Está pois a musa oculta nas Cartas a Penélope e por detrás
de muitas fotos ou à margem delas, Na série Entre Eros e Afrodite, envolta em mil
véus e posta e Em sossego esta pois aquela que em Ítaca e por Ulisses não tece a
teia.
Está pois a musa na clandestinidade e adormecida com o
seu sorriso por detrás dos óculos escuros, finas rugas ao canto dos olhos,
passo apressado, cabelos quase da cor do trigo em flor esvoaçando com o sopro da leve aragem que varre as ruas da
cidade, a ternura dentro dela, triangulando entre Cascais, Lisboa e Setúbal, mas sempre longe de Ítaca
e alheia a Helena de Tróia.
Que nome lhe hei-de eu dar, que secreto nome cuja
chave seja apenas conhecida de mim e dela ? Na sua ausência e pensando nela, todo
eu tenho a fragilidade do canavial agitado pela mais leve brisa, sem a solidez
do roble centenário.
“Que nome lhe hei-de eu pôr”, interrogação que me persegue
desde há muito tempo. “Menina do coletinho de lã”? Hum, não. Que nome lhe
hei-de eu pôr ? E de repente dei comigo
a trautear uma canção do Zeca Afonso e “Faia Maria” ficou. Esperemos que não
seja uma “Maria-vai-com-as.outras”, desencaminhada por seus ditos e mexericos. Mas de reserva, tendo em conta a sua emotividade mal
contida, que transborda em chispas quando a contrariam ou lhe salta a tampa, “Espalha-Brasas”
também fica.
Está esta apresentação desenxabida, desmerecedora da caminhante
que ela é, algumas vezes a meu lado, outras defronte a mim na mesa do café ou
do restaurante, que alguns belos textos me tem inspirado. Mas sendo esta uma
prima obra desvendada qb como na farmacopeia, não saíu uma obra prima. Quanto
ao futuro, diz a sabedoria popular, que esse a Deus Pertence. Ou às Deusas !
João Bimbelo, aka João Baptista Cansado da Guerra, em Setúbal, a 23 de setembro de 2017
fotos victor nogueira
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Cheguei e tenho no meu pensar o encanto
Cheguei e tenho no meu pensar o encanto e sedução da beleza da tua voz e sorriso. Anoiteceu e o frio desceu á terra. Em mim e ao meu olhar em ti nascem as minhas palavras, sonoridades que estiolam no silêncio em que nos envolves e encerras. Como as ondas rendilhadas que - alterosas ou não - se perdem e morrem no areal à beira-mar.
Mindelo 2016.08.31
Foto Victor Nogueira - setúbal - barcos em fim de vida num desactivado estaleiro naval
fotos victor nogueira
Maria Faia - Zeca Afonso
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)