sábado, 25 de julho de 2009

Em Évora no Verão e a Reforma Agrária

* Victor Nogueira
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Querida Mãe

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Então, como vão essa saúde e disposição? Cá por Évora um calor infernal e falta de água: na maioria do tempo os canos deitam apenas ar. Enfim, vai ser um lindo verão. Também esta casa [Rua de Sepa Pinto, junto à Praça do Giraldo] é muito quente á tarde, contrariamente á outra [Quinta de Santa Caratina, fora das muralhas]. A tartaruga, como vai? Um aluno da Celeste, por sinal chamado Victor, deu lhe bichos da seda. Aquilo são piores que marabuntas ou piranhas: passam o tempo a devorar folhas de amoreira. Estão ali numa tampa duma caixa de sapatos.

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O meu curso já foi considerado habilitação para o ensino técnico (7º grupo e ciências sociais). Nada sei sobre o estágio (abertura).

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A Celeste lá vai andando, bem como o mini, que deve nascer lá com a força do calor. O rádio transmite canções sobre o campo, a música "revolucionária" que o tempo permite. "Ceifa, ceifeira, ceifa, enche o celeiro da cooperativa". A reforma agrária vai andando. Há problemas por causa da vigilância das searas, receando se que os agrários e seus lacaios lhes lancem fogo. Isto para além de problemas que surgem devido á falta de silos para armazenagem dos cereais, de máquinas para a ceifa (pelo que o trabalho terá que ser feito á mão) e de crédito para os trabalhos do próximo ano. Enfim, é preciso coragem e determinação.

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Tinha aí umas fotografias antigas para enviar mas não sei onde a Celeste as arrumou, pelo que não posso mandá las ainda desta vez.

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E o tio Zé como vai? Já mais animado? Diz á Teresa e á Isabel que as fotografias só devem estar reveladas lá para o fim desta semana.

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Um abraço amigo do VM

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Évora, 1 Junho 76

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PS. Uma vez que venhas a Évora e se tiveres possibilidade poderias emprestar nos uma das ventoinhas. OK?

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)