Victor Nogueira
2022 09 08 - Como desde os tempos imemoriais precedidos pelas trombetas, apregoavam pelas praças os pregoeiros: "A Rainha Morreu, Longa Vida ao Rei!" ( La Reine Est Morte, Vive Le Roi!).
E assim, sem sobressaltos, de imediato, numa anacrónica monarquia, anti-republicana, "cumpriu-se o traçado destino", após uma longa espera, "democraticamente" e sem campanhas eleitorais, sem sobressaltos, embora com uma previsível curta esperança de vida, Carlos e Camila, membros duma casta real, de pretenso sangue azul, almejaram sentar-se no trono.
Elizabeth foi rainha apenas porque sucedeu a seu pai, Jorge V, apenas porque o tio, Eduardo VIII, simpatizante do nazi-fascismo, foi forçado a abdicar, sob o pretexto de ter contraído matrimónio com uma endinheirada americana divorciada.
Ainda se lembram das virulentas campanhas da imprensa tablóide e cor de rosa contra a Rainha Isabel, por causa de Carlos, de Lady Di e de Camilla?
2022 09 09 - Um idoso desempregado mas não sem abrigo, desde a nascença destinado a ser rei, desde então e nos largos tempos livres ocupado com chás-canasta e obras de caridadezinha e similares, conseguiu finalmente emprego aos 73 anos, quando já estava na idade da reforma e de viver pacíficamente dos vastos rendimentos.
"Honi soit qui mal y pense" e "Talent de bien faire"
"La Reine est morte Vive le Roi" Charles III, o predestinado, com mordomias garantidas desde o nascimento, numa monarquia anacrónica onde, aparentemente, somos todos iguais; uns, de "sangue azul", de alva epiderme, nascidos em berço de ouro e diamantes de sangue, outros, de sangue vermelho, calejados e tisnados pelo sol, subalimentados com o pão que o Kapital amansou!
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2022 09 09 - No reyno da completa alienação e dos contos de fadas, com príncipes, belas adormecidas, sogras sem coração e crudelíssimas madrastas. onde a igualdade e os servos da gleba que o alimentam e sustentam, são ignorados!
2022 09 10 - Este culto da personaliade, próprio das ditaduras, mas característico das monarquias anacrónicas e pseudo-democráticas, com uma casta que se perpetua de pais para filhos, com uma lista de pretendentes devidamente ordenada e pertencente ao mesmo clâ. O monarca morre e vá de substituir todo o papel-moeda, todas as moedas, todos os selos de correio, todas as caixas de correio, as insígnias em todos os capacetes da polícia britânica, alterando todas as referências ao finado ou afastado. Não só no Reino Unido como também na Commonwealth (Canadá, Austrália e Nova Zelândia, entre outros).
Embevecida, a plebe aplaude este desperdício, este culto da personalidade, como se os respectivos países fossem propriedade pessoal dos monarcas e os seus habitantes continuassem a ser apenas servos da gleba, deslumbrados com pechisbeque e lantejoulas!
2022 09 11 - O reverso da história: mesmo para os predestinados de berço de ouro e diamantes de sangue, o destino por vezes leva tempos infindos para se cumprir!
Vejo muita gente falar no longuíssimo reinado de 70 anos de Isabel II, só ultrapassado pelos 72 anos de Luís XIV – reza a história, não temos como verificar – mas ninguém fala no recorde absoluto do príncipe Carlos, agora Carlos III, que esperou 70 anos para ser rei. E esse, meus amigos, ninguém lho tira. Pelo menos durante o vosso tempo de vida. Embrulhai, príncipes e princesas deste mundo.
2022 09 11 - Não sei se com ironia, MEC defende a vantagem da Monarquia sobre a República porque o Chefe de Estado é "escolhido" de imediato, sem sobressaltos, devido ás leis da sucesssão, sem as "barganhas" a que o Presidente (a eleger) estaria muitas vezes sujeito para garantir o seu ascenso ao poder. Enquanto segundo MEC, o monarca estaria acima disto tudo.
Escreve MEC: «Quantos partidos foi necessário consultar antes de Carlos se tornar rei? Quais as alianças partidárias - as conversações, os acordos secretos e públicos, as negociatas e as trocas de galhardetes - que possibilitaram a coroação de Carlos?
Nenhuns e nenhumas, porque o rei, estando abaixo e acima dos partidos, dá mais força aos partidos. É por isso que são unânimes no apoio à monarquia: porque ficam com mais força, porque ficam com o poder todo. E são os eleitores que decidem quais são os partidos que mandam.»
Na verdade, o monarca não fica com o poder todo, sendo apenas uma figura decorativa, uma espécie de corta-fitas alimentando faustosamente beneficiências e caridadezinhas. No caso do Reino Unido, a família de Windsor é a 5ª maior fortuna do Mundo, embora me pareça que a Revista Forbes a não revele nas suas listas anuais.
MEC dá de barato que todos na Inglaterra (ou noutro qualquer reyno), incluindo todos os partidos políticos, defendem e apoiam a Monarquia e a Realeza. O que não é verdade. Mesmo na Commonwealth, quando países como a Austrália, Canadá ou Nova Zelândia a abandonarem, instaurarão seguramente a República e não uma anacrónica Monarquia.
Nem sempre a sucessão foi assim tão pacífica, nos tempos em que as monarquias "reinavam" na Europa, disso estando a História repleta, incluindo a de Portugal. A predestinação não é assim tão certa: o/a presuntivo/a herdeiro/a pode falecer ou ficar incapacitado/a. Ou o "destino" alterado, pacífica ou violentamente, com a instauração duma república. Embora possam continuar os privilégios de sangue (pretensamente azul) ou de pilim (a eterna seiva), não poucas vezes passando de geração em geração.
E que tristeza e previsível frustação, esta de predestinação, que limita os sonhos de qualquer criança, esta de ter um "destino", (talvez) um fardo. uma vida e uma forma de viver a que o prendem desde o nascimento. Esperando décadas, para que o destino se cumpra! Com a morte d'outrem!
La Reine est morte! Vive le Roi! Hip! Hip! Hurray! Hip! Hip! Hurray! Hip! Hip! Hurray!
2022 09 11 - Para captar as atenções devemos manter a mesma onda? Ou torna-se necessário variar as ondas, ou para distrair as atenções ou para manter a "angústia" e o "temor" e as audiências e garantir a publicidade?
Houve a onda covidesca, com limitação ou negação de liberdades, direitos e garantias. Seguiu-se a Guerra, com o Capitão América e o Super-Homem contra o Império do Mal, que se tem traduzido na imposição do pensamento único e amestrado.
No programa, que continuará no próximo Inverno, com agravamento da crise económica e social e sua contestação, vão surgindo breves intervalos, como o PCP e a Festa do Avante e, agora, a soap opera na loura Albion, aquela "secular e fiel aliada" que inspirou os versos de "A Portuguesa" e serviu de bandeira aos republicanos em Portugal "Contra os bretões, marchar, marchar!", a propósito do chamado Mapa Cor-de Rosa.
A invectiva acabou por transformar-se em "Contra os canhões, marchar, marchar", embora persista a alternativa de ... "Contra os cifrões, marchar, marchar!"
A DESTALHE DE FOICE - O filme mais antigo que me lembro de ter visto é "Steamboat Willie", dos Estúdios Walt Disney, no Porto, cerca de 1949.
Tal como é dos mais antigos de que me lembro a reportagem da visita de Isabel II a Portugal, em 1957, estava eu já em Luanda.
Malhas que a memória tece!
Gravura - A grande onda, por Katsushika Hokusai
Os cinco retratos fiduciários de Isabel II e seus autores. 1953 ( Mary Gillick), 1968 (Arnold Machin), 1985 (Raphael Maklou), 1998 (Ian Rank-Broadley), 2015 (Jody Clark)
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)