* Victor Nogueira
.
Aliás este nosso relacionamento na Capital do Antigo Empório não faz para mim qualquer sentido. Como disse, não sei o que és nem qual o teu futuro profissional (1). Estando na mesma terra, não estou interessado em "conviver" contigo apenas depois das vinte horas. Não estou interessado em jantar ou em andar sozinho, convivendo apenas com quem tu queres ou autorizas. (2) Não estou para jantar contigo "fora" apenas quando se proporciona e muito menos por sistema. Gosto de comer em casa e não gosto de andar sempre na rua e aprecio estar na minha casa, no meu canto, sobretudo á noite, lendo, escrevendo, ouvindo música, convivendo ... Não estou para ter "namoros" policiados. (3) Não os tive aos 25 anos, no tempo do fascismo, muito menos os terei em "democracia" aos cinquenta. Vivendo na mesma terra, não estou para que durante a semana esteja cada um para seu lado, no seu "quartinho". (4) Não estou para viver em "quartinhos", alugados ou não, e não tenho dinheiro para ter uma casa de habitação à beira Sado e outra em Portucale ou noutra terra. (5) Não estou para "fins de semana" e "férias" encurtadas, por compromissos "profissionais" em duas urbes distintas, que arranjaste livremente. (6) Não estou para não me sentir bem comigo mesmo. Não estou para deixar de cultivar as minhas amizades. Não estou para deixar de ser quem sou, naquilo que considero positivo. Que temos pois para "dar" um ao outro, «Capuchinho Vermelho»?
.
Como está e com as suas características e perspectivas de futuro, esta não é para mim uma relação sustentável. Não vejo que mudanças haverá e quais elas sejam. A continuar assim, para isto, prefiro continuar sozinho. O tempo dirá pois se o nosso futuro é de paz, liberdade, serenidade e confiança mútuas! O tempo dirá do futuro e da qualidade da nossa relação; isso depende também de ti. No entanto, por muito que aprecie certos aspectos da tua companhia e personalidade, por muito que sinta por vezes a tua falta, não mudo em nada daquilo que considero essencial. Nem te exijo a ti que o faças!
.
Não te escrevi um poema. Não te escrevi uma carta poética. Escrevi-te simplesmente. E as minhas mãos estão vazias e o caminho á minha frente não existe; existe apenas o instante á frente do meu nariz e para além dele névoa e sombras. Nada mais do que isso, onde nasce o desencanto pela vida e pelas pessoas. (7) Não quero magoar-te, mas sinto-me tão cansado que gostaria que fossemos apenas amigos. Para serenidade de ambos. ( 8)
.
Porque sou teu amigo e gosto de ti. Mas não .gosto que me magoem nem, de magoar os outros. Nem gosto dos teus destemperos e do modo como (re) ajes perante determinadas situações. Eu procuro a paz, a compreensão e o que me liga aos outros; tu não conheces senão a guerrilha intermitente.
___________________
1 - Aliás, não percebo que futuro queres. Não sei se alguma vez puseste anúncios para arranjares emprego com a habilitação profissional que dizes ser a tua - não vieram publicados nos dias que disseste, na linha dos teus "azares" - nem sei se alguma vez respondeste a algum nesse sentido. O que sei é que afirmando tu que não queres continuar nessa situação de "dama de companhia", também andas há cerca de quatro meses (!) para pores um anúncio para arranjares emprego de acordo com a especialidade profissional que dizes ser a tua, com o argumento de que - oh ! céus - não tens tempo. Quando o terás ? Dizes me que tiveste para ir trabalhar para a Figueira ou para as Caldas, que estiveste em Lisboa, aqui ou acolá ! Se és o que dizes ser, então (re) faz a tua vida, segue em frente! Se não és, então (re) faz a tua vida e segue também em frente. Mas neste caso não creio que seja nas margens do Rio que corre para Norte, onde me parece terias dificuldade em justificar a tua passagem a "dama de companhia" ou "empregada de balcão". Talvez por isso me dizes que mesmo que vivêssemos juntos, estarias a semana inteira à beira Doiro, não irias e virias todos dias, "por ser cansativo". Não te prendas nem te "justifiques" comigo.
.
2 - As pessoas não devem ser possessivas. Cada um de nós tem as suas qualidades e os seus defeitos, que se ajustam ou não. Não podemos é pensar que cada um de nós preenche todas as expectativas e todos os requisitos. Uma panela de pressão sem válvula de segurança é potencialmente explosiva e destrutiva. Uma coisa é as pessoas compartilharem aquilo que é comum, outra é quererem "policiar" tudo, com exigências exclusivistas. Num casal, o exigível, para mim, é a lealdade, a verdade, a confiança, respeito e solidariedade mútuas, a cooperação. E além disso deve deixar-se a cada um a liberdade das suas recordações, da sua memória, dos seus (outros) afectos e simpatias. Há um tempo e um lugar para tudo e para todos na vida, que para mim tu tens matado ao longo destes anos, com os teus ciúmes descabidos, os teus destemperos, as tuas exigências de exclusivismo e posse, os teus "mistérios". Não "ando" com esta e com aquela! Não ando pois a saltitar entre ti e as outras ou "aproveitando" as ocasiões". Estou contigo e com mais ninguém enquanto estiver contigo e não te disser o contrário. Mas tu não entendes isto. Não concluas daí que eu sou o bom e tu a má da fita. O que sucede é que não nos temos ajustado e cada um de nós não tem correspondido ás expectativas que trazia em si relativamente ao outro.
.
3 - Aliás já passamos a fase da simples amizade ou do namoro, mas também não somos "companheiros" de vida em comum, mas apenas de fim de semana (24 a 36 horas por semana)
.
4 - Não deixa de ser interessante notar que sendo tu tão "exageradamente" demonstrativa do teu afecto e amor por mim - ele são beijos, abraços e "amores" - qualquer que seja o local mais ou menos público e frequentado onde nos encontremos, és demasiado "reservada" quando estamos com José. Porquê esta diferença de comportamentos? Afinal, de facto, é como se vivesses comigo. É evidente para os meus filhos, para os meus pais, para os meus vizinhos. Porquê então este "recato" e estes "quartinhos" separados - um na Má Hora, outro na Tapada , face ao sr. José? Ou tudo isto faz parte dum jogo teu a ver se "amoleço" e me "esqueço" do que há para esclarecer entre nós ou do que nos tem separado?
.
5 - "Censuras me" porque não ia ter contigo quando tinhas casa na Margem Sul à beira Douro. Ora a verdade é que durante esse tempo os teus ciúmes e, sobretudo, o teu mau relacionamento com o Pelágio que anda na Lua e a Natasha não o justificavam. Mas mesmo que fosse tudo ouro sobre azul na nossa relação - e não era - tinha e tenho obrigação de assistir e acompanhar as minhas crias, adolescentes (as crias são da mulher mas também do homem). Nunca entendeste isto, embora quisesses que eu entendesse e aceitasse com naturalidade que em contrapartida tinhas obrigação de olhar pelas tuas, bem adultas e de barba rija. Por outro lado "estranhas" porque não ia á tua casa ,como se fosse natural que a frequentasse, apesar da nossa relação íntima, em "amena" convivência e cavaqueira com ... o teu marido, embora há anos o fosse apenas ... no papel! O que ficou falado, incluindo com a Lena, foi que lhe darias a parte dele, ficando tu com a vossa casa. Não foi isto que acabou por suceder, mas por isso não sou responsável. Estando tu a tratar do divórcio, era óbvio que terias de "negociar" a saída do teu ex-companheiro. Nada disto sucedeu.
.
Como posso então ser eu responsável pela situação em que te encontras presentemente, "dama de companhia" num "quartinho" na margem direita Doirada, como pretendes? E depois, durante a semana, estando ambos aí, que me propões durante a semana senão estar contigo até de madrugada aí pelas ruas ou dentro do carro, faça sol, frio, chuva ou calor, indo depois cada um para o seu "quartinho", abraçado á almofada e tu olhando para a minha fotografia?!
.
6 - Não passaste comigo o Verão de 1996 porque estávamos de candeias ás avessas e tu com os meus filhos, não passaste comigo as "pontes" e feriados do Natal porque estavas comprometida com o sr. José não passaste comigo a "ponte" do Carnaval de 97 pelo mesmo motivo. E será isto durante quanto tempo? Porque não posso estar com outrem quando tu não podes estar comigo?
.
Não estou em "cativeiro", aguardando a tua "liberdade" e disponibilidades de tempo! Não posso ajudar uma pessoa amiga, enquanto estás na casa dos teus filhos a arrumá-la. Não posso encontrar-me ou falar com outrem, enquanto estás "ocupada" com o sr. José ou com outros "compromissos". Tive uma "ponte" no Carnaval, mas passei-a estupidamente à beira-Sado, para evitar mais "chatices" contigo. E agora na Páscoa de 97, há mais uma "ponte" estragada. Tu não tens feriados, nem tardes, nem fins de semana completos nessa tua "profissão". E aos fins de semana estás ocupada com outras tarefas «inexistentes» e (pre-) ocupada com teus "miúdos". Programei as coisas para estarmos juntos esta Páscoa. Programei as coisas , mas tu só percebes da tua "guerrilha" e só vês a tua infelicidade e agravos. Queres um cãozinho e um capacho, mas isso é o que não sou para quem quer que seja. Porque se estivesse disposto a sê lo, então seria tudo ouro sobre azul e tu estarias, parece me, nas tuas sete quintas.
.
7 -. Disto fala um outro poema meu: "Notícias do Bloqueio II" (Mu(n)do Phonographo: inFELICIDADE)
8 - Os teus ciúmes, o teu mau relacionamento latente com os meus filhos, a tua vinda para a margem direita Doirada nos termos em que se verificou, o sempre adiado esclarecimento sobre a tua verdadeira habilitação e futuro profissionais, tudo isto são obstáculos / indicativos para que o nosso relacionamento não deva subsistir senão ao nível da amizade, para felicidade de ambos. A atitude dos teus filhos para contigo e para com a nossa relação, aliados aos "inacreditáveis" destemperos do teu Menino d'Oiro, descambando em descabidos insultos e ameaças para comigo, de modo algum abonam a favor do futuro da nossa relação noutra base que não seja a da amizade. Não fui eu que criei estas situações. Para solidão e separações na família já chegam a que trago comigo e existem na minha família. Como diz o Sérgio Godinho, numa das suas canções, "P'ra melhor, está bem, está bem, p'ra pior, já basta assim"
ADENDA
.
Toda a Série «Entre Adão e Eva» é puro romance inventado e qualquer semelhança com factos ou personagens reais é pura coincidência.
.
Victor Nogueira
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)