quinta-feira, 7 de maio de 2020

eu quero escrever-te uma carta, amor


* Victor Nogueira

Eu quero escrever-te uma carta, amor!

Nesta hora de insanidade
os dias varridos pela noite da infâmia
na cidade coberta de chumbo e peçonha
onde uivam as hienas no curral das ovelhas
onde o sonho está imerso num lamaçal
eu quero escrever-te uma carta, amor
com o cinzel e o colorido d'amoramizade

uma carta com as letras de Humanidade
uma carta rendilhada de Esperança
com a filigrana de mil-sóis incandescentes
uma seara de trigo em flor, tecida
com o murmúrio de cem mil lucernas

Nas póvoas. nos povoados
sem muros nem ameias
com desassombro

ombro-a-ombro, lado-a-lado, frente-a-frente
na cidade dos homens e das crianças

eu quero escrever-te uma carta,
amor, amiga, companheiro
uma carta colorida, com letras de esperança
uma carta que seja um Hino
uma carta que rompa o cerco das muralhas
que desfaça o bloqueio
uma carta que seja um apelo,
um clarim nas mãos dos arautos:

"AS ÁRVORES MORREM DE PÉ!",

IMAGEM - Volpedo - «O Quarto Estado»

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)