* Victor Nogueira
A Escola
Pública posta em causa?
Os
jornais de ontem garantiam que a «Emigração rende 5,8 milhões de euros» ao
mesmo tempo que atiravam para o ar os custos «fabulosos» dos exames
nacionais a decorrer nas escolas públicas.
Mas desconheço
nem dou por parangonas sobre os lucros das universidades privadas que por
benesse de Cavaco, então 1º Ministro, passaram a formar fornadas de
licenciados de todo o corte e feitio e quanto custaram essas fornadas aos
bolsos particulares. Saíram do bolso, não como impostos para o Estado com funções
Sociais, mas directamente para a carteira dos «donos» das privadas.
Os jornais
falam em dezenas de milhares de licenciados crescentemente no desemprego, mas
nada dizem sobre que universidades os licenciaram para o desemprego nem sobre
os cursos «desqualificados» nem sobre a qualificação pedagógica e científica
dos respectivos corpos docentes. Nem dizem qual o peso das privadas nisto
tudo.
Mas a saga
contra a escola pública continua. Os professores faltosos, malandros, vão
trabalhar mais em Junho e os outros, assíduos, vão folgar. Se há já quem no PS,
como Narciso, diga que o PS e Sócrates são uma comissão
liquidatária, que até tira espaço de manobra «oposicional» ao PSD, segundo a
inefável e cavaquista «dama de ferro» portuguesa, de sua graça Ferreira Leite,
será possível «emigrar» toda esta gente para que nunca mais voltem?
Mas não, que
este bom povo ou vota PS, ou vota PSD, ou na volta não vota «porque são todos
iguais» e a voz do Povo é a Voz de Deus. Mas, parafraseando o «nosso» Papa,
onde estava Deus no momento do voto? Sim, que o Povo e a Igreja não têm
culpa, a culpa foi, segundo o Santo Papa, do bando de criminosos que abancou à
mesa do Poder, com h. E quem se lixa é o espertalhão do mexilhão, a quem não
fazem o ninho atrás da orelha, protegida de injecções letais. É dos livros!
A actual
ofensiva contra as funções sociais do Estado, como a da Escola Pública,
insere-se nas orientações saídas da Cimeira de Lisboa em 2000 [1] e que tem,
como uma das suas principais conclusões, colocar a educação e o ensino sob a
alçada do grande capital europeu. A Escola Pública tem objectivos
constitucionalmente definidos, entre os quais se situam a educação para a
cidadania, a democracia e o respeito pela multiculturalidade. Isto para não
falar na luta contra a perpetuação das marcas de classe, favoráveis a quem
domina e dita a lei.
A Escola
Pública e os professores enquanto professores não são responsáveis pelo aumento
do desemprego, pela precariedade no trabalho, pela desertificação do interior,
pela criação de guetos culturais nas grandes cidades e suas periferias. As
principais causas para o insucesso escolar e o abandono precoce da escola,
radicam, em primeiro lugar, nas condições sócio-económicas da maioria das
famílias portuguesas e que esta é matéria da inteira responsabilidade dos
sucessivos governos do PS/PSD/CDS , a cuja família pertence José Sócrates. Que
faz o Governo para aumentar a capacidade de expressão das crianças e dos jovens
em português, condição essencial para o sucesso da aprendizagem e do conhecimento?
Escondida por
detrás de cortinas de fumo e de poeira, o que o Governo quer com as alterações
à carreira docente é a perca dum conjunto de direitos e regalias, que foram
conseguidas ao longo dos anos, em processos negociais difíceis, direitos conquistados
com muita determinação e luta por parte dos docentes, organizados em torno dos
seus sindicatos. Direitos que contribuem para a sua estabilidade de emprego e
profissional, factor essencial para a promoção da qualidade da Educação e do
Ensino. Que não se consegue criando «quotas» de avaliação,
precarizando os vínculos de trabalho, não criando condições para a formação
permanente. Como se o ser professor fosse apenas despejar matéria ou tapar
borlas e como se não fosse influente a relação recíproca professor/aluno.
Questiona-se a existência de Sindicatos, porque a união faz a força, mas não se
questiona a existência de Associações Patronais ou Empresariais.
E já agora,
quantas horas semanais de docência têm os professores do ensino superior? E
quantos acumulam cátedras em várias escolas? E quanto tempo lhes fica para o
estudo e para a investigação?
A alternativa a
esta ofensiva é a criação/construção duma escola que dignifique
e estimule os docentes, condição para a melhoria da qualidade educativa.
Numa escola e num sistema de ensino onde se procure combater as desigualdades
económicas e sociais, dando aos alunos, a todos os alunos, iguais oportunidades
e os apoios necessários para que tenham sucesso escolar e educativo.
Porque o
dinheiro não é a única medida da vida. Ao contrário das parangonas do jornal
diário que sem vergonha afirma que «Emigração rende 5,8 milhões de euros».
Tal como no tempo do antigamente, em que os dinheiros da Emigração ajudavam a
equilibrar as contas públicas e a sustentar a guerra colonial enquanto
Portugal continuava na cauda da Europa.
.
Victor Nogueira 2006.Junho.18
Publicação: segunda-feira, 18 de Setembro de 2006 4:30 por portugalclub
[1] a tal em
que sócrates e durão barroso alegremente se abraçaram e aquele exclamou
"Conseguimos, pá!"
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)