sexta-feira, 29 de maio de 2020

medra a procissão no adro


* Victor Nogueira

medra a procissão  no adro
para que medrando
rime

e no agitar das ondas
sem rima remando
em catadupas
se esconda o pivete.

baralham
e no
baralho
viciado
embaralham-se
ensarilham-se
na salgalhada

estóico
alapado
pensam acorrentar
o mexilhão
à lapa
e
ao
rato ?

e a floresta
dos
animais
negra de enganos

é entrar
é entrar
meninos e meninas
é a valsa da burguesia
o baile dos tais
fatais
nos
sinais
da canga

lobos com hienas
lacraus e víboras
moscas e moscardos
em contínuo zum-zum
tubarões e sardinhas
polvos e aventesmas
no saco das farinhas
macacos e macaquinhos
avestruzes e pavões
em sacudidos safanões
aranhas e aranhiços
patranhas e enguiços
com melros e catatuas
pegas e papagaios
rosados ratinhos
e de cinza as ratazanas
o salalé roendo o miolo
e o cupim com estupim
crocodilos e piranhas
em alegre chilreada
palrando
as araras e os abutres
em babilónica sintonia
aos saltitos
ensarilhada salgalhada
cabras e ovelhas
nas parelhas
galos e galinhas às pintinhas
e galifões saltitões
caimões
carapaus com paus
e
os cordeiros com orelhas
velhas
de gato por lebre
e a febre
de
perúas e pardalitos
avestruzes catrapuzes
na teia
aranhas e aranhiços
com patranhas
e sumiços

com figurinhas e figurões
vai  ensurdecedora a zoadeira na feira ?

e nós 

azémolas
cavalgaduras
na pendura
de camelos e dromedários !?

setúbal 2014.05.29

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)