* Victor Nogueira
2022 04 23 - PARA MEMÓRIA FUTURA - Escamoteando ou “esquecendo” / “ignorando “ o Chile de Allende ou o Brasil de Lula / Dilma, adeptos duma transição pacífica para o socialismo, eleitoralista e não revolucionária, “escamoteando” Pinochet e Bolsonaro, ignorando, com excepção do PCP, a Constituição da República Portuguesa e o vero significado do 25 de Abril, com o poder do Povo na rua, o poder dos descamisados, o poder dos ventres ao sol, o poder do pé descalço, o poder dos sem terra, o poder dos que comem o pão que o Diabo amassou, a arenga belicista de Zelensky foi servil e apoteoticamente aplaudida na Assembleia da República por Marcelo de Sousa, Presidente da República, por Santos Silva, Presidente da Assembleia da República e, conjuntamente, pela extrema-direita acantonada no Chega, pelos neoliberais da IL, pelo híbrido PAN, autor da iniciativa, e pelos deputados do PPD / PSD (oriundo da ala “liberal”, na Primavera de Marcelo Caetano, na Assembleia Nacional-fascista), pelos do PS, pelos do Bloco e pelo do Livre, estes quatro últimos reclamando-se como “sociais-democratas”, “anticapitalistas”, adeptos e defensores, sinceros ou não, da via eleitoralista, não revolucionária, para o socialismo, como alternativa ao capitalismo.
A estes aplausos, contrariando o Regulamento da AR, associaram-se, vibrante e apoteoticamente, sem quaisquer entraves, as altas personalidades presentes nas Galerias abertas ao público, criteriosa e previamente seleccionado, entre o qual se encontrava o representante do CDS / PP, o único partido que em 1976 votou contra a Constituição de Abril, envolvido e comprometido em todas as actividades contra-revolucionárias do General Spínola, CDS que foi o “compagnon de route” e muleta nos subsequentes governos do PPD /PSD e do PS.
Admitindo que o Chega e a Iniciativa Liberal são anticomunistas e pró-capitalistas, arruaceiros ou envernizados, admitindo que o PAN é um partido híbrido, animalista, no qual a Humanidade é um simples adereço na lapela, admitindo que o PPD / PSD, o PS, o Bloco e o Livre (de Rui Tavares), tal como Khrushchev e sucessores , são anticapitalistas, embora sinceros (ou não), adeptos da “coexistência pacífica” e da “transição pacífica” para o socialismo, por via não revolucionária, mas pacifica, com estrito respeito pela “vontade popular” eleitoral e “democraticamente” expressa, admitindo tudo isto, o que irmana todos terá algo a ver com a defesa do socialismo e com o poder dos descamisados, o poder poder dos ventres ao sol, o poder de quem come o pão que o Diabo amassou?
Será o socialismo aquilo que une quem entusiasticamente aplaude o autocrata Zelensky, sustentado pelos oligarcas / multimilionários ucranianos no conflito com outros oligarcas / multimilionários, os EUA, os da Federação Russa e os da chamada União Europeia?
Ou será o anticomunismo, a oposição ao poder na rua, ao poder dos descamisados, ao poder dos sans-culotes, ao poder dos ventres ao sol, ao poder dos que comem o pão que o Diabo amassou, o poder dos famélicos da terra?
Em resumo, para lá das máscaras, para lá da social-democracia, como adereço, cravo vermelho ao peito, com maior ou menor “vernissage”, será o anticomunismo o cimento que os coloca no mesmo lado da barricada?
Sem rebuços, uma “vergonha”, clamaria, noutras situações, “urbi et orbi”, o Chega, pela voz de Ventura!
Mas o Chega de Ventura clamará como “vergonha”, contra quem, apoteoticamente alinha com a sua bancada e com o seu ideário, a barricada de Pinochet, Noriega, Duvalier, Laval, Franco, Le Pen, Salazar, os coronéis gregos, Viktor Órban, Videla, Bolsonaro, Zelensky e tantos outros, do mesmo calibre, irmanados na luta dos terratenentes contra o pé-descalço, aquele que cheira a chulé, a suor ou a catinga?
Em 25 de Abril de 1974 à noite Spínola tentou em vão assenhorar-se do golpe militar e mandar o MFA para casa. Tendo falhado, tentou o chamado Golpe Palma Carlos, com a conivência do ppd/sá carneiro. Falhado o golpe com a demissão do I Governo Provisório, Spínola tentou com o apoio de sá carneiro/ppd e freitas do amaral/cds a chamada "manifestação da maioria silenciosa". Falhada esta,Spínola demitiu-se da Presidência da República. Todos estes golpes, tal como o de 11 de Março, tinham como objectivos adiar as eleições para a Assembleia Constituinte, plebiscitar Spínola como Presidente da República com amplos poderes, dissolver o MFA e inverter o processo de descolonização, sobretudo em Angola, mas também em Moçambique. A mobilização popular e o MFA fizeram abortar todos estes golpes spinolistas, que se veio a aliar a redes bombistas e anti-comunistas, de extrema direita, como o elp/mdlp..
Este mural no edifício da Câmara Municipal do Porto comemora a derrota de spínola a 28 de setembro de 1974. Spínola veio a ser posteriormente homenageado e reabilitado depois do golpe militar 25 de Novembro de 1975. Com efeito, a 5 de Fevereiro de 1987 foi designado pelo então Presidente Mário Soares Chanceler das Antigas Ordens Militares Portuguesas, sendo também condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (a segunda maior insígnia da principal ordem militar portuguesa), pelos «feitos de heroísmo militar e cívico e por ter sido símbolo da Revolução de Abril e o primeiro Presidente da República após a ditadura».
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)