segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O meu irmão caçula, o Zé Luís


O meu irmão caçula, o Zé Luís (1951.05.29 / 1987 02 26) no Rio Quanza, em 1968

ECCE HOMO (1)

Era o dia 26 de Fevereiro
O Pituca morreu!
Encerrado em si
hirto no seu pijama azul
as mãos bonitas e o rosto frio
um vergão em torno do pescoço
o rosto violáceo
o ar sereno.

Longe vai o tempo da minha alegria
das nossas brigas
da nossa amizade
silenciosa
tímida
desajeitada.

Fica-me no pensamento
a lembrança de ti
nas coisas que me deste
os livros os posters
os bibelots as estatuetas
africanas as tuas pinturas
a Marilyn e o Pato Donald
os discos e as cassetes.

Memória da infância perdida
nas palavras silenciadas
Meu irmão!

Victor Nogueira - Poesia
1987.Dezembro.22 (1989.Março.10) - Setúbal

É TEMPO DE CHORAR

É tempo de chorar
silenciosamente
os nosso mortos
irmãos encerrados
encurralados

É tempo de chorar
enquanto
para lá desta hora
a vida se renova
por entre
os bosques e
os regatos
sussurantes
do imaginar o son (h) o estilhaçado

É tempo de chorar o tempo que voa

(IN MEMORIAM do meu irmão Zé Luís, morto de morte matada
por ele próprio e por muitos outros no tempo
que para ele terminou naquela tarde de
26 de Fevereiro de 1987 ............................. )

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
PRECE
Ao meu filho José Luís

Meu filho querido, meu grande amor
Teu destino não era este mundo.
Partiste e me deixaste nesta dôr
Tão profunda, Imensa, sem ter fim.

Porquê meu filho, me abandonaste ?
Tão jovem, tão talentoso, tão bom !
Sem compreender porque te finaste
E que felicidade procuraste.

Teu coração outra vida sonhara,
Mas uma vida sem sombrias nuvens
Radiosa primavera desejara.

Tuas meigas mãos jamais sentirei
Afagar com carinho a minha face
Sentida prece por ti rezarei.

S/data



Os 3 "manos" - Luanda - Rua Frederico Welwitsch - 1951


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