Mindelo - Natal 1973 - Foto MNS (+) - Celeste (+), Victor, Maria Emília (+), tio Zé Barroso (+), avô Zé Luís (+), avô Barroso (+), Tia Maria Luísa, tia-avó Esperança (+)
(+) - já faleceram
* Victor Nogueira
A morte nunca fez parte da minha
vida e na família, tirando o meu avô materno ("sempre de preto,
viúvo"), nunca pusemos luto e não fazemos o culto dos mortos. Os que
morrem permanecem vivos enquanto estiverem na memória dos sobreviventes
que em vida com eles conviveram, com as boas e as más recordações. O que
valorizo e prezo são as boas memórias.
Não sei porquê mas a morte mais
antiga que tenho em memória é a do Marechal Carmona, falecido a 18 de
Abril de 1951. Lembro-me apenas da foto do seu caixão num jornal de Luanda.
Antes disso havia falecido a minha avó materna, Francisca, no Porto, entre 1946
e 1948, que não chegou a conhecer o neto. Alzira era a minha avó paterna, de quem eu gostava muito e que andou comigo ao colo em Luanda e no Porto, faleceu nesta cidade em 1956.
Depois, lembro-me apenas da morte da Aldinha, amiga de infância, creio que de leucemia, dum colega do Liceu num desastre aéreo no Sul de Angola, e do meu vizinho e companheiro de brincadeiras na Praia do Bispo, o Dinho (Eduardo), logo no início da Guerra Colonial, falecido em combate. Sem esquecer o Dr. Carlos Coimbra. Em 1968 falecera em Luanda o Cunha, alfarrabista, de
que falo em http://mundophonographo.blogspot.pt/2007/10/retratos-2-o-cunha-alfarrabista-em.html
1971 é o ano da morte da Isabel,
num acidente de salto em para-quedas e de que falo em "Retratos
(4) - A Belocas"
Depois acontecem mortes que me
marcaram tanto como a da Isabel: a do meu avô materno em 1976, a do meu avô
paterno e, em 1987, aquela a partir da qual a morte passou a ser na minha
consciência algo inelutável, mais ou menos imprevisto, que deve ser encarado com
um misto de estoicismo e naturalidade: a do meu irmão Zé Luís. Dele falo em "Ecce
Homo" (http://aoescorrerdapena.blogspot.pt/2012/01/victor-nogueira-ecce-homo.html ).
O meu irmão suicidou-se na semana seguinte à morte de José Afonso e foi para
mim contrastante o acompanhamento do funeral deste e o do meu irmão.
Entretanto foram falecendo outros
familiares: a minha tia-avó Esperança, os meus tios José e José João, a
Celeste, a tia da Fátima, nas Caldas da Rainha, a Mariazinha .. e alguns bons
amigos como o Miguel Bacelar, o Aníbal Queiroga, o dr. Armindo Gonçalves, a
Fátima Oliveira, os camaradas Gilberto de Oliveira, Luís Sá, Carlos Arede,
Costa Feijão, Eduarda Silva e Manuel Salazar, o Pe Augusto da Silva, sj … Dalgumas destas mortes
falo em "Elegia pela minha família dispersa", em http://aoescorrerdapena.blogspot.pt/2007/11/elegia-pela-minha-famlia-dispersa.html ,
sem esquecer a mais recente, a da Paula por mim referida em Maria Lua e a "A Condição Humana" ( http://aoescorrerdapena.blogspot.pt/2016/05/maria-lua-e-a-condicao-humana.html )
Quando me reformei, passado umas
semanas voltei ao serviço e foi uma festa o acolhimento que me fizeram com
beijos e abraços, o que me levou a comentar com a minha habitual ironia que se
falecesse na semana seguinte teria um grande cortejo mas que se fosse daí a um
ano diriam: “Olha, o gajo (ou o dr.) morreu e não soubemos; ainda bem, assim
não tivemos de ir ao enterro”. Pois foi a constatação despojada que tive
quando há uns anos faleceram os meus pais, com a comparência de um ou dois
amigos e de apenas parte da família, a do Sul.
Que fica para além da memória ?
Ficam as perguntas que não foram feitas, as histórias que não foram contadas,
as palavras e os gestos que se retraíram e, por vezes, a sensação de que alguns
deles estão aqui ao nosso lado.
Com Eugénio de Andrade fica "O lugar da Casa"
Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.
Com Eugénio de Andrade fica "O lugar da Casa"
Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.
E, com acompanhamento, a Dança
de Balcão, pelos Virgem Suta, em
Ou a Jornada de
José Gomes Ferreira
1. - Dança de
Balcão - Virgem Suta
Teima, a preguiça
a tomar posse
Este corpo já
pesado,
Belo vinho meu ele
fosse,
Não estaria aqui
plantado.
Mas já leva minha
conta
Que tabernas,
agradece
Mais dinheiro eu
tivesse
E ficaria, ficaria
todo cá.
REFRÃO:
Brinde a nós,
Brinde aos avós.
Que se houver céu
não estão lá sós.
Brinde a vós,
E já sem voz.
Brinde a quem aí
vier.
Teima, a preguiça
a ser maior
E a vontade de
abalar
Mais um copo
abaladiço
E outro p'ra
recomeçar
Esta dança de
balcão,
Que à parte os
abraços
Nada deixa, nada
fica
Nas histórias, nas
histórias
P'ra contar.
REFRÃO:
Brinde a nós,
Brinde aos avós,
Que se houver céu
não estão lá sós.
Brinde a vós,
E já sem voz.
Brinde a quem aí
vier.
Só.
2. - Jornada (José
Gomes Ferreira e Fernando Lopes Graça)
"Não fiques
para trás, ó companheiro,
É de aço esta
fúria que nos leva.
Pra não te
perderes no nevoeiro,
Segue os nossos
corações na treva.
Vozes ao alto!
Vozes ao alto!
Unidos como os
dedos da mão
Havemos de chegar
ao fim da estrada,
Ao sol desta
canção.
Aqueles que se
percam no caminho,
Que importa!
Chegarão no nosso brado.
Porque nenhum de
nós anda sozinho,
E até mortos vão
ao nosso lado.
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)