sábado, 26 de fevereiro de 2022

Textos em fevereiro 26 (01)- poesia

 * Victor Nogueira

2021 02 26 e 2018 02 26 Os 3 "manos" - Luanda - Rua Frederico Welwitsch - 1951

Naquele tempo, ao fim do dia, ia muitas vezes ao cinema. Naquele dia 26, à noite, em 1987, ao regressar a casa, o telefone tocou. Era o Jacinto, guarda da noite no Edifício Sado, onde eu trabalhava, no Planeamento Urbanístico.

"Onde é que se meteu, doutor, que andamos à sua procura há horas? Tenho uma notícia para lhe dar. Sente-se. O seu irmão morreu!” E foi assim, de chofre, que soube que o meu irmão se suicidara. Numa das outras vezes telefonara-me para a Câmara, para se despedir de mim. Disse-lhe que esperasse por mim, que não era pelo telefone que nos despedíamos para sempre, que iria ter com ele para lhe dar um último abraço. 

Meti-me no carro rumo a Paço de Arcos e dessa vez consegui chegar a tempo, adiar, sem ilusões, aquilo que para ele seria uma determinação e tentara  já por diversas vezes!

O MPLA tê-lo-ia convidado para ficar, teria querido ficar em Angola, a nossa terra, mas quando após a independência, em 1976, o MPLA mobilizara todos os angolanos face à guerra civil que se avizinhava, veio para Portugal, dizendo-me que lhe bastara o horror duma guerra, a que vivera, na frente de combate e com as vítimas do exército colonial, onde havia sido incorporado como enfermeiro. Morreu sem terminar o curso de Medicina.
.
ECCE HOMO

Era o dia 26 de Fevereiro
O Pituca morreu!
Encerrado em si
hirto no seu pijama azul
as mãos bonitas e o rosto frio
um vergão em torno do pescoço
o rosto violáceo
o ar sereno.
Longe vai o tempo da minha alegria
das nossas brigas
da nossa amizade
…………………silenciosa
…………………tímida
…………………desajeitada.
Fica-me no pensamento
a lembrança de ti
nas coisas que me deste
……………….…,os livros os posters
……………..…...os bibelots as estatuetas
 ………………… africanas as tuas pinturas
…………………  a Marilyn e o Pato Donald
…………………  os discos e as cassetes.
Memória da infância perdida
nas palavras silenciadas
Meu irmão!

Setúbal 1987.12

.
É TEMPO DE CHORAR

É tempo de chorar
silenciosamente
os nossos mortos
irmãos encerrados
…………….encurralados
É tempo de chorar
enquanto
para lá desta hora
a vida se renova
por entre
……………. os bosques e
……………. os regatos
…………….……………. ….sussurantes
…………….  do imaginar o son (h) o estilhaçado
É tempo de chorar o tempo que voa!
(IN MEMORIAM do meu irmão Zé Luis, morto de morte matada
…………….……………. por ele próprio e por muitos outros no tempo
…………….……………. que para ele terminou naquela tarde de
…………….……………. 26 de Fevereiro de 1987 ............................. )
Setúbal, 1989.02.03
.
 (Zé Luís - Luanda, 1951 – Paço de Arcos 1987)

26 de fevereiro de 2014 
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Público
não esperes
nem desesperes
na esfera
escuta
não é nossa
a lei deles
a da submissão
revolve
a
revolta
e
canta
no ovo
contra o polvo
firma
e
afirma
a revolução
setúbal 2014.02.26

26 de fevereiro de 2014 
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Público
presa
e
represa
nas teias
não ateias
nem incendeias
receias
setúbal 2014.02.26

26 de fevereiro de 2013 
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Público
A cantiga
..............amiga
..............companheira
é uma arma
não desarma
.
A cantiga
..............amigo
.............contigo
é de sempre
............um rio
............sem frio
quente como agente
noz com voz
............rio hoje
sorriso
sórriso
...........sempre
caminhante
caminhandesonhando
construindoelutando
na cidade aberta
"sem muros nem ameias"
ou barreiras !
.
A cantiga
na cidade aberta rima
com a liberdade solidária
com a igualdade fraterna
.
Na cidade aberta
a canção não é a do patrão
.
Na cidade aberta
.
Liberta
Aberta
Desperta
.
na tua e nossa mão
.
a cantiga
antiga ou não
é
um
furacão
que não desarma
a canção !
2013.02.26

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)