sábado, 2 de março de 2013

Eros e Afrodite 01 - RIMANCE DE JOAO BAPTTSTA

por Victor Nogueira a Sábado, 2 de Março de 2013 às 0:40


RIMANCE DE JOAO BAPTTSTA



Andando João Baptista

Mal descansado da guerra

Caminhava pela pista

Do mar ao cume da serra,



Bem ao longe avistou

Um Paço no horizonte;

Pela ponte atravessou

Chegando ao cimo do monte.



Viu uma bela Princesa

Que na fonte se banhava,

Por ela ficando acesa

A flama que incendiava,



    - Que fazeis aqui senhora

    Dona da pele morena?

    A noite será cantora

    Se vossa mão for serena.



    - Por alguém vim em caminho

    Com muitas naus voando

    Mas não ficarei sozinho

    Se convosco for ficando.



Ouçam qual foi a resposta

Calmosa, doce, brilhante,

Sem temor de lua posta,

Precioso diamante.



    - Num crescendo de calor

    Nesta fonte mergulhada

    Por vós espero, senhor

    Não me deixeis assombrada.



    - Belo é vosso cavalgar

    Vosso desejo um espanto

    Vinde comigo arrulhar

    Alegre, mas sem quebranto.



E com esta fala doce

Se prendeu o cavaleiro

Contente como se fosse

Um artista, jardineiro.



    - Andando me fui chegando

    Para convosco encantar

    E ao ver-vos nesse encanto

    Passo a descansar.



    - Pois vosso olhar é botão

    Em busca do sol e do mar;

    Sereís bela sem senão

    Vinde comigo bailar.



    - E convosco bailo a noite

    Dedilhando esta guitarra

    Não há quem não se afoite

    Vendo a fruta sem a parra.



 Da fala ficou suspenso

 Um punhal no coração

 Com olhar lembrando imenso

 0 vale da solidão,



 Veio o gesto finalmente

 Negro de rosa dourado

 Rosmaninho com semente

 Em seu rosto acobreado,



 Cem mil águias voaram

 Mais, seguidas dum faisão

 E com leveza abalaram

 Silentes que nem trovão.



     - Convosco não bailo eu

     Bem gosto da liberdade,

     Ide-vos embora, oh! meu,

     Sou presa da soledade.



 Com esta fala malina

 A pensar ficou João.

 Era uma fala felina

 D'ensombrar o coração,



 Dez mil pássaros em viagem

 Sem nada no horizonte,

 Fechada aquela portagem

 Como arvore sem ponte,



     - Sinhá moça, a vida é jogo

     Sabemos nós muito bem;

     Ele há fumo sem fogo

     Sempre que tal nos convém.




 Como era belo seu sorriso

 D'encantar o navegar!

 À Princesa achou preciso

 Ver de novo seu falar.



     - Como tu desejas ficam

     Estrelas no meu olhar:

     Doçuras, beijos que picam,

     A brisa e o marulhar,



 Com esta fala ficou

 A Infanta GabrieLa,

 Um pintarroxo voou

 P’ra lá do castelo dela.





1991.06.19 (2)


SETUBAL

 
Botticelli ~~~ O nascimento de Vénus
 

 
 

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