por Victor Nogueira a Terça-feira, 27 de Setembro de 2011 às 20:06
* Victor Nogueira
[Para a raposinha]
Sorriste e
na tua voz
os pássaros vieram de longe
pensando que era madrugada!
1992.03.10
Setúbal
Um dia tu virás
Enchendo o ar de coralegria
E o meu riso terá a cor do mar
Liberto em tua cantoria
Um dia tu virás
E sentirei a tua pele macia
O ardor do teu andar
Com nenhuma apatia
Um dia tu virás
E os dias cheios de fantasia
Como água a navegar
Preso na magia
Um dia tu virás
E seremos um rio ao luar
ave desperta
rosa aberta
No calor do teu olhar
Um dia tu virás
Um dia ...
Setúbal, 1989.11.06
7. E João Bimbelo caminhava pelos caminhos da vida em busca de coisa nenhuma. Pensava nela por vezes com uma grande ternura e acordava no silêncio da madrugada com um desejo sufocante do ouvir o seu sorriso, ver a sua voz, sentir a carícia do seu corpo de mulher apetecida. Mas os seus dedos e os seus lábios não a encontravam e a madrugada era um poço sem fundo e o tempo cada vez mais curto.
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Nas suas longas caminhadas João por vezes entrevia uma janela aberta, uma porta mal fechada, uma luz para além da curva da estrada. E o coração de João vestia-se com os melhores fatos e o seu andar tornava-se leve e fresco e as palavras eram um rio a cantar. Mas era tudo uma ilusão, porque a imaginação dos homens não tem limites e os gestos e as palavras ora são límpidos como cristal translúcido, ora um cristal multifacetado, ora um espelho baço de mil imagens e sons, mesmo se adornado com as cores do arco íris.
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E João procurava Aquela Cujo Nome Se Não Desvenda, volúvel como o vento, contrastante como o dia é da noite sem luar, e perante o seu silêncio e as suas fugas em redondel, ficava João sem norte como navio no mar alto em dia de tempestade, como frágil pardal de asas cortadas sem nada de águia altaneira, como cana agitada pela mais leve brisa sem a solidez do roble centenário. Estados de alma que se não perdoam a guerreiros vestidos com suas armaduras que nunca devem despir, mesmo se cansados da guerra, mesmo quando perdidos ou cavalgando no meio das quentes areias do deserto (porque os cavaleiros não andam pelos gelados desertos polares).
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E João procurava de novo pôr a máscara, erguer as muralhas, tapar as fendas e os interstícios nela abertos por onde entravam em golfadas crescentes a fragilidade, o desamparo e a tristeza que afogam o coração mesmo dos mais fortes se não mudarem de rumo em busca de portos e marés onde os dias sejam tudo menos uma noite cinzenta, fria, triste e sem esperança.
A VIDA É VARIADO GOSTO E DESGOSTO
Com boa fala ou coração calado,
A vida é um correr bom ou mau tempo,
Triste, ledo, colorido ou cinzento,
Dos outros próximo ou apartado.
Com ou sem casa, bem ou mal amado,
Macho, fêmea, trazem seu sentimento
Do mundo ser ou não um bom momento,
No quotidiano com diferente rendilhado.
É crer nervos crispados suavizar;
Leda ou triste, a dor desta jornada
Em florido peito acalmar, a rir.
Tal é a vida, sendo o respirar
Do viajeiro, com sua passada,
Tenção p'ro horizonte se atingir.
AMOR BREVE OU SERENO
Amor rompante
de repente
ou deslizante
Amor quente bem se sente
escaldante ou suavizante
envolvente comoção
Amor paixão
amor de Verão
que dura
perdura
o instante dum clarão
breve (n)a escuridão
Amor de inverno
amor de inferno
temporão
Amor que dura
perdura
o da tua mão
o da razão
temperando o coração
OU NÃO ?!
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)