quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Entre Adão e Eva (8)

Quadro - Dürer, Albrecht Adam and Eve. 1507
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* Victor Nogueira
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Continuando, desde logo um primeiro facto nos começou a separar: os teus ciúmes descabidos, a tua tentativa de me quereres impor a escolha das minhas amizades, todas elas anteriores ao nosso relacionamento mais íntimo, a tua tentativa de controlares a minha memória, os meus sentimentos e o meu passado, como se fossem um livro que duma penada rasgavas e deitavas ao caixote do lixo, ao sabor da tua insegurança, imaginação, conveniência e humores. (1)

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1 - A minha terra é Angola/Luanda; está longe, já não é a mesma e não sei se alguma vez lá voltarei. Por outro lado, já estive ou andei por muitas terras, já conheci muita gente, já tive e perdi muitos amigos porque o tempo, os lugares, a vida (ou a morte) e a política dificultaram ou cortaram a convivência. Gostaria que a vida fosse um eterno presente, com todos os lugares e todos os amigos ali sempre ao alcance da vista, da mão e da voz. Mas nada disto acontece e tu nada entendes da minha vida e sentir, porque és como és. Há pelo menos três poemas meus que "falam" disto: "Elegia pela minha família dispersa", "Raízes" e "Obrigado".

(...)

Nota que nessa altura, "andando" já comigo, tu, Capuchinho Vermelho, falavas me dos teus amigos, dos seus telefonemas, dos "flirts" que te faziam á mesa do bingo, acompanhada pela Leandra e que não rejeitavas, sem que eu te fizesse reparos, enquanto simultânea e possessivamente querias que eu rasgasse escritos, fotografias e pusesse termo ás minhas amizades e relacionamentos. As cenas e os teus "sofrimentos" por causa duma amiga minha, a quem pretendias partir a cara e cujas fotografias, anteriores ao nosso relacionamento íntimo, furtaste de minha casa abusando da minha confiança, e as tuas afirmações descabidas sobre o pretenso facto dela ser uma prostituta (1), de acordo com as tuas "investigações", só não puseram termo á nossa relação porque entendi que estavas psicologicamente perturbada e porque era teu amigo - e os amigos sempre "desculpam alguma coisinha".

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1 - Como outras duas, em teu entender, não passariam de malucas, que me deveriam desamparar a loja. Aliás tu dizes e desdizes com a maior das naturalidades: hoje fizeste "investigações", amanhã já dizes que não; hoje dizes que não "furtaste" as fotografias e ficas "indignada" e a seguir dizes que o fizeste por brincadeira, ontem dizias que me andaste a seguir de táxi, amanhã afirmarás que não fizeste nada disso! Hoje dizes que apareceram dois "amigos" que te convidaram para jantar e para os "fados", a seguir dirás que não foi bem assim, antes pelo contrário. Ontem, telefonaste para um amigo nas Caldas ou no Diabo a Sete para encontrar te com ele, a seguir é tudo invenção minha. As tuas parecem canhestras histórias do capuchinho e do lobo!

(...)

No contexto em que surgem estas "fábulas", tudo isto seria risível, Capuchinho Vermelho, se não fossem para mim duma imensa "tristeza" quando não enfado! É que, não te fazendo eu cenas destas, por muitíssimo menos tens me tu "chagado" a cabeça e a (boa) disposição. Que tenhas amigos, homens e mulheres, é natural. Que procures cultivar as tuas amizades, nada tem de censurável, do meu ponto de vista. Não tenho e muito menos faço cenas de ciúmes, ao contrário do que possas pensar dos meus comentários ou "brincadeiras"-resposta ás tuas "seriedades" por vezes disparatadas. Qualquer acto de convivência social com as minhas amigas, como um telefonema, uma qualquer ida ao cinema, ao restaurante ou, muito raramente, a casa de qualquer delas era e continua a ser para ti um acto condenável, na tua mente e nas tuas palavras acabando quase sempre na cama (e porque não no banco do carro?) em verdadeira "orgia". (1) Francamente Capuchinho Vermelho, isto é base para uma vida feliz e tranquila? (2) Não estou disposto a vidas duplas nem a descabidas cenas de ciúmes que infernizem a vida de quem quer que seja. (3)

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1 - Já nem telefonemas posso receber no dia dos meus anos!

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2 - Como te disse tenho mais amigas do que amigos, e a maioria deles já vêm de longe. São amizades que nuns casos já têm cerca de 40 anos, noutros apenas sete ou oito. São na esmagadora maioria amizades anteriores ao meu casamento ou posteriores ao meu divórcio, porque as amizades do casamento "foram-se" com o divórcio. Não tenho qualquer problema em apresentar-te ás minhas amigas, se e quando entender oportuno e conveniente. Mas não tenho que fazê-lo face aos teus descabidos ciúmes, "exigências" de rompimento de amizades de décadas, nalguns casos, ou com ameaças de escândalo ou de "pancadaria". Não és tu mas sim eu e mais ninguém quem decide das minhas amizades. Por exemplo, gosto de ajudar e ser prestável para com as pessoas. Sou amigo dos meus amigos! O que tu não aceitas ou mal entendes.

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3 - Disse e repito - há muitas pessoas casadas que convivem umas com as outras, sem que disso dêem cavaco à outra metade ou que esta faça dramas por tal motivo. É uma questão de "educação" e princípios de vida. Agora há homens e mulheres que efectivamente só pensam nas mulheres em termos de "perna aberta" e nos homens em termos de "boi de cobrição". Não é o meu caso nem o da maioria das mulheres com que me tenho relacionado ao nível da amizade. Mas isto não consegues tu aceitar e compreender. Como se durante os longos anos em que fomos apenas amigos ou conhecidos, em que andaste comigo sozinha no carro ou sozinhos estivemos nos teus gabinetes, eu alguma vez tivesse - como é que se diz ? Ah! ... como se alguma vez eu tivesse tentado faltar-te ao respeito! É assim que se diz em certos meios, não é, Capuchinho Vermelho?

(...)

Mas entretanto, como se não bastassem os teus descabelados ciúmes, um segundo facto veio agravar a situação. Quem me conhece sabe que condicionei a minha vida e carreira profissional, os meus fins de semana e as minhas férias e o tempo das férias escolares para poder acompanhar os meus filhos, tal como quotidianamente o fiz na vigência do meu matrimónio com a mãe deles. (1)

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1 - É natural que conheça os meus filhos melhor do que tu e assim como sempre lhes fiz ver que a mãe deles tinha o direito de (re) fazer a sua vida com outro homem (isto foi oportunamente falado entre nós os três), também eles sempre foram compreensivos e estiveram abertos a que (re) fizesse a minha vida com uma mulher que me fizesse feliz e que, obviamente, fosse amiga deles. Eles não levantaram qualquer objecção á nossa relação, até que, a partir de certa altura e claramente, lhes deste a entender que os querias escorraçar da minha vida. Foste tu e não eles que iniciaram uma guerra cujo termo é exclusivamente da tua responsabilidade se estivesses verdadeiramente interessada na persistência da nossa relação. Não são eles que te fazem guerra; és tu que a fazes, especialmente contra a Natasha, que pessoalmente e durante anos nunca te ofendeu, agrediu ou maltratou. Como aliás o Pelágio com a Cabeça na Lua, que apenas reagiu com um aviso face ao facto de estares sempre acintosamente contra a irmã dele.

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Aliás estas letras têm sido escritas ao (es) correr do tempo e, noutra vertente, posso acrescentar que um dias destes voltaste novamente aos teus ciúmes, agora com pretensas viagens de taxi por ti feitas atrás de mim para controlares as minhas "voltas" e "convivências". (1) Simultaneamente, continuaste as tuas canhestras e cansativas tentativas de provocar-me ciúmes, com “misteriosos” telefonemas que te fazem ou fazes, para além de almoços, jantares e “passeatas”.

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1 - E dizes tu que já estás curada" dos teus ciúmes. Por eles seria eu o responsável, em teu entender pela minha falta de "naturalidade", no meu entender tal sucede apenas pela tua falta de confiança em mim e em ti.
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ADENDA

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Toda a Série «Entre Adão e Eva» é puro romance inventado e qualquer semelhança com factos ou personagens reais é pura coincidência.

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Victor Nogueira

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1 comentário:

  1. Olá Victor, bom dia meu querido Amigo. Há quanto tempo não apareço!
    Vejo como era de calcular, que não serei jamais capaz de por a leitura em dia!!!
    Mesmo assim, deixo-te um beijo, vou ler o que der e voltarei sempre que for possível.

    Maria Mamede

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)