terça-feira, 3 de agosto de 2021

Bento Jesus Caraça, Intervir, Ensinar e Aprender!


* Victor Nogueira    

Nascido há 120 anos, no Alentejo, Bento de Jesus Caraça, filho de gente modesta, teve a sorte, naquele tempo, de quem se apercebesse da sua grande capacidade intelectual e lhe favorecesse prosseguir estudos muitíssimo para lá das primeiras letras, obtendo a licenciatura no então Instituto Superior de Comércio, de que viria ser professor catedrático na área das Matemáticas, até ser demitido pelo Governo de Salazar, como sucedeu a muitos outros intelectuais. (1). 

Desde sempre com uma intensa intervenção social e cívica, militante do Partido Comunista Português, interveio nos movimentos oposicionistas, como o Socorro Vermelho, MUNAF e MUD (2), sendo fundador de várias associações científicas e da Gazeta da Matemática, para além da Biblioteca Cosmos, de divulgação científica e cultural (3).

Esta foi concebida de acordo com o seu pensamento como actor social, definido em muitos das suas intervenções, como as Conferências “A Formação Integral do Individuo Problema Central do Nosso Tempo” e “Escola Única”. Defendia que o conhecimento não pode ser privilégio de alguns, mas sim ser largamente disponibilizado às massas populares, preconizando a existência da escola pública universal, gratuita e de qualidade. Nesse sentido participou também nas actividades da Universidade Popular Portuguesa, fundada em 1919, que veio a ser extinta em 1933, na sequência do Golpe de Estado de 1926. (4)

Vigiado e preso pela PIDE, com a saúde debilitada, Bento de Jesus Caraça faleceu, prematuramente, em 1948. Depois de Abril o seu nome foi dado à escola de Formação Profissional da CGTP, tendo sido inaugurada a sua Casa-Museu em Vila Viçosa, em 2013.

(1)   maismemoria.org/mm/2011/11/25/notas-biograficas-dos-investigadores-e-docentes-alvo-de-depuracao-politica-das-universidades-portuguesas-pelo-estado-novo/

(2)   arquivos.rtp.pt/conteudos/legal-q-b/

(3)   webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/seminario/bento%20caraca/biblioteca.htm

(4)   webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/seminario/bento%20caraca/universidade.htm


Jornal do STAL 119 – 2021 Junho



Sem comentários:

Enviar um comentário

Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)