Os dias continuam quentes, soalheiros e luminosos, apesar de algumas poucas manhãs neblinadas. Já se nota o fim dos veraneios pois há menos engarrafamentos em Vila do Conde e na Estrada Nacional. Mas os entardeceres e as noites tornaram-se frescas, obrigando a vestir um agasalho.
Ao fim da tarde estralejam foguetes em festas nas cercanias, despedida das que se realizam por este Norte acima, nas aldeias, cidades e vilarejos. Onde é a "festa" neste momento, desconheço. Sei depois que são as Festas de Santo Ovídio em Vairão, que se realizam anualmente no 1º fim de semana de Setembro
Ao fim da tarde estralejam foguetes em festas nas cercanias, despedida das que se realizam por este Norte acima, nas aldeias, cidades e vilarejos. Onde é a "festa" neste momento, desconheço. Sei depois que são as Festas de Santo Ovídio em Vairão, que se realizam anualmente no 1º fim de semana de Setembro
Fui abastecer-me ao Mini-Preço em Chinatown, na Zona Industrial, que agora foi "abarbatado" pela Cadeia Modelo / Continente. A variedade de produtos e diversidade de marcas é pequena e serve apenas para os "desenrascansos". Ao lado existe um mini mercado chinês com produtos maioritaramente chineses: alimentares, enlatados ou congelados, e bebidas, para além de hortaliça e carne. É uma aventura tentar comprar sem saber o que é e ao que sabe, pois as etiquetas nas prateleiras muitas vezes reproduzem apenas em caracteres latinos o nome chinês. Fico-me por um bolo - cujo nome não fixei - e por bolachas de arroz. As embalagens têm no seu interior sacos de sílica para absorverem a humidade e prolongarem o tempo de duração dos produtos.Ao consultar o ticket das compras verifiquei o nome do que adquirira; Bolo da Lua e Bolachas Wantwant. Ambos os produtos são saborosos, parecendo-me que o bolo terá recheio de amêndoa.
Afinal descobri mais quatro abóboras no quintal, com variados tamanhos de crescimento. Mas ainda têm cor verde e aspecto de mamão e não de abóbora de Cinderela. Aqui fica o testemunho fotográfico bem como o de um dos repolhos.
Ainda não tive pachorra para voltar aos meus cozinhados. Nos anos subsequentes a 1986 e ao meu divórcio, quando aprendi a fazer pratos mais elaborados e abalançand o-me a experiências, era um prazer cozinhar. Muitas vezes tinha companhia à refeição: os filhos, os e as colegas de trabalho e os jovens dos Programas de Ocupação Temporária no Urbanismo, que convidava, miúdos ciganos do Bairro como o Caló que me iam visitar. Mas agora a maioria das minhas refeições são solitárias, apesar dos meus convites.Portanto fico-me pelos bifes grelhados e pelas brutais omoletes - desta vez não acabaram em ovos mexidos. Cozinhar o trivial mesmo com algum apuramentos é fácil - basta dominar algumas técnicas e processos de cozedura e ter mão nos condimentos e respectivas combinações e na intensidade do lume. Sem a arte e a sapiência de Chefs de Cuisine como os meus amigos Carlos Barradas e Carlos Chagas, aqui fica o modesto testemunho da minha produção artesanal:
The last but not the least - Ao procurar roteiros para programas as minhas fotoandarilhices ali no armário e debaixo dumas revistas descobri, vejam, lá, descobri a máquina fotográfica GE 5X, que me desaparecera o ano passado, julgando eu que fora roubada ou a perdera. Já ganhei o dia com a pesquisa.
E para terminar e do baú das memórias sobre culinárias. Em 1973 / 74 a minha mãe esteve de férias em Portugal - a chamada licença graciosa dos funcionários públicos das colónias - e deixou ao meu pai e ao meu irmão um interessante caderno de recomendações domésticas, incluindo fáceis receitas culinárias. O meu pai nunca aprendeu a cozinhar, nem mesmo o trivial, e segundo eu escrevera anos antes numa carta para a minha mãe - cerca de 1958 - a especialidade dele era abrir latas de comida em conserva, de que já estava farto, ansiando pelo regresso materno a Luanda, terminada mais uma estadia dela em Portugal.
Mestre "Cuca" I
1972
Estou com um grave problema, pois já me esqueci das recomendações das minhas tias (eu bem lhes disse para deixarem-mas escritas): será que as batatas se põem ao lume durante 15 minutos? E quanto ao feijão verde? Deita-se no tacho quando a água ferver. E depois? Continua? Apaga-se o lume? Bem, o que for se verá! (MCG - 1972.08.23)
1974
Acabei de jantar; o [Emídio] Guerreiro e eu
comprámos comida no "snack" Camões e viemos de abalada até casa com
um carregamento de salada russa (bah!), filetes de pescada (estavam bons mas
tinham espinhas) e borrego assado com ervilhas (saboroso, mas a carne era tanta
como os ossos). Meio queijito (que o Guerreiro tinha) e maçãs (que tenho ali) e
fizemos a festa por 38$50 cada um. Ah! esquecia‑me, como fundo musical a
"Pequena Sinfonia Nocturna", de Mozart. A cadeira (desmontável) que a minha mãe me deu permite um sentar
confortável. Gosto muito de estar sentado nela: estuda‑se bem. (MCG 1974 ABRIL 24)
Contrariamente aos outros anos, parece me que desta vez a casa [de Paço d'Arcos] anda mais desarrumada. Ainda nem sequer lavei a louça do almoço, ali empilhada na pia. Hoje os meus parcos dotes culinários sofreram um rude golpe, ao tentar grelhar lulas. Ah!Ah!Ah! Uma "pessegada"! Espero que o esturricado saia e não dê cabo da frigideira (daquelas que estrelam ovos sem gordura!) Se não, lá vou entrar em despesas [e ouvir as minhas tias]. (MCG - 1974.09.12)
Contrariamente aos outros anos, parece me que desta vez a casa [de Paço d'Arcos] anda mais desarrumada. Ainda nem sequer lavei a louça do almoço, ali empilhada na pia. Hoje os meus parcos dotes culinários sofreram um rude golpe, ao tentar grelhar lulas. Ah!Ah!Ah! Uma "pessegada"! Espero que o esturricado saia e não dê cabo da frigideira (daquelas que estrelam ovos sem gordura!) Se não, lá vou entrar em despesas [e ouvir as minhas tias]. (MCG - 1974.09.12)
1986
Cheguei há pouco da Feira [de Santiago], onde fui dar uma volta e dois dedos de conversa com o pessoal conhecido após o jantar lá em baixo no Centro, única maneira de variar o cardápio, pois ao almoço não tenho tempo para grandes variações e aprendizagens. Tal como as mulheres, os homens, desde pequeninos, deviam ser ensinados a cozinhar coisas variadas e saborosas, embora simples. Felizmente que em tempos descobri um livrito acessível que posso consultar e seguir sem necessidade de ter ao lado, para consulta permanente, um dicionário da especialidade, para decifrar os termos técnicos como "refogado" ou "esturgido" e quejandos. (XXX - data ?) ([1])
[1] - Passe a publicidade, trata‑se
do Guia Prático de Cozinha, da
autoria de Léone Bérard, editado pela Livraria Bertrand em 1977.
1993
Acabei de temperar o frango para o jantar: sal, como não podia deixar de ser, pimentão doce ou colorau (embora também goste de paprika ou de piripiri), molho de soja e aguardente.
Hoje veio visitar-me o Caló, um miúdo que mora aqui no Largo e anda aí pelo prédio a pedir esmola e que asila aqui muitas vezes para jantar e ver filmes de desenhos animados ou banda desenhada. É um miúdo com dez anos, delicado e simpático (mas também com a escola da vida), muito franzino e parecendo por isso mais novo, embora tenha um rosto envelhecido, cujo pai, segundo ele, é pastor. Por vezes, ao fim de semana, aparece arranjado, mas isto não é regra nos restantes dias, talvez porque a madrasta não lhe ligue muito, embora esta não ande mal cuidada, quando por vezes aparece a procurá-lo; no princípio era todo machista, mas agora oferece-se para pôr a mesa, lavar a loiça e regar as plantas. As pessoas escorraçam-no ou não lhe devem dar muita atenção, por ser pobre e pedinte, pelo que ele diz a toda a gente que eu sou o maior amigo dele. (MMA - 1993.08.15)
Hoje veio visitar-me o Caló, um miúdo que mora aqui no Largo e anda aí pelo prédio a pedir esmola e que asila aqui muitas vezes para jantar e ver filmes de desenhos animados ou banda desenhada. É um miúdo com dez anos, delicado e simpático (mas também com a escola da vida), muito franzino e parecendo por isso mais novo, embora tenha um rosto envelhecido, cujo pai, segundo ele, é pastor. Por vezes, ao fim de semana, aparece arranjado, mas isto não é regra nos restantes dias, talvez porque a madrasta não lhe ligue muito, embora esta não ande mal cuidada, quando por vezes aparece a procurá-lo; no princípio era todo machista, mas agora oferece-se para pôr a mesa, lavar a loiça e regar as plantas. As pessoas escorraçam-no ou não lhe devem dar muita atenção, por ser pobre e pedinte, pelo que ele diz a toda a gente que eu sou o maior amigo dele. (MMA - 1993.08.15)
Fiz para o almoço pernas de frango estufado com arroz de manteiga. Já ando a ficar farto de enlatados e congelados, que às tantas sabem sempre ao mesmo. (MMA - 1993.09.09/10)
A lavagem da louça suja fica para amanhã. (...) Resolvi fazer uma "bruta" omolete de camarão com cebola picada, salsa e queijo ralado. Não ficou mal, mas deveria ter posto menos azeite na frigideira. Menos sorte tive ontem, que me distraí e não ouvi o marcador de tempo, pelo que os "raviolli" pegaram ao fundo do tacho e ficaram um amontoado esquisito e sem graça. (MMA - 1993.09.10/11)
Depois, bem depois resolvi almoçar um prato africano, moamba de galinha com farinha de pau, num restaurante aqui perto de casa. Faço isso normalmente uma vez por semana, para variar e porque me aborrece tomar as refeições sistematicamente sozinho. Mas desta vez o único comensal era eu, mas ao menos comi um prato que não sei cozinhar e não me preocupei com a arrumação da cozinha. (MMA -- 1993.09.10/11)
Hoje tive visitas ao jantar: o Caló. Reparei que também utiliza muito o Victor quando fala comigo, tal como sucede com a filha da Maria do Mar. Aquele devia ir para diplomata: oferece-se para ajudar-me, pergunta-me pelo Rui, pela Susana e pela minha mãe, elogia a minha comida ... (MMA - 1993.09.20)
Passei o fim de semana metido em casa. Apenas o Caló por cá apareceu à tarde, para ver e interrrogar-me sobre as fotografias e ver no vídeo filmes de desenhos animados do Walt Disney. Quando me preparava para regar as plantas ofereceu-se para fazê-lo, mas não jantou cá, pois entretanto a madrasta veio buscá-lo. (MMA - 1993.09.25/26)
De qualquer modo agora tenho com frequência companhia ao almoço. Com efeito o Rui anda com uma paisite aguda, de que te falei um dia destes ao telefone, pelo que vem até aqui frequentemente para almoçar ou quando não tem aulas, pois a Escola da Belavista fica a dois passos. Normalmente traz um colega, nem sempre o mesmo, para almoçar também ou para jogarem no computador. E neste fim-de-semana resolveu ficar ... até 3ª feira (5 Outubro), embora a Susana tivesse ido embora hoje. (MMA - 1993.10.03/04)
Hoje tive visitas ao jantar: o Caló. Reparei que também utiliza muito o Victor quando fala comigo, tal como sucede com a filha da Maria do Mar. Aquele devia ir para diplomata: oferece-se para ajudar-me, pergunta-me pelo Rui, pela Susana e pela minha mãe, elogia a minha comida ... (MMA - 1993.09.20)
Passei o fim de semana metido em casa. Apenas o Caló por cá apareceu à tarde, para ver e interrrogar-me sobre as fotografias e ver no vídeo filmes de desenhos animados do Walt Disney. Quando me preparava para regar as plantas ofereceu-se para fazê-lo, mas não jantou cá, pois entretanto a madrasta veio buscá-lo. (MMA - 1993.09.25/26)
De qualquer modo agora tenho com frequência companhia ao almoço. Com efeito o Rui anda com uma paisite aguda, de que te falei um dia destes ao telefone, pelo que vem até aqui frequentemente para almoçar ou quando não tem aulas, pois a Escola da Belavista fica a dois passos. Normalmente traz um colega, nem sempre o mesmo, para almoçar também ou para jogarem no computador. E neste fim-de-semana resolveu ficar ... até 3ª feira (5 Outubro), embora a Susana tivesse ido embora hoje. (MMA - 1993.10.03/04)
no Mindelo
(...)
Faz a cama, varre e lava a loiça
Quando lhe falam com bondade.
No resto também dá ajuda,
Mas sempre na casa do pai,
Bem nesta quer Susana seja a muda
No que no lar da mãe é ai"
(...)
in Rui Pedro na Tela, 1989.08.09
em Setúbal
(...)
Com o tacho e a panela
Lá se vai ela ajeitando
(...)
in Retrato em Dia de Festa, 1989, 08.07
Mindelo
2016.08.28 a 09.02
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)