"Tu não sabes o que é o amor - disse ela. Lês muitos livros e dizes muitas coisas estranhas e interessantes, és um tigre terno e torturado, mas não sabes o que é o amor. Nem tu nem esse homem do monóculo.
(...) Ele olhou para mim interrogativamente.
- Estou a fazer má literatura - expliquei. Olhei para si, vi-o com uma sombra de sorriso nos lábios e decidi dizer isso em voz alta. As palavras servem para muita coisa. Com elas, podem encher-se sacos de silêncio. ´
(...) Até posso comprar uma prenda - disse eu - por causa do meu bom comportamento - expliquei.
- Bem pensado - disse ele.Uma prenda. Um cheque para comprar bons livros e bons discos. E até para comprar uma pistola nova,que deve precisar.Precisa, concerteza, de ter um bom stock de pistolas. Por causa da sua profissão. E para meter medo às pessoas. Ele tem muitas pistolas, dirão as pessoas. E ficam cheias de medo, " (Dennis McShade - "Mulher e arma com guitarra espanhola")
O homem-herói da novela policial atrás transcrita em excerto e que desconheceria o amor é Peter Maynard, não um detective mas um assassino profissional a soldo e bem pago, embora culto, viajado e dado a filosofar. E Dennis McShade não é senão e também o autor de uma outra obra - "O que diz Molero" (Dinis Machado).
O homem-herói da novela policial atrás transcrita em excerto
e que desconheceria o amor é Peter Maynard, não um detective mas um assassino
profissional a soldo e bem pago, embora culto, viajado e dado a filosofar. E Dennis McShade não é
senão e também o autor de uma outra obra
- "O que diz Molero" (Dinis Machado).
Maynard, sujeito a uma ética própria, como Mario Conde (de
Leonardo Padura) ou Pepe Carvalho (de Vázquez Montalbán) é um personagem algo
desencantado, como os de Chandler e Hammet, pioneiros do chamado "romance
negro".
Se o policial é levezinho e se lê dum fôlego, o romance é
caótico, cheio de minudências, como
caótica é a vida, plena de "singularidades" e detalhes desconexos e aparentemente sem
significado ou ligação, como gigantesco caleidoscópio ou girândola de
acontecimentos díspares. A vida de cada um não é pois um discurso contínuo, encadeado, linear e articulado, Nunca saberemos o nome do rapaz que Molero investiga nem a
razão de ser da investigação e dos factos constantes do Relatório, lido e
comentado por dois outros personagens, investigação que prosseguirá com outro
investigador.
E quanto a Maynard? Esse foi a causa primeira desta nota, depois de pesquisar por mais obras de Dinis Machado, acabando secundarizado por Molero, Como me disse o Rui Pedro uma vez, como se de cerejas falássemos: "Já viste, pai, começámos a falar disto, depois daquilo e agora já estamos num assunto completamente diferente."
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)