sábado, 25 de outubro de 2014

se deslumbrara em pirilampos

* Victor Nogueira

se deslumbrara em pirilampos como mil  sóis rendilhados, desde que desvirgulara a vida em til-sóis, sem pontos nem comas 

paço de arcos 2014 10.25

fazer upload fotos entre eros e afrodite 32 - cartas a penélope 18 - Se desumbigara da cama quando a lua se deitava


* Victor Nogueira (texto e fotos)

“Há inúmeros lugares onde um ser humano se pode perder, mas não há nenhum tão complexo como uma biblioteca. Mesmo um livro solitário é um local capaz de nos fazer errar, capaz de nos fazer perder. Era nisto que eu pensava enquanto me sentava no sótão entre tantos livros.” (Afonso Cruz, Os Livros que devoraram o meu pai: a estranha e mágica história de Vivaldo Bonfim)



Se desumbigara da cama quando a lua se deitava e desmandara-se para atrás. Encomboiara povoandando manhã cedinho, ainda o sol não fumegava, as linhas se abrindo na frente do trem incessantemente fugando do horizonte em ponto infindo, enquanto para trás este parecia serpente ondeando em oscilações, embalando em tricotagem, tricotagem, tricotagem ... Na viagem relativamente longa foi calando o tempo mergulhando folha a folha na tessitura dum livro, por entre ruas empalavradas umas a seguir às outras, quando não parava ao virar duma frase. Então o coração lhe mordia em fogo lento, uma ardência, pois não sabia se no fim encontraria apenas o desamor dela, sofridoramente, A merengava em pensamentos cravoandando pelas núvens brancas, por vezes trançadas de lágrimas, os olhos cetinando o corpo da armada desamada. Sentado no banco divaguava o seu desejo, aguardando o ensejo. Assim voandando ia vogandando nos trilhos sem atilhos, o pensamento vadiando ancorado a ela, entre o lume e o espeto.

As árvores perpassavam rápidas ao olhar e reparava que têm raízes e por isso não voam como as gaivotas; quanto muito sem a leveza das aves podem perdurar séculos ou milénios, estáticas, mais ou menos desencarnadas e desgarrando para o céu, como se fossem sequoias, oliveiras ou imbondeiros.

A encontrou bem em pé no cais, seu somriso, finos trilhos ao canto dos olhos, a voz rendilhada o envolvendo em todos os poros e cavidades ou interstícios, o repuxando para ela. Como rio correndo para a concha do mar. Os gestos represados eram uma torrente desvirgulada em crisálida  e a esperança  uma caleidoscópica nave aberta à imensidão dos dias e ao silêncio das noites e ao estralejar dos sentidos, sem muros nem barreiras na cidadela prenhe de desaperturas.


paço de arcos 2014.10.24



se desomemdificou
pois não se desmulherengava
apenas merengava com os olhos
pelas ruas divaguando
e na cama a fama
não se descamava
nem desencravava
carvoando
e assim se perdirruavam
pendirruados


paço de arcos 2014.10.24




com embaraço não dás o braço
o abraço ou o beijo
sem ensejo
e
emrodilhas o desejo
enrodilhado
estilhaçados os brocados


setúbal 2014.10.18




nos teus poemas
em floreado bailado
alado
partilhas as sapatilhas
sem atilhos
atalhas
em atalhos
para toda a gente
e
ninguém
no cais
fenecem os marinheiros

setúbal 2014.10.18

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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Se desumbigara da cama quando a lua se deitava

* Victor Nogueira

“Há inúmeros lugares onde um ser humano se pode perder, mas não há nenhum tão complexo como uma biblioteca. Mesmo um livro solitário é um local capaz de nos fazer errar, capaz de nos fazer perder. Era nisto que eu pensava enquanto me sentava no sótão entre tantos livros.” (Afonso Cruz, Os Livros que devoraram o meu pai: a estranha e mágica história de Vivaldo Bonfim)

Se desumbigara da cama quando a lua se deitava e desmandara-se para atrás. Encomboiara povoandando manhã cedinho, ainda o sol não fumegava, as linhas se abrindo na frente do trem incessantemente fugando do horizonte em ponto infindo, enquanto para trás este parecia serpente ondeando em oscilações. Na viagem relativamente longa foi calando o tempo mergulhando folha a folha na tessitura dum livro, por entre ruas empalavradas umas a seguir às outras, quando não parava ao virar duma frase. Então o coração lhe mordia em fogo lento, uma ardência, pois não sabia se no fim encontraria apenas o desamor dela, sofridormente, A merengava em pensamentos cravoandando pelas núvens brancas, por vezes trançadas de lágrimas, os olhos cetinando o corpo da armada desamada. Sentado no banco divaguava o seu desejo, aguardando o ensejo. Assim voandando ia vogandando nos trilhos sem atilhos, o pensamento vadiando ancorado a ela, entre o lume e o espeto.

As árvores perpassavam rápidas ao olhar e reparava que têm raízes e por isso não voam como as gaivotas; quanto muito sem a leveza das aves podem perdurar séculos ou milénios, estáticas, mais ou menos desencarnadas e desgarrando para o céu, como se fossem sequoias, oliveiras ou imbondeiros.

A encontrou bem em pé no cais, seu somriso, finos trilhos ao canto dos olhos, a voz rendilhada o envolvendo em todos os poros e cavidades ou interstícios, o repuxando para ela. Como rio correndo para a concha do mar. Os gestos represados eram uma torrente desvirgulada em crisálida  e a esperança  uma caleidoscópica nave aberta à imensidão dos dias e ao silêncio das noites e dos sentidos, sem muros nem barreiras na cidadela prenhe de desaperturas.


paço de arcos 2014.10.24

Emcomboiara povoandando manhã cedinho,

* Victor Nogueira

Emcomboiara povoandando manhã cedinho, as linhas se abrindo na frente do trem enquanto para trás este parecia serpente ondeando em oscilações. O coração lhe mordia em fogo lento, uma ardência, pois não sabia se no fim encontraria apenas o desamor dela, sofridormente, A merengava em pensamentos cravoandando pelas núvens brancas, por vezes trançadas de lágrimas, os olhos cetinando o corpo da armada desamada. Sentado no banco divaguava o seu desejo, aguardando o ensejo. Assim ia vogandando nos trilhos sem atilhos.
A encontrou bem em pé no cais, seu somriso finos trilhos ao canto dos olhos, a voz rendilhada o envolvendo em todos os poros e cavidades, o repuxando para ela. Como rio correndo para o mar.
paço de arcos 2014.10.24

se desomendificou

* Victor Nogueira

se desomendificou
pois não se desmulherendava
apenas merengava com os olhos
pelas ruas  divaguando

e na cama a fama
não se descamava
nem desencravava
carvoando

e assim se perdirruavam
pendirruados

paço de arcos 2014.10.24

sábado, 18 de outubro de 2014

com embaraço não dás o braço

* Victor Nogueira

com embaraço não dás o braço
o abraço ou o beijo

sem ensejo
e
em rodilhas o desejo
enrodilhado

estilhaçados os brocados

setúbal 2014.10.18



nos teus poemas

* Victor Nogueira

nos teus poemas
em floreado bailado
alado
partilhas as sapatilhas

sem atilhos
atalhas
em atalhos
para toda a gente
e
ninguém

no cais
fenecem os marinheiros

setúbal 2014.10.18


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

as palavras que me escreves

* Victor Nogueira

1.
as palavras que me escreves
bem leves
são bonitas e catitas.
2.
pequeninas e boninas
as sensações que descreves
um enleio que cativa
3.
são sonhos que entretecem
4.
criam laços e abraços
5.
mas ...
as palavras que me escreves
não são para mim
6.
o que nos descreves
são meras efabulações
aflições
jogos de palavras
em vai-vém de sensações
livre de prisões
7.
e lassos se desfazem
os laços
aos baraços
8.
o desejo
sem ensejo

setúbal 2014.10.17

dois textos de maria eugénia cunhal

* Victor Nogueira
- Sou também aquilo que faço e não apenas aquilo que digo (V. Nogueira).

De Maria Eugénia Cunhal já partilhara alguma poesia, que pode ser encontrada no meu blog D'Ali e D'Aqui. (http://daliedaqui.blogspot.pt/2010/02/quinta-feira-junho-14-2007-eugenia.html). Estou agora a ler um livro de crónicas do quotidiano por ela publicadas no jornal de A Voz do Operário, intitulado "Escrita de esferográfica". Textos breves, comoventes, de alguém atento ao Outro/a  e solidário com ele/ela. Crónicas breves mas que nos levam a reflectir para além da espuma dos dias. Dentre elas, partilho duas, numa reflexão que poderia ser feita por qualquer de nós em relação à (des)humanidade que nos cerca. Como escreveu Eugénio de Andrade

Diremos prado bosque
primavera,
e tudo o que dissermos
é só para dizermos
que fomos jovens

Diremos mãe amor
um barco,
e só diremos
que nada há
para levar ao coração

Diremos terra mar
ou madressilva,
mas sem música no sangue
serão palavras só,
e só palavras, o que diremos.

A palavra pois a Eugénia  Cunhal

***

  • Nascimento Maria Linda historia ! mas muito triste e ainda mais triste porque todos sabemos que é verdadeira
    22 h · Não gosto · 1
  • Isa Alçada Eu sou mais o que digo do que o que faço , tenho a mania de perdoar a quem me faz mal........ Beijos !
    22 h · Não gosto · 1
  • Fatima Mourão Linda história verdadeira gostei muito,obrigado pela partilha 
    21 h · Não gosto · 1
  • Joaquim Carmo Abraço muito grato por mais uma importante partilha, Victor!
    20 h · Não gosto · 1
  • Deolinda Figueiredo Mesquita Lindo! obrigada, Victor.
    20 h · Não gosto · 1
  • Milu Vizinho Bem hajas camarada Victor, pela partilha 
    19 h · Não gosto · 1
  • Viriato F. Soares Boa noite camarada e obrigado pela partilha!
    17 h · Não gosto · 2
  • Maria João de Sousa Fabulosos textos e poema, Victor Barroso Nogueira! Como esta Função de partilha não está a funcionar, vou partilhar daqui mesmo! Obrigada!
    17 h · Não gosto · 2
  • Donzilia Conceiçao Maravilhas, obrigada Victor, beijinhos
    13 h · Não gosto · 2
  • Isabel Reis Não conhecia,muita solidão nestes textos...abraço
    7 h · Não gosto · 2
  • Lya Tavares Belíssimo!!!
    25 min · Não gosto · 1