O meu tio Joaquim António, que morreu com 20 e poucos anos (1913 / 1926), escrevia poesia, poesia triste, porque, tuberculoso, sabia que em breve morreria. Herdei dele, no espólio da minha mãe, dois cadernos manuscritos de poemas seus. Mas não é dele mas de António Nobre este poema, embora este tipo de poesia não seja a minha praia.
A minha mãe também escrevia poesia, por vezes alegre, alguma publicada em jornais do Porto, e contos, alguns publicados num jornal de Luanda. Mas destes últimos nenhum ela guardou.
Virgens que passais - António Nobre
Virgens
que passais, ao Sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido lar.
Cantai-me, nessa voz omnipotente,
O sol que tomba, aureolando o Mar
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!
Cantai! Cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas
Que eu vi morrer num sonho, como um ai....
Ó suaves e frescas raparigas,
adormecei-me nessa voz...cantai !
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)