar o David Niven, embora sem bigodinho. Passado algum tempo soubemos que se suicidara.
Auto retrato IV
Aqui em casa novamente; a tua carta amiga e cordial diante de mim, Zorba no gira discos, uma vontade doida, que acordou esta manhã comigo, uma vontade doida de bailar até ao delírio para cansar sei lá o quê ... as tensões pela alegria e pela impossibilidade da tua presença ... Mas o importante és tu e a alegria ao pensar-te. Como ficaria ou me sentiria se aceitasses namoro ao Diogo? É parva, a miúda! Sei lá como ficaria ou me sentiria se isso acontecesse! Vê lá se queres que eu me estenda ali na cama a pensar no que sentiria se... Somos demasiado cautelosos para nos comprometermos e portanto somos livres de fazermos o que quisermos (ou pensamos ser o nosso querer); continuando com as nossas interessantes conversas sem nada de concreto, podendo dar lhe o significado que queiramos. Apenas sei dizer te que gosto da tua maneira de falar e de escrever - reflexo teu - e que sinto um enorme desejo da tua presença, do teu riso, do teu corpo, em suma, de ti. E sei também que a minha maneira de ser, a minha frieza e austeridade, se não permitem que eu viva tão intensamente como desejaria, também não me deixarão morrer. Eduquei me para nunca me entregar totalmente e deixar sempre assegurada a retirada. Esta é a única resposta que posso dar à tua questão hipotética. (MCG - 1972.07.06)
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Não sou leve, saltitante, alegre nem sempre consigo com uma risada responder ás questões. Sei que sou frequentemente chato, impertinente (sem o "savoir faire" social). Sei que és diferente de mim. (MCG - 1972.08.24)
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Dia de correio
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São 12:30. [Em Paço de Arcos] ouço o portão chiar e assomo à janela ... e não vejo ninguém (Algum miúdo que entrou e saiu, penso eu). Mas eis que batem com a aldraba na porta. Abro a e lá está o carteiro no gesto habitual, mão estendida com as cartas (hoje, apenas carta!) Cumprimentamo nos e agradecemos mutuamente. Fecho a porta. Regresso à sala de estar, pego na tesoura para abrir o sobrescrito, que resguarda as notícias da Celeste. "Olá, mocinho! Tenho apenas 21 anos dizem me (a idade das, de algumas liberdades consentidas) ... " e continuo numa surpresa crescente, como a quem se revela numa faceta até aí ignorada. Todo eu sou uma crescente surpresa estupefacta! Apago o gira discos - que transmite canções do Nelson Eddy. Estou agradavelmente surpreendido e preciso de concentrar me para perceber isto tudo, estas linhas inabituais. Volto ao princípio. Releio com os olhos, com a inteligência, com sofreguidão, com todo o meu ser, para aperceber me duma Celeste desconhecida. Surpreso, não tanto pelo conteúdo, mas pela forma, pela linguagem invulgar (nela). É verdade que há alguns "senãos". (Não me apercebi ainda, p.exemplo, que ela soubesse que existe uma "certa técnica" aprendida, de beijar). Continuo a ler e, repentinamente, tudo se desmorona, numa enorme decepção. "Não Victor, tens razão, o palavreado não é meu ... "
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Resta me pois saber como é a personagem dum conto de [Urbano] Tavares Rodrigues com quem te queres identificar. É uma curiosidade desenganada que fica em mim. (MCG – 1972.09.06)
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Daqui desta terra
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Aqui estou no meu quarto, buscando para ti as palavras que não encontro, corpo sem imaginação mas irritado e desassossegado pela constipação que me percorre as veias e me enche dum nervoso miudinho. Busco para ti as palavras dos outros, nos livros dos outros, os ponteiros aproximando se das nove e trinta, hora da vinda do homem que levará de mim as letras que cadenciadamente vão surgindo no papel branco que já não é só! Busco as palavras e apenas encontro estas, hoje vazio de ti pela tua ausência, ontem pleno pela nossa presença. São vinte e uma e vinte, hora de parar, os livros espalhados pela mesa, o corpo quebrado, a imaginação e a voz quase secas e frias. Daqui desta terra, para ti noutra terra, te abraço e beijo com ternura e amizade, na memória do tempo que fomos juntos. Aqui estou! (MCG - 1972.09.21)
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Desabafo
" ... mas palavra que fico desiludida quando pego na caneta para escrever te e saiem coisas tão diferentes das tuas (...) Somos tão diferentes! --- que ... a ver vamos!" (de MCG para o «mocinho» - 1972.10.03)
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8º Retrato do pessoal da pensão de Évora
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A propósito de miúdas, a D.Vitória desistiu da salinha de estar para as visitas importantes - agora é o seu quarto de dormir - por ter alugado o outro a três alunas do Magistério, altas como torres. Como é natural, há duas mesas - a dos senhores importantes (eu e o Diogo da Amareleja) ([1]) e a outra. Ah!Ah!Ah! (MCG - 1972.12.04)
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Já almocei. Isto agora come se mal p'ra burras. Como comerão o Diogo [de Santo Aleixo da Restauração] e as miúdas na cozinha? (MCG - 1973.01.10)
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Disse me a D.Vitória que a "menina" Celeste telefonara. (Ah! este tratamento!) Não sei se haveria "festinha familiar" [pelo meu 27 º aniversário], mas sabes como as não aprecio por nada me dizerem. Jantar fora e chegar de madrugada foi um pretexto para malográ la e, simultaneamente, estar com amigos. (MCG - 1973.01.06)
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É sem grande prazer que daqui a pouco vou até ao café perder mais tempo. Aborrece me, no entanto, este enorme quarto, vazio de pessoas. A casa da D.Vitória, por motivos óbvios, não oferece condições para convívio. E este ano é o fim. O Diogo [da Amareleja] passa a vida fora de casa. As miúdas, enfiadas no quarto. De resto as nossas relações agora estão muito desagradáveis para mim. Como não sou tipo de salão e como as condições de convívio são praticamente nulas, limito me ás minhas secas e distantes saudações, a que nem sequer correspondem. Mas já antes disso passavam pela sala [vindas da cozinha], quais bichos do mato, sem nos saudarem. (...) Ouço subir as escadas. A propósito, sabes que estas miúdas não vêm cá acima senão duas a duas !? Que reles! Imaginar me ão e ao Diogo ali atrás da porta de olhos brilhantes e respiração opressa prontos a "saltarmos-lhes ao espinhaço", como se diz na gíria?! Já o sr. Prates não se enfia no quarto dele sem dar duas voltas à chave! Ah! Ah! Ah! ([2]) (...) Daqui a pouco vou sair - à chuva, ao vento, desafiando as intempéries e o furor das divindades - para meter esta presença de mim no marco do correio. (MCG - 1973.01.16)
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Ali na sacada a Eglantina - com os seus longos cabelos louros e os bonitos olhos verdes - secava aqueles enquanto estudava Geografia Económica. (...) A Vi aprimaverou se no vestuário mas eu é que não abandono a gabardina enquanto não vierem melhores dias. ([3]) (MCG - 1973.03.22)
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O Orlando faz hoje anos. Deve haver festinha. Reprovou na Escola e anda ouvindo discursos por causa disso há tanto tempo que já estou enjoado(....) A Vi. faz exame depois de amanhã. (...) [O Orlando] deu me alguns dos desenhos dele (que eu podia ficar com todos os que quisesse). Vai sendo altura de mudar a decoração do meu quarto. O rapazinho agora pediu me trabalho - não tem nada que fazer - de modo que desde sábado que me anda em arrumações aqui no quarto - ordenou me revistas, separou me jornais e amanhã vou comprar umas folhas de cartão para fazer cadernos para arquivar a papelada e revistas. (MCG - 1973.06.17 B)
[1] - Desde sempre e por princípio os rapazes, cada um com seu quarto e pagando mais por isso, e as pessoas empregadas e mais velhas comiam na sala, que dava para a cozinha, onde comiam as alunas do Magistério, que compartilhavam o(s) respectivo(s) quartos, pagando individualmente menos de pensão. Na cozinha comiam também a hospedeira e família.
[2] - Nunca nenhum dos rapazes fechara a porta do respectivo quarto á chave!
[3] - O esquentador a gás encontrava se dentro da casa de banho, cuja janela dava para um telhado sem vistas indiscretas. Contudo, ao contrário dos rapazes, as raparigas cerravam sempre a janela, o que era perigoso quando os banhos se sucediam uns aos outros sem que se arejasse o aposento. De modo que algumas vezes lá havia uma miúda com princípio de intoxicação por monóxido de carbono. À Vi deu lhe forte e feio. Alertado pela barulheira no quarto ao lado da casa de banho e do meu, lá fui, encontrando a D. Vitória muito aflita tentando desatar o cordel que cerrava o postigo, para poder abrir a porta por dentro. Lá fui buscar uma tesoura ou canivete, cortei o cordel, abriu se a porta e, oh! céus, estava a Vi inconsciente no lajedo e como Deus a pusera ao mundo. Mandei que chamassem uma ambulância e entretanto fiz-lhe a respiração boca a boca. Entretanto chegara a ambulância e a D. Vitória, escandalizada com a nudez, queria à viva força que se levantasse a mulher, ainda inconsciente, para vestir-lhe um roupão, antes de metê-la na maca. Irritado, disse à D. Vitória que aquilo era o menos importante, pois com tanta delonga ainda a rapariga morria. Oh! Deus, o que fui eu dizer! A Vi levanta-se num repente, descendo as escadas completamente nua, a caminho da ambulância pelo seu pé e bramando: Não quero morrer! Não quero morrer!
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Já uns anos antes acontecera o mesmo a outra rapariga, a Linda, a quem tive também de fazer a respiração boca a boca. Mas essa não precisou de ir ao hospital
Uma troca justa
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Estou a escrever lentamente por dois motivos, o principal dos quais é o facto desta nova carga da esferográfica ser extra fina, e portanto pouco deslizante pelo papel. (...) Fiz um negócio com o Camilo e trocámos as cargas das canetas. Sem dúvida alguma ambos lucrámos; ele porque escreve mais palavras por linha, eu porque escrevo mais por minuto. Estas cartas, escritas ao sabor do tempo e das ocasiões, lidas posteriormente, devem mostrar o seu verdadeiro valor, isto é, nenhum. (MCG -- 1973.01.22)
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Interrogativamente
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Telefonei te, porque desejava falar contigo, ouvir te, acalmar a contrariedade. De lá veio a tua voz tímida, pequenina e depois ... depois o silêncio, o "não percebo o que queres dizer", o "então deixa me." Mas eu não queria magoar te, apagar o teu sorriso bom e alegre, de salta pocinhas que amo, no silêncio do meu quarto, e que perco tantas vezes. Parece me importante que as pessoas ajam com inteligência, procurando dominar os acontecimentos e as palavras e não serem dominados por eles. E não é isso que me está sucedendo. Mas queria te também mais senhora de ti, lutando pelo que te diz algo. Daí as pedras que semeio ou em que por vezes transformo aquilo em que toco. De ti saberei apenas que esperas de mim amizade e compreensão (e talvez também ternura) Seremos capazes de dar isso um ao outro? Que é realmente importante? A nossa relação só tem razão de ser se for fonte de liberdade e alegria, para nós e para quem nos rodeia. Que não se transforme em pesadas cadeias pantanosas. Seremos nós capazes disso ? Estará certo o nosso caminho ? Seremos ambos capazes de reconhecê-lo ?
A resposta busca-se no presente que me desagrada, sem saber em quem, onde e como encontrá la ! E no entanto pareceria tudo tão fácil, amiga. Soubesse eu mais de ti. Fosse eu menos impaciente !
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Somos nós e não só eu quem deverá decidir do futuro da nossa relação. (MCG - 1973.04.08)
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O apartado 65
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O Apartado 65 ([1]) pede me para dizer te que tem sentido muito a tua falta e que se sente muito sozinhito (como diria o João Machado); ele bem gostaria de dar me o contentamento das tuas notícias, e para isso bem se mantém alerta e vigilante, numa expectativa gorada sempre que se ouvem os passos do carteiro e o acender da luz. Mas é quase tudo ali p'ró lado, p'ró 63, que por sinal até é uma agência de casamentos muito falada nos pequenos anúncios do Diário de Notícias! Coitadinho, eu bem lhe digo que se não preocupe por ter a mala vazia quando lá vou, mas que queres, fica sempre triste por não me contentar. Digo lhe que os negócios do 63 são outros, que ali o 65 é mais para outros negócios, de coração ou não, mas ele não se convence. Lá o deixo meditabundo, mas diz me lá. C., que mais lhe hei de eu dizer? Ás vezes torno lá à tarde, para fazê lo apanhar uma lufada de ar fresco, mas ele mostra me logo que não! Vês, C., vês o que fazes? Habituaste lo mal e agora ...
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Sim, que o desconsolo dele acaba por ser contagioso. (MCG - 1973.04.12).
[1] - Sempre tive apartado em Lisboa, enquanto estudante, e em Évora, até de lá sair. Dava-me liberdade de mudar de quarto quando tivesse de acontecer ou de reexpedir a correspondência, quando em férias. Em Lisboa o apartado ficava na Estação dos CTT da Praça do Comércio, perto dos Paços do Concelho e era, salvo erro, o 2354.
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Comigo, aqui na mesa encarnada do Arcada, após o jantar, a minha mãe e o Jorge, que trabalha como ajudante de carpinteiro, vencendo uma jorna de 70 $ 00. Em Setúbal ganharia 120 $ 00, mas os pais prendem no aqui no burgo [Évora] (...) O Camilo e o Carlos não apareceram por aqui. O Jorge está aqui com uma conversa muito adulta, apesar dos seus dezasseis anos. Ele agora está atrapalhado. Por causa da minha mãe passou a tratar me por "Senhor Victor" e por "vocemecê" [abandonando o "Victor" e o "tu"] (...) Perguntei ao Jorge se queria escrever qualquer coisa [para ti, nesta carta], mas ele não quer, pois diz que parece mal a letra dele ao pé da minha de doutor. ([1] ) (MCG - 1973.12.06)
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[1] - Ao arrumar papelada, encontrei um texto que ele dactilografara na minha velha Olivetti Lettera 2000: a primeira parte é um conto, escrito com piada embora com muitos erros ortográficos. É demasiado longo para esta nota de rodapé. Na segunda parte escreveu: "1. - O senhore Vitor Nogeira 'e muito meu amigo e axo que ele tambem gosta de mim | eu pelo menos gosto dele | as coizas que eo gosto de fazera! | gosto de escrever a maquina | gosto de houvir discos | gosto de ler livros | 2. - (gosto muito dos meus pais foram eles que me quriaram;" Ainda hoje me comovo com este escrito, especialmente com a segunda parte.
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(...) Daqui a pouco vou sair - à chuva, ao vento, desafiando as intempéries e o furor das divindades - para meter esta presença de mim no marco do correio. (MCG - 1973.01.16)
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Uma ida ao correio
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O harém do Carlos
O Carlos faz hoje 24 anos, mas preferiu o harém dele a mim e ao Camilo. O nosso jantar fica para amanhã. (MCG - 1973.06.17)
Está tudo dito: é um sentimental
Disse ao Carlos que ia casar a 1 de Agosto. Ele ficou tão comovido, tão comovido, que até me deu vontade de rir. 'Tadinho dele. Depois disse‑lhe que tínhamos acabado tudo, e ele ficou tão triste, tão triste, que nem imaginas. Está tudo dito: é um sentimental! Se ouvisses os elogios que ele te fez, que nós estávamos talhadinhos um para o outro, blá, blá. De modo que tive pena dele e disse‑lhe que sim senhor, que íamos casar a 1 de Agosto. (MCG - 1973.06.26)
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O 1º emprego, a tempo inteiro
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Estava eu já todo porreiro da vida, de saco aviado, prestes a partir para Lisboa, quando telefonei ao [Aníbal] Queiroga, como combinado. Assim, tive de adiar a viagem e estou aqui na Escola Industrial de Évora há quase 2 horas, primeiro aguardando que chegasse o Presidente da Comissão de Gestão e agora que S.Exa se digne terminar o despacho com o Chefe de Secretaria (…)
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Não sei bem se isto que está em mim é "nervoso" ou ... gripe. Os dados estão lançados e vou para Évora dar aulas na Escola Industrial. O Dr.Pimentel queria que me apresentasse ao serviço já na 3ª feira, a mim convinha me na 4ª e acabou por ficar para 5ª! Vamos lá ver como isto corre. Hoje e amanhã tenho de preparar a lição. Ah!Ah!Ah! (isto é para disfarçar a morte que me vai na alma). Francamente, não me seduz ser professor de meninos! Mas ... podia ser pior! (MCG – 1974.12.02)
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Já hoje me deram o horário ("o senhor doutor para aqui", "o senhor doutor para acolá" - deixarei de ser o Victor contestatário ?), ([1]) fizeram me as recomendações ("isenção, nada de transformar as aulas em comícios", "CDS não, mas PPD para a esquerda, sim, mas não extrema esquerda" informaram me do ambiente político (predomina a UEC, há divergências entre os alunos de dia e de noite, por causa da Associação de Estudantes); enfim, eis me apanhado pela engrenagem. ([2]). Tenho 29 1/2 horas semanais de aulas (não sei quanto será ao fim do mês) ([3]) e um horário muito sobrecarregado (a maioria das aulas à tarde, 3 à noite, nenhuma ao sábado e 2ª de manhã - "Assim o sr. dr. pode ir para Lisboa". ) Tenho alunos - rapazes e raparigas - desde os 13 aos 30 anos. A maioria entre os 14 aos 19. Só à 3ª tenho aulas ás 9 da manhã. (...) Cá recebi hoje no apartado a tua carta cheia de "bons" conselhos (Como se aturar adolescentes e dar "Introdução à Política" for o mesmo que aturar ingénuas criancinhas!) De qualquer modo, obrigadinho. (MCG - 1974.12.05)
[1] - No princípio este tratamento por senhor doutor incomodava-me deveras. Agora já me habituei e por vezes faz jeito, embora goste mais de ser apenas o Victor Nogueira. Estudante, na casa da D. Vitória era apenas o Victor ou o senhor Nogueira
[2] - Centro Democrático e Social, Partido Popular Democrático
[3] - Recebi anteontem o vencimento; apenas as horas normais, a 60 $ 00 (Não recebi os 4 primeiros dias). Creio que o meu vencimento líquido são 6 700 $ 00, aos quais serão de acrescentar as horas extraordinárias, pagas ... a um preço inferior ás normais! Ah!Ah!Ah! Isto é que o Estado é um bom patrão! As extraordinárias devem ser aí mais uns 1 800 $ 00 a 2 100 $ 00. Quanto a 13º mês ... só para o ano. (MCG - 1974.12.21)
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)