sexta-feira, 13 de junho de 2014

NO RIMANCE A QUADRILHA


* Victor Nogueira

NO RIMANCE A QUADRILHA

Pelo areal extenso
cavalgava o conde niño
com olhar nela suspenso
de cuore pequenino

Em praia ondas morriam
e as gaivotas planavam
os lábios por ti sorriam
tritões, sereias, voavam.

Era refulgente o mar
movendo-se ondulante
e assim ao navegar
o calor estonteante.

De rimance eram as quadras
que brotavam no vergel
bem sinceras, não malandras,
rebrilhando no papel

Mil personagens surgiam
os truões e as princesas
que archotes incendiam
mantendo a chama acesa

Saltitavam os pardais
bem alto se viam águias
doce suspiro com ais
hosanas e aleluias.

De fontes e ribeyras
alvo manto verde neve
brancas nuvens e fagueiras
tecendo letras, com verve.

A brisa, ar sussurrante
ondeava seu cabelo
o sorriso espampanante
'prisionava, um anelo.

De santos vive, embora,
com arquinhos e balões
sapateando esporas
no terreiro, foliões.

É Pedro, João, Antoninho,
sardinhas, vinho, pastel;
sem sentinelas caminho
com a pena e o papel.

Pulam, saltam, namoricos,
não se queimam na fogueira,
Dão-se mãos, pobres ou ricos,
em torno da laranjeira.

Voando beijos roubados
com olhos que bem rebrilham
nos corações salteados
verdouram ares que trilham.

Esvaiu-se o rimance
o Conde Niño em terra;
no bailarico a chance,
noutro chão o pé de guerra.

Não há donzela no monte
nos versos e na parelha,
nem sinhá no horizonte,
apenas sezões, abelha!

Paço de Arcos 2014.06.13

quadro - Antônio Parreiras (1869-1937) - Fim de romance (1912)

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)