Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNsábado, 25 de outubro de 2014
se deslumbrara em pirilampos
fazer upload fotos entre eros e afrodite 32 - cartas a penélope 18 - Se desumbigara da cama quando a lua se deitava
se desomemdificou
pois não se desmulherengava
apenas merengava com os olhos
pelas ruas divaguando
e na cama a fama
não se descamava
nem desencravava
carvoando
e assim se perdirruavam
pendirruados
paço de arcos 2014.10.24
com embaraço não dás o braço
o abraço ou o beijo
sem ensejo
e
emrodilhas o desejo
enrodilhado
estilhaçados os brocados
setúbal 2014.10.18
nos teus poemas
em floreado bailado
alado
partilhas as sapatilhas
sem atilhos
atalhas
em atalhos
para toda a gente
e
ninguém
no cais
fenecem os marinheiros
setúbal 2014.10.18
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Se desumbigara da cama quando a lua se deitava
“Há inúmeros lugares onde um ser humano se pode perder, mas não há nenhum tão complexo como uma biblioteca. Mesmo um livro solitário é um local capaz de nos fazer errar, capaz de nos fazer perder. Era nisto que eu pensava enquanto me sentava no sótão entre tantos livros.” (Afonso Cruz, Os Livros que devoraram o meu pai: a estranha e mágica história de Vivaldo Bonfim)
A encontrou bem em pé no cais, seu somriso, finos trilhos ao canto dos olhos, a voz rendilhada o envolvendo em todos os poros e cavidades ou interstícios, o repuxando para ela. Como rio correndo para a concha do mar. Os gestos represados eram uma torrente desvirgulada em crisálida e a esperança uma caleidoscópica nave aberta à imensidão dos dias e ao silêncio das noites e dos sentidos, sem muros nem barreiras na cidadela prenhe de desaperturas.
Emcomboiara povoandando manhã cedinho,
se desomendificou
se desomendificou
pois não se desmulherendava
apenas merengava com os olhos
pelas ruas divaguando
e na cama a fama
não se descamava
nem desencravava
carvoando
e assim se perdirruavam
pendirruados
paço de arcos 2014.10.24
sábado, 18 de outubro de 2014
com embaraço não dás o braço
com embaraço não dás o braço
o abraço ou o beijo
sem ensejo
e
em rodilhas o desejo
enrodilhado
estilhaçados os brocados
setúbal 2014.10.18
nos teus poemas
nos teus poemas
em floreado bailado
alado
partilhas as sapatilhas
sem atilhos
atalhas
em atalhos
para toda a gente
e
ninguém
no cais
fenecem os marinheiros
setúbal 2014.10.18
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
as palavras que me escreves
1.
as palavras que me escreves
bem leves
são bonitas e catitas.
2.
pequeninas e boninas
as sensações que descreves
um enleio que cativa
3.
são sonhos que entretecem
4.
criam laços e abraços
5.
mas ...
as palavras que me escreves
não são para mim
6.
o que nos descreves
são meras efabulações
aflições
jogos de palavras
em vai-vém de sensações
livre de prisões
7.
e lassos se desfazem
os laços
aos baraços
8.
o desejo
sem ensejo
setúbal 2014.10.17