sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Dennis McShade aka Dinis Machado


"Tu não sabes o que é o amor - disse ela. Lês muitos livros e dizes muitas coisas estranhas e interessantes, és um tigre terno e torturado, mas não sabes o que é o amor. Nem tu nem esse homem do monóculo.

(...) Ele olhou para mim interrogativamente.

- Estou a fazer má literatura - expliquei. Olhei para si, vi-o com uma sombra de sorriso nos lábios e decidi dizer isso em voz alta. As palavras servem para muita coisa. Com elas, podem encher-se sacos de silêncio. ´

(...) Até posso comprar uma prenda - disse eu - por causa do meu bom comportamento -  expliquei.

- Bem pensado - disse ele.Uma prenda. Um cheque para comprar bons livros e bons discos. E até para comprar uma pistola nova,que deve precisar.Precisa, concerteza, de ter um bom stock de pistolas. Por causa da sua profissão. E para meter medo às pessoas. Ele tem muitas pistolas, dirão as pessoas. E ficam cheias de medo,  " (Dennis McShade - "Mulher e arma com guitarra espanhola")

O homem-herói da novela policial atrás transcrita em excerto e que desconheceria o amor é Peter Maynard, não um detective mas um assassino profissional a soldo e bem pago, embora culto, viajado e  dado a filosofar. E Dennis McShade não é senão e também  o autor de uma outra obra -  "O que diz Molero"  (Dinis Machado). 

O homem-herói da novela policial atrás transcrita em excerto e que desconheceria o amor é Peter Maynard, não um detective mas um assassino profissional a soldo e bem pago, embora culto, viajado e  dado a filosofar. E Dennis McShade não é senão e também  o autor de uma outra obra -  "O que diz Molero"  (Dinis Machado).

Maynard, sujeito a uma ética própria, como Mario Conde (de Leonardo Padura) ou Pepe Carvalho (de Vázquez Montalbán) é um personagem algo desencantado, como os de Chandler e Hammet, pioneiros do chamado "romance negro".


Se o policial é levezinho e se lê dum fôlego, o romance é caótico, cheio de minudências,  como caótica é a vida, plena de "singularidades"  e detalhes desconexos e aparentemente sem significado ou ligação, como gigantesco caleidoscópio ou girândola de acontecimentos díspares. A vida de cada um não é pois um discurso contínuo, encadeado, linear e articulado, Nunca saberemos  o nome do rapaz que Molero investiga nem a razão de ser da investigação e dos factos constantes do Relatório, lido e comentado por dois outros personagens, investigação que prosseguirá com outro investigador.

E quanto a Maynard? Esse foi a causa primeira desta nota, depois de pesquisar por mais obras de Dinis Machado, acabando secundarizado por Molero,    Como me disse o Rui Pedro uma vez, como se de cerejas falássemos: "Já viste, pai, começámos a falar disto, depois daquilo e agora já estamos num assunto completamente diferente."


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