RIMANCE DE JOAO BAPTTSTA
Andando João Baptista
Mal descansado da guerra
Caminhava pela pista
Do mar ao cume da serra,
Bem ao longe avistou
Um Paço no horizonte;
Pela ponte atravessou
Chegando ao cimo do monte.
Viu uma bela Princesa
Que na fonte se banhava,
Por ela ficando acesa
A flama que incendiava,
- Que fazeis aqui senhora
Dona da pele morena?
A noite será cantora
Se vossa mão for serena.
- Por alguém vim em caminho
Com muitas naus voando
Mas não ficarei sozinho
Se convosco for ficando.
Ouçam qual foi a resposta
Calmosa, doce, brilhante,
Sem temor de lua posta,
Precioso diamante.
- Num crescendo de calor
Nesta fonte mergulhada
Por vós espero, senhor
Não me deixeis assombrada.
- Belo é vosso cavalgar
Vosso desejo um espanto
Vinde comigo arrulhar
Alegre, mas sem quebranto.
E com esta fala doce
Se prendeu o cavaleiro
Contente como se fosse
Um artista, jardineiro.
- Andando me fui chegando
Para convosco encantar
E ao ver-vos nesse encanto
Passo a descansar.
- Pois vosso olhar é botão
Em busca do sol e do mar;
Sereís bela sem senão
Vinde comigo bailar.
- E convosco bailo a noite
Dedilhando esta guitarra
Não há quem não se afoite
Vendo a fruta sem a parra.
Da fala ficou suspenso
Um punhal no coração
Com olhar lembrando imenso
0 vale da solidão,
Veio o gesto finalmente
Negro de rosa dourado
Rosmaninho com semente
Em seu rosto acobreado,
Cem mil águias voaram
Mais, seguidas dum faisão
E com leveza abalaram
Silentes que nem trovão.
- Convosco não bailo eu
Bem gosto da liberdade,
Ide-vos embora, oh! meu,
Sou presa da soledade.
Com esta fala malina
A pensar ficou João.
Era uma fala felina
D'ensombrar o coração,
Dez mil pássaros em viagem
Sem nada no horizonte,
Fechada aquela portagem
Como arvore sem ponte,
- Sinhá moça, a vida é jogo
Sabemos nós muito bem;
Ele há fumo sem fogo
Sempre que tal nos convém.
Como era belo seu sorriso
D'encantar o navegar!
À Princesa achou preciso
Ver de novo seu falar.
- Como tu desejas ficam
Estrelas no meu olhar:
Doçuras, beijos que picam,
A brisa e o marulhar,
Com esta fala ficou
A Infanta GabrieLa,
Um pintarroxo voou
P’ra lá do castelo dela.
1991.06.19 (2)
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