* Victor Nogueira
Nascido há 120 anos, no Alentejo,
Bento de Jesus Caraça, filho de gente modesta, teve a sorte, naquele tempo, de
quem se apercebesse da sua grande capacidade intelectual e lhe favorecesse
prosseguir estudos muitíssimo para lá das primeiras letras, obtendo a
licenciatura no então Instituto Superior de Comércio, de que viria ser
professor catedrático na área das Matemáticas, até ser demitido pelo Governo de
Salazar, como sucedeu a muitos outros intelectuais. (1).
Desde sempre com uma intensa
intervenção social e cívica, militante do Partido Comunista Português,
interveio nos movimentos oposicionistas, como o Socorro Vermelho, MUNAF e MUD
(2), sendo fundador de várias associações científicas e da Gazeta da
Matemática, para além da Biblioteca Cosmos, de divulgação científica
e cultural (3).
Esta foi concebida de acordo com
o seu pensamento como actor social, definido em muitos das suas intervenções,
como as Conferências “A Formação Integral do Individuo Problema Central do
Nosso Tempo” e “Escola Única”. Defendia que o conhecimento não pode
ser privilégio de alguns, mas sim ser largamente disponibilizado às massas populares,
preconizando a existência da escola pública universal, gratuita e de qualidade.
Nesse sentido participou também nas actividades da Universidade Popular
Portuguesa, fundada em 1919, que veio a ser extinta em 1933, na sequência do
Golpe de Estado de 1926. (4)
Vigiado e preso pela PIDE, com a
saúde debilitada, Bento de Jesus Caraça faleceu, prematuramente, em 1948.
Depois de Abril o seu nome foi dado à escola de Formação Profissional da CGTP,
tendo sido inaugurada a sua Casa-Museu em Vila Viçosa, em 2013.
(2) arquivos.rtp.pt/conteudos/legal-q-b/
(3) webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/seminario/bento%20caraca/biblioteca.htm
(4) webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/seminario/bento%20caraca/universidade.htm
Jornal do STAL 119 – 2021 Junho
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)