* Victor Nogueira
2022 06 24 - Nada estival, o tempo continua outonal, frescalhote, tristonho e cinzento, o horizonte matizado de núvens com diversificadas tonalidades e contornos, tapando o sol, cujos raios assim não aquecem nem os corpos, nem as almas. Tudo é silêncio em meu redor e olhando para lá da vidraça não vejo gaivotas planando ou a elegância de seus voos, recolhidas que devem estar em seu sossego. Haverá pombos debicando o asfalto, lá em baixo, em busca de alimento e competindo com as gaivotas?
.Olho em torno de mim e por toda a casa, nas estantes cobrindo as paredes do chão ao tecto, silenciosos, estáticos, imóveis, perfilados nas prateleiras, os livros, aos milhares, são a minha única companhia, conjuntamente com os escritos, as foto-reportagens, os filmes e as séries televisivas. Mas ... não aquecem nem arrefecem, jazem, preenchendo os tempos mortos!
O que leio presentemente é uma monografia sobre o Bairro do Troino, adquirido uma tarde destas, na Livraria Hemus, numa das minhas idas ao Centro Histórico, atravessada a linha férrea que divide a urbe em duas: a velha e a nova.
A freguesia de S. Sebastião, era outrora essencialmente rural, parcialmente proletarizada, com os bairros operários ou de casas abarracadas, insalubres, hoje na sua quase totalidade erradicadas.
Hoje, com os seus 50 mil habitantes, concentra metade da população do concelho, maior que muitas cidades, apesar de desagregada das zonas rurais, que originaram outras duas novas freguesias, de área grande mas menos populosas.
O silêncio gira em torno de mim, estático, entre o fazer e o deixar correr uma vida de faz-de-conta; não me apetece estar nem só, nem acompanhado. Malhas que o império tece e enreda! Esvoaçando como pássaro de voo rasteiro, de asas quebradas!
Os ponteiros dos relógios já deram várias voltas sobre si mesmos enquanto o depósito inferior das ampulhetas se foi enchendo de alvo pó ou areia branca. As núvens estão agora separadas por nesgas dum tímido e ténue azul.
O almoço foi parte do frango assado ontem no forno electrico e puré de batata instantâneo, há pouco confeccionado. Outrora tinha gosto em cozinhar e muitas vezes companhia ás refeições: colegas da Câmara ou pessoas amigas. Tudo passou e cozinhar é para mim, desde há anos, apenas uma desinteressante tarefa.
Tudo passa, tudo morre, tudo se transforma, na indiferença do (es)correr das pessoas, das amizades, dos tempos e das águas. Fica apenas a memória cada vez mais esmaecida entre o que foi e o que poderia ter sido, que condiciona inapelavelmente o futuro talhado num fugaz presente.
2019 06 24 - foto de família - Em Luanda, na Praia do Bispo, a cidade do comboio eléctrico. A maioria das casas eram em cartolina, montadas pelo nosso tio José João, o arquitecto. Tirando o comboio e uma ou duas casas, o resto da cidade e dos brinquedos bem como a maioria da minha biblioteca ficaram em Luanda, quando da independência de Angola.
À direita, a minha biblioteca de então e o estirador onde estudava.
Para além de casas de habitação, a "cidade" tinha estação ferroviária (em 1º plano), Câmara Municipal(à direita), Escola Primária e Quartel (este ao fundo), Igreja (ao fundo, no cato à direita) , Posto da Cruz Vermelha, para além de estação dos Correios.
VER em Luanda, a cidade em miniatura e o comboio electrico
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2016 06 24 - PENSAMENTOS EM TEMPO DE PRIMAVERA - As agressões e violências psicológicas,frequentemente insidiosas, podem não deixar marcas físicas e visíveis, mas são muitas vezes profundamente dolorosas e nem sempre fáceis de superar.
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)