sábado, 4 de maio de 2013

por alcobaça 01


de Victor Nogueira (Notas) - Sábado, 4 de Maio de 2013 às 1:23




*1.      - Alcobaça
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Visitamos Alcobaça, onde chegamos já de noite, com uma chuva miudinha que cai continuamente. É uma vila simpática onde se destaca a fachada comprida do respectivo mosteiro, da Ordem de Cister, situado destacadamente na Praça 25 de Abril: uma Igreja ao centro, dum amarelo rendilhado, exuberante, contrastando com a horizontalidade branca e ascética dos dois corpos laterais. Corpos que nas outras fachadas estão escurecidos e degradados, resultado das "conservações" para turista ver. O Mosteiro, considerado Património Mundial desde 1989, não é esmagadora e massivamente impositivo à povoação circundante, como o de Mafra. A Praça está ajardinada e num dos passeios de calçada à portuguesa figuram, oh! céus, os signos do Zodíaco. Num recanto umas carroças miniaturais com toldo, presumivelmente bancas do mercado que de dia ali terá lugar. Por aqui existem muitas lojas de louça artesanal da região e não só, com uma característica peculiar: na fachada, mas não ao alcance das mãos, louça-mostruário em exposição. Mas, para lá chegar, só de escadote, o que está manifestamente fora de questão.
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Foram poderosos os frades da Ordem, dona das ricas terras agrícolas (coutos) em redor e dos seus habitantes, do interior até ao mar. A vila é alegre, de casas com traça antiga, cuidadas, havendo muitas para alugar, poucas arruinadas. Apesar de ser noite e da chuva, as ruas e os cafés estão cheios de gente e parece que estes têm freguesias distintas: os jovens, as pessoas bem vestidas... Porque por lá passamos, fico a saber que a povoação é atravessada por dois rios que lhe dão o nome: Alcoa e Baça, que aqui originam o Alcobaça. (1) O Alcoa é atravessado por uma pequena ponte e nas suas margens ouve se o marulhar das águas correndo por entre dois paredões que lhe estreitam o leito. As casas têm varandas e janelas debruçadas sobre o rio e de noite poder se-ia imaginar que se trataria de Veneza, opinião de quem a conhece apenas de filmes, como em  ouMorte em Veneza, de Visconti.
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No rio Baça, no centro da povoação, vê se a roda duma antiga azenha, que já não é movida pelo correr das águas, cujo edifício agora é ocupado por uma loja de electrodomésticos, a TELE RIO.
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Com tudo fechado pouco mais há para ver e a chuva não convida a mais. Entramos na sede de campanha da CDU, a única aberta, onde um candidato independente nos faz o balanço da situação e nos oferece uma ginjinha e bolos. Perto situa-se o Largo D.Afonso Henriques onde, no 3º domingo de cada mês, se realiza uma Feira de Velharias e Coleccionismo. Na praça da República, que comunica com o largo anterior através de dois arcos, realizava se outrora o mercado do peixe.
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Daqui, por força duma placa, partimos em busca do castelo, que será miradouro deslumbrante sobre a povoação e o seu mosteiro; não sonhava que tal fortificação existisse, mas dela nesta noite não encontrámos rasto, salvo a Rua do... Castelo. Difícil seria encontrá lo, como soube posteriormente, pois sucessivos terramotos o destruíram. Mas deu para percorrer as ruas dos arredores, ladeadas de simpáticas vivendas, para além de quintas. (2) (Notas de Viagem, 1997.10.25)
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Nos arredores, ao passar pela estrada, a nossa atenção é desperta para muitos carros estacionados e movimento, junto a um estendal de barracas e luz, mas sem música. Trata se da Feira de S. Simão ou das Tasquinhas: no exterior uma série de tendas com exposição de frutos e bolos secos e, dentro dum barracão pomposamente denominado "Pavilhão das Exposições", protegidas das intempéries, duas correntezas de "tendinhas" com a gastronomia local, "exploradas" por várias entidades e associações: comes, bebes e doçarias das freguesias de Aljubarrota. Ao fundo, um palco com cadeiras defronte, onde em cada noite tocam grupos musicais tradicionais de cada uma das freguesias. (Notas de Viagem, 1997.10.31)
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Para além de descobrir o castelo, como se refere em nota de rodapé anterior, visitamos a igreja do Mosteiro, cujas portas estão inopinadamente abertas. É um choque a visão daquela nave branca, ladeada duma florestade colunas, elevando se para os céus. De cada lado antes do altar mor, maravilho me com os túmulos góticos de D. Inês e D.Pedro I, finamente lavrados, cujas estátuas jacentes estão suspensas por anjos. As arcas tumulares assentam em leões (D. Pedro) e em pessoas que me parecem monges ou nobres (D. Inês) e cada uma delas conta em quadros (baixo relevo), respectivamente e por um lado, a vida e morte de Cristo, e por outro a vida de S. Bartolomeu e dos dois amantes(Notas de Viagem 1997.12.08)
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Numa nova visita passamos para além da igreja do mosteiro, passeando pelos claustros e pela sala do capítulo, defronte da qual existe um lavabo. Visitámos a sala dos reis, com estátuas de todos eles até determinada altura, para além duma série de peanhas vazias, talvez porque entretanto não tivessem concluído a estatuária por extinção das ordens religiosas; inexplicavelmente, do D. Manuel I salta para o D. José, sendo apeanha da filha deste, vazia, mais larga que as restantes. Reparámos na floreada porta para a sacristia, tomámos consciência da vastidão do dormitório, do refeitório (com o seu púlpito encrastado na parede) e da cozinha, na qual passa um braço do rio Alcoa e onde antigamente se guardaria o peixe vivinho da costa antes de passar aos caldeirões. Na sala dos reis, que foi panteão real, até transferirem os túmulos para outra sala, existe um painel de azulejos que pretende contar uma história, afinal inventada, relacionada com a coroação de D. Afonso Henriques, pelo papa e pelo fundador da ordem de Cister! As arcas tumulares daqui transferidas têm menos riqueza decorativa que as de D. Pedro e D. Inês.
(Notas de Viagem,
1998.02.21)
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2.  Aljubarrota
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A batalha chamada de Aljubarrota foi travada em S. Jorge e o Mosteiro comemorativo da vitória das hostes portuguesas foi construído na Batalha: Santa Maria da Vitória. Aljubarrota é uma vila pequena, de cuidadas casas brancas e ruas estreitas, ali mesmo ao lado da Estrada Nacional onde desliza o trânsito veloz e ruidoso. Já foi sede de município, como o demonstra o pelourinho defronte ao antigo edifício da Câmara. Parece uma vila alentejana e esta parecença talvez provenha da presença dos árabes há longos séculos. Presença atestada por topónimos como Aljubarrota, Alcobaça, Alvaiázere, Aljustrel, Alpedriz, Alfeizerão... e outros que facilmente se encontram no mapa. Aliás os topónimos Nazaré e Fátima terão nos árabes a sua origem remota.
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Em abono da parecença com as povoações alentejanas está o facto dos quintais das casas darem para ruelas mais modestas, muradas, de piso em saibro. Há dois largos principais, aquele onde se situam o pelourinho, a torre da antiga Câmara, o antigo celeiro (hoje venda de artesanato), a igreja matriz e o edifício dum centro comercial onde se reúnem os jovens, barulhentos, e o Largo da Igreja (de S. Vicente). Esta igreja, modesta, com uma torre manuelina, tem dois túmulos no exterior, defronte da fachada principal. É insólita a existência destas duas arcas tumulares, qualquer delas com caveira e duas tíbias cruzadas. Insólita porque os enterramentos nas igrejas se faziam no seu interior, sob o lajedo ou em arcas tumulares em capelas próprias ou nas criptas, até que as reformas do século XIX os proibiram, o que deu então origem a levantamentos populares como os que são descritos em A Morgadinha dos Canaviais, de Júlio Dinis.
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Mas voltando ao Largo da Igreja, este situa-se num dos termos da vila, com casas de um ou dois pisos, uma delas alpendrada, um cruzeiro, árvores, bancos e dois bebedoiros de pedra lavrada. Parece um largo de aldeia, com o cri cri dos grilos abafado pela passagem veloz dos carros na estrada que liga Alcobaça à Batalha. Neste largo, já noite adiantada, procuramos saber da vila junto de dois homens que conversam a uma esquina e que se revelam ser o pároco, pessoa simples envolta num amplo cachecol que lhe tapa meia cara até aos olhos, e outro o "senhor doutor", enfatuado, com William Beckford sempre na ponta da língua em citação. (1)
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A propósito de personagens, afinal ia ficando de fora um terceiro largo, o da Padeira de Aljubarrota, de sua graça Brites de Almeida, a tal que matou vários soldados castelhanos, sendo lembrada por uma estátua moderna, de metal, enquanto na parede duma das casas estão colocados vários painéis de azulejos naif. Outro filho desta terra é Eugénio dos Santos, um dos arquitectos reconstrutores da Lisboa pombalina após o terramoto de 1755.
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No outro termo da vila encontra-se uma terceira igreja, com portal românico, no Largo da N.Sra. dos Prazeres, onde teria estado D. Nuno Álvares Pereira por alturas da batalha de Aljubarrota. No Largo destaca-se uma casa com varanda de alpendre e com escadaria exterior. O cruzeiro não está em local destacado, como é habitual, mas sim encostado à torre sineira.
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Muitas das ruas pelos seus nomes poderiam contar histórias: rua da Igreja, dos Capitaes, da Misericórdia, do Matadouro, do Pinheiro, das Terras, para além do Largo do Terreiro e das travessas dos Namorados e do Rio da Bica.
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Já fora da vila, à beira da estrada, no Terreiro de D. Maria, surge inopinadamente um cruzeiro carcomido, com uma caveira sob duas tíbias em cruz, como nas arcas tumulares de que atrás falei. sem que se vislumbre qualquer igreja ou capela nas cercanias. Mistérios que não são quebrados por breve visita nocturna. Esclareço depois que neste sítio se enforcavam os supliciados. (Notas de Viagem, 1997.10.31)
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1 - Este William Beckford foi um viajante inglês um pouco cáustico que esteve em Portugal em 1794 e escreveu Recollections of an Excursion to the Monasteries of Alcobaça and Batalha, numa tradução de 1914 que o doutor enfatuado considerava de má qualidade, preferindo outra recentemente publicada.

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3. - Batalha

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          De Fátima fomos à Batalha, ver o Mosteiro. Lembro me das Capelas Imperfeitas, de quando cá estive em 49/50. Gostei bastante de ver o Mosteiro, que é de calcário. Vi os claustros, a Sala do Capítulo, onde se encontra o Túmulo do Soldado Desconhecido. É proibido dar donativos naquela sala, mas os visitantes metiam nos no bolso do sentinela que lá estava perfilada. Vimos a sala de 14/18, mas à pressa. Eu gosto de ver as coisas calmamente.
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A Igreja é estilo gótico, o mesmo da Sé do Porto (1). Vi a sala do fundador, com os túmulos de D. João I, D. Filipa, D. Henrique e outros. Vi também a campa do soldado que salvou a vida de D. João I na Batalha de Aljubarrota. Todo o mosteiro é bonito. (1963.09.02 - Diário III)
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Passo novamente na Batalha, numa noite escura e chuvosa. Estaciono o carro junto a uma das fachadas laterais do mosteiro, classificado como Património Mundial, aquela onde se situa uma estátua equestre que suponho seja de D. Nuno Álvares Pereira. A pedra calcária tem o seu amarelo realçado pela iluminação, que faz sobressair o seu rendilhado. O sossego e o êxtase são contudo quebrados pela forte iluminação circundante e pelo perpassar veloz dos carros na antiga Estrada Nacional nº 1, ali perto.
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Passeamos pela vila e paramos junto ao portal manuelino da Igreja Matriz ou da Exaltação de Santa Cruz, no Largo da Misericórdia, cujo portal é de Mestre  Boitaca, o mesmo que construiu o Convento de Jesus em Setúbal. Mais adiante, junto a uma discoteca, há muito movimento juvenil ocupando as ruas como se nada mais existisse.
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Nesta terra nasceu Mouzinho de Albuquerque, herói das guerras de ocupação em Moçambique e personagem principal dum filme português: Aqui d'El Rey(Notas de Viagem, 1997.11.01)
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1 - Mas é que não há qualquer semelhança. (Nota - 1996)

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Foto Victor Nogueira - Mosteiro de Alcobaça (Panteão Real)

Foto Victor Nogueira - Fachada lateral do Mosteiro de Alcobaça
Foto JLNS - alcobaça 1967 agosto 20
Foto Victor Nogueira - alcobaça 1967 agosto 20

Foto JLNS - na Batalha
Foto JLNS - na Batalha
Foto MENS - na Batalha
Foto JLNS - na Batalha
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)