* Victor Nogueira
1. - Pois ... Em Angola usava-se o termo "preto" e na minha consciência este termo é ofensivo, ao contrário de "negro" apesar da camoniana "pretidão de amor". Mas as expressões subsistem para lá da "marcha da história" e das transformações sociais. Antes do €uro ainda se falava de tostões, mil reis ou contos (de reis). E em república ainda se diz a "rainha" ou "rei" da rádio ou dos feijões ou do petróleo ou em "princesas". E contrapõe-se o "mourejar" (de mouro) de sol a sol ao "sangue-azul". E termos como "canalha" e "sacana" são ou não ofensivos conforme o contexto socio-cultural, tal como "menina" no Brasil mas não em Portugal é um termo ofensivo. Em Itália, p. ex., o termo "português" é ofensivo. Qual usar sem ofensa, urbi et orbi: "negro/a" ou "preto/a"?
2. - Vejamos o “mercado negro” referido pela cronista. Há o "negrume" da noite contraposto à "claridade" do dia e nada terá a ver com a "raça", termo que também é uma "construção mental", porque há muitos "brancos" e o "branco" na realidade não é "branco" tal como há paradoxalmente muitos "negros" embora muitos de facto o não sejam. Ora mercado negro ou "lista negra" (blacklist) ou "blackmail" (chantagem ou fraude), p.ex., poderá ter a sua "referência" na dicotomia dia/noite: no dia tudo seria "claro", "límpido","transparente", sem "opacidade", ao contrário da escuridão da noite, "invisível", "pouco claro", "oculto". Escrevo "branco" ou "negro" mas isto são apenas "caracteres" que no dia-a-dia serão interpretados de modo diferenciado, até como resultado da mímica e do tom de voz utilizados.
3. - "Nigger" (black) é um termo de origem latina ("negro", em português e espanhol) que designou desde o sec. XVI os habitantes da África subsariana, e a "Nigéria" o nome dado ao País "criado" artificialmente em África pela Conferência de Berlim que retalhou o Continente Africano, sendo a Nigéria (e o Mali) parte do Império Songai, ao longo do Rio Niger. "Nigger" em inglês tem uma conotação ofensiva, para lá da importância do Império Songai (e de muitos outros) no contexto da História e das civilizações e culturas africanas "destruídas" e "retalhadas" pela chamada civilização judaico-cristã e eurocentricamente "ocidental". Neste contexto, não poderá o termo "negro/negra" ser motivo de orgulho e de afirmação e não uma "canga"?
4. - Africano? "Africano" são os naturais e os habitante de África, como "europeu" são os da Europa, sem que isso evite que na Europa e em África, por "exemplo" haja uma enorme diversidade de "cores", umas mais predominantes que outras. Mas os hominídeos, qualquer que sejam a "cor" actual da pele, dos cabelos e dos olhos, seriam originários da África subsariana, a partir da qual se teriam espalhado por todo o mundo ao longo de milénios.
5. - Quando se diz "trabalhar/trabalho que nem …. (um/a (negro, mouro, escravo, mula de carga, maltês, galego ...) está a caracterizar-se o tipo de trabalho, a sua penosidade. Aliás, inicialmente, o termo tem origem latina; o “tripalium”, um instrumento da lavoura que passou a ser utilizado pelos romanos como um instrumento de tortura e suplício dos escravos. Tripaliare (ou trepaliare), significava, pois, torturar alguém no tripálio, donde resulta o trabalhar/trabalho, que nas religiões judaico-cristãs é um castigo de Deus na sequência da expulsão de Adão e Eva do Paraíso, condenados assim a comerem o “pão que o diabo amassou”, e não um sentido de libertação, afirmação e realização da humanidade.
2. - Vejamos o “mercado negro” referido pela cronista. Há o "negrume" da noite contraposto à "claridade" do dia e nada terá a ver com a "raça", termo que também é uma "construção mental", porque há muitos "brancos" e o "branco" na realidade não é "branco" tal como há paradoxalmente muitos "negros" embora muitos de facto o não sejam. Ora mercado negro ou "lista negra" (blacklist) ou "blackmail" (chantagem ou fraude), p.ex., poderá ter a sua "referência" na dicotomia dia/noite: no dia tudo seria "claro", "límpido","transparente", sem "opacidade", ao contrário da escuridão da noite, "invisível", "pouco claro", "oculto". Escrevo "branco" ou "negro" mas isto são apenas "caracteres" que no dia-a-dia serão interpretados de modo diferenciado, até como resultado da mímica e do tom de voz utilizados.
3. - "Nigger" (black) é um termo de origem latina ("negro", em português e espanhol) que designou desde o sec. XVI os habitantes da África subsariana, e a "Nigéria" o nome dado ao País "criado" artificialmente em África pela Conferência de Berlim que retalhou o Continente Africano, sendo a Nigéria (e o Mali) parte do Império Songai, ao longo do Rio Niger. "Nigger" em inglês tem uma conotação ofensiva, para lá da importância do Império Songai (e de muitos outros) no contexto da História e das civilizações e culturas africanas "destruídas" e "retalhadas" pela chamada civilização judaico-cristã e eurocentricamente "ocidental". Neste contexto, não poderá o termo "negro/negra" ser motivo de orgulho e de afirmação e não uma "canga"?
4. - Africano? "Africano" são os naturais e os habitante de África, como "europeu" são os da Europa, sem que isso evite que na Europa e em África, por "exemplo" haja uma enorme diversidade de "cores", umas mais predominantes que outras. Mas os hominídeos, qualquer que sejam a "cor" actual da pele, dos cabelos e dos olhos, seriam originários da África subsariana, a partir da qual se teriam espalhado por todo o mundo ao longo de milénios.
5. - Quando se diz "trabalhar/trabalho que nem …. (um/a (negro, mouro, escravo, mula de carga, maltês, galego ...) está a caracterizar-se o tipo de trabalho, a sua penosidade. Aliás, inicialmente, o termo tem origem latina; o “tripalium”, um instrumento da lavoura que passou a ser utilizado pelos romanos como um instrumento de tortura e suplício dos escravos. Tripaliare (ou trepaliare), significava, pois, torturar alguém no tripálio, donde resulta o trabalhar/trabalho, que nas religiões judaico-cristãs é um castigo de Deus na sequência da expulsão de Adão e Eva do Paraíso, condenados assim a comerem o “pão que o diabo amassou”, e não um sentido de libertação, afirmação e realização da humanidade.
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OPINIÃO
O racismo idiomático de cada dia
O racismo está vivo e certas expressões podem reforçar o sentimento de opressão que muitas pessoas carregam dentro de si.
Cláudia Silva
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)