O registo destes pingos foi ficando para trás e chegou a altura de gravar esta página que assim, embora fora da sequência, deixa de estar em branco, salpicada de caracteres que na sua simbologia pretendem ser uma forma de comunicar.
Beethoven's Silence - (Extended) - Composed and played by Ernesto Cortazar
O discurso lógico trai a manifestação dos
sentimentos; "as palavras são (redes) de dois
gumes..." e o discurso lógico uma corrente que nos arrasta para onde não
queremos. Um olhar, a mão que se levanta para acariciar um rosto, os dedos
entrelaçados, o corpo que sentimos junto ao nosso, a simples presença, o saber-se
aqui nesta sala ou na outra, não entendes que tudo isto, na sua simplicidade,
diz mais e responde e/ou acalma mais interrogações que todas as palavras? É
preciso saber ler para além das palavras ou não recusar essa leitura. Lembro-me
dum poema do Alberto Caeiro, cuja humildade e simplicidade me atraem, humildade
e simplicidade perante as pessoas e as coisas que talvez nunca sejam minhas.
Levanto-me e vou ali á estante buscá-lo. Escolho o poema que trancreverei.
Hesito na escolha. Será este!
XLV - Um renque
de árvores lá longe, lá para a encosta.
Mas o que é um
renque de árvores? Há árvores apenas.
Renques e o
plural árvores não são coisas, são nomes.
Tristes das almas
humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de
coisa a coisa,
Que põem letreiros com
nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos
de latitude e longitude
Sobre a própria terra
inocente e mais verde e florida do que isso! (MCG - 1972.07.14)
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Desses dias que retenho? Joacine Katar e a tentativa de "Livre", tal como o "Chega", pretenderem capitalizar e insuflar com sound-bytes para os cabeçalhos da imprensa e telejornais, embora com objectivos antagónicos? Joacine tem dificuldades de expressão oral. São elas compatíveis com cargos tribunícios? Sendo deputada única, como pensa o Livre intervir com oportunidade e capacidade de passar uma mensagem? Que mensagens pretendem passar Joacine e o Livre, de Rui Tavares? Para lá da "igualdade" há as "diferenças". Para o reconhecimento da igualdade e do respeito pela diferença. a "vitimização" é "um" ou "o" caminho?
Um tal "de Bourbon" escreveu no "Observador" uma patética "Carta Aberta ao "seu" Querido Portugal", epístola dum jovem de 17 anos, que em redacção corriqueira e banal no estilo e envelhecida no conteúdo "impreca" Portugal, ao modo oitocentista, com a cartilha da "liberdade" dum neoliberalismo desenfreado. O jovem envilecido teve o seu momento de glória, com "cartas-abertas" de resposta, quer na imprensa escrita, que na blogosfera. Na verdade, a "liberdade" chorada com saudosismo por gente como o "de Bourbon" tem as suas àncoras estribadas na escravatura, nas praças da jorna, nos baixos salários de quem trabalha e produz e nos pingues lucros do patronato na mão estendida à esmola e à caridadezinha, na sopa dos pobres, nos "bancos alimentares" que engordam e com que facturam as grandes superfícies comerciais, na submissão ao "senhor Morgado".
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Finalmente os pombos apareceram em velozes formações,sobrevoando e debicando no campo, onde na extrema se amontoam toros de madeira.
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As arrumações prosseguem, nestes dias chuvinhentos e gélidos. Este ano descubro que o frio se infiltra pelas frinchas das janelas como lâminas cortantes. Mas não posso ligar os aquecedores se ando em arrumações; no quintal e debaixo da varanda vai-se acumulando o que está à espera do carro dos monos. E não tirei fotos ao que já foi directamente para o contentor. Está tanto frio que uma noite destas tive de reforçar o "aquecimento" da minha cama com mais um edredon. Safa! Nas horas vagas bem procuro mas não há Penélope nem Dulcineia que corram para os meus braços.
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Estou tão cansado, que nem imaginam. Faço muitas vezes tenção de sair para espairecer, se não passo as tardes em arrumações com baixa produtividade e acrescida fatiga. Mas o tempo pluvioso e cinzento e o encurtar dos dias não convidam a passeios pelas ruas ou à beira-mar. Para lá disso, apesar de todo o meu racionalismo, sou também um sensitivo e preciso de quem me abrace e acarinhe. para recarregar as baterias. Mas isto aqui é um ilhéu e eu um náufrago solitário.
Nestas tardes cinzentonhas, as aves cruzam os ares, em bandos, os aviões atroam ao passar lá em cima e, um dia destes, o frango assado não ficou grande coisa e estava seco. Azares de mestre Cuca! Já melhor e mais saborosos ficaram o puré de batata e as almôndegas, mas não as ervilhas com ovos escalfados, mas neste caso o "chouriço" vendido como sendo de Lamego era uma pessegada. .
Longe, contudo, vão os tempos das perplexidades dum aprendiz de Mestre Cuca, quando as minhas tias Esperança e Lili iam de férias, ficando eu com a casa de Paço de Arcos por minha conta:
Mestre "Cuca" I
Estou com um grave problema, pois já me esqueci das
recomendações das minhas tias (eu bem lhes disse para deixarem-mas escritas):
será que as batatas se põem ao lume durante 15 minutos? E quanto ao feijão
verde? Deita-se no tacho quando a água ferver. E depois? Continua? Apaga-se o
lume? Bem, o que for se verá! (MCG -
1972.08.23)
Mestre "Cuca" II
Contrariamente aos
outros anos, parece-me que desta vez a casa [de Paço d'Arcos] anda mais
desarrumada. Ainda nem sequer lavei a louça do almoço, ali empilhada na pia.
Hoje os meus parcos dotes culinários sofreram um rude golpe, ao tentar grelhar
lulas. Ah!Ah!Ah! Uma "pessegada"! Espero que o esturricado saia e não
dê cabo da frigideira (daquelas que estrelam ovos sem gordura!) Se não, lá vou entrar em despesas. (MCG -
1974.09.12)
Claro que não tenho as pretensões a "Chef" e o consequente merecimento dos meus amigos Carlos Barradas e Carlos Chagas; fico-me pelo trivial, já sem a paciência e as "invenções" post 1986 e anos subsequentes. Nessa altura morava a dois passos do Urbanismo, onde estava colocado, e tinha sempre a companhia de colegas que convidava para almoçarem comigo. Era o tempo em que escrevia eu à Maria do Mar:
Cheguei há pouco da Feira [de Santiago],
onde fui dar uma volta e dois dedos de .conversa com o pessoal conhecido após o
jantar lá em baixo no Centro [da cidade), única maneira de variar o cardápio, pois ao
almoço não tenho tempo para grandes
variações e aprendizagens. Tal como as mulheres, os homens, desde pequeninos,
deviam ser ensinados a cozinhar coisas variadas e saborosas, embora simples.
Felizmente que em tempos descobri um livrito acessível que posso consultar e
seguir sem necessidade de ter ao lado, para consulta permanente, um dicionário da especialidade,
para decifrar os termos técnicos como "refogado"
ou "esturgido" e quejandos. (MMA - 1986.07.28)
E, para concluir, uma receita oferecida a uma certa "Maria dos Mil-Sóis Rendilhados"
E, para concluir, uma receita oferecida a uma certa "Maria dos Mil-Sóis Rendilhados"
RECEITA PARA UMA MENINA CALADA
Em toalha de renda
planta-se uma seara de gestos e palavras
sem novelo, q.b.
………….. azul de amizade, macia como veludo
………….. murmúrio do mar com sol a nascer
…………..ósculos,
dois, odoríferos.
Estende-se bem e junta-se um traço de união
…………………………ternura e uma esmeralda
Leva-se ao lume em fogo brando.
À parte no almofariz mistura-se
uma pitada de sal, pimenta, salsa vinho e pão.
Junta-se tudo e agita-se com delicadeza suave.
.
Serve-se fresco com doce riso sem rodela
.………………………………….au clair de la lune
Próprio para qualquer estação
………acompanhado de açucenas
…………………….malmequeres
…………………...orquídeas
e
.…………………...rosas em fundo verde.
1991.Agosto.08 - Setúbal
captação de imagens em 2019.11.03/07
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)