domingo, 26 de fevereiro de 2023

José Luís (1951 / 1987) - Memória(s) a 26 de Fevereiro

 * Victor Nogueira


2023 02 26 José Luís (Luanda 1951 05 29 _ Paço de Arcos 1987 02 26)

Maria Amélia Marques Martins
Para mim é uma das mortes mais sofridas...a dor da alma que leva a essa atitude, tem que ser muito grande. O meu Abraço!
6 h
João Carrapiço
RIP
 h
Elias Quadros
Que a Luz eterna o alumie!
4 h
Armanda Gonçalves
Lembro bem esse dia muito triste
4 h
Isabel Magalhães
Descansa em paz Zé Luís e com muita luz.✨🙏


2022 02 26 / 2014 02 26  Foto MENS - Zé Luís no Rio Cuanza, em 1969. Em 1987, numa tarde deste mesmo dia 26 de fevereiro, em Paço de Arcos, faleceu o meu irmão caçula, nascido em Luanda (1951)
Elias Quadros
Que Deus o tenha!
52 sem
Armanda Gonçalves
Abraço forte recordo com carinho especial o teu irmão
52 sem

Maria Lúcia Borrões
Tão jovem ainda... Era precisamente da minha idade e partiu 3 dias depois de Zeca Afonso. Lamento 💔
5 ano(s)
Filomena Ramos
.. não sabia, Victor.
Beijinho pa ti 😘
5 ano(s)
Victor Barroso Nogueira
Já passaram muitos anos, Filomena Ramos
5 ano(s)

João Carreira
... fiz esta travessia do Cuanza , na barcaça , a caminho de Cabo Ledo e também em 1968 /69 ...
7 ano(s)
Elsa Santos
Triste mas lindo.
7 ano(s)




2021 02 26 e 2018 02 26 Os 3 "manos" - Luanda - Rua Frederico Welwitsch - 1951

Naquele tempo, ao fim do dia, ia muitas vezes ao cinema. Naquele dia 26, à noite, em 1987, ao regressar a casa, o telefone tocou. Era o Jacinto, guarda da noite no Edifício Sado, onde eu trabalhava, no Planeamento Urbanístico.

"Onde é que se meteu, doutor, que andamos à sua procura há horas? Tenho uma notícia para lhe dar. Sente-se. O seu irmão morreu!” E foi assim, de chofre, que soube que o meu irmão se suicidara. Numa das outras vezes telefonara-me para a Câmara, para se despedir de mim. Disse-lhe que esperasse por mim, que não era pelo telefone que nos despedíamos para sempre, que iria ter com ele para lhe dar um último abraço. 

Meti-me no carro rumo a Paço de Arcos e dessa vez consegui chegar a tempo, adiar, sem ilusões, aquilo que para ele seria uma determinação e tentara  já por diversas vezes!

O MPLA tê-lo-ia convidado para ficar, teria querido ficar em Angola, a nossa terra, mas quando após a independência, em 1976, o MPLA mobilizara todos os angolanos face à guerra civil que se avizinhava, veio para Portugal, dizendo-me que lhe bastara o horror duma guerra, a que vivera, na frente de combate e com as vítimas do exército colonial, onde havia sido incorporado como enfermeiro. Morreu sem terminar o curso de Medicina.


2020 02 26 e 2015 02 26 Foto de família - O Zé Luís (1951 - 1987) em Lisboa, com a bicicleta


2019 02 26 (Zé Luís - Luanda, 1951 – Paço de Arcos 1987)
Naquele tempo, ao fim do dia, ia muitas vezes ao cinema. Naquele dia 26, à noite, em 1987, ao regressar a casa, o telefone tocou. Era o Jacinto, guarda da noite no Edifício Sado, onde eu trabalhava, no Planeamento Urbanístico.

"Onde é que se meteu, doutor, que andamos à sua procura há horas? Tenho uma notícia para lhe dar. Sente-se. O seu irmão morreu!” E foi assim, de chofre, que soube que o meu irmão se suicidara. Numa das outras vezes telefonara-me para a Câmara, para se despedir de mim. Disse-lhe que esperasse por mim, que não era pelo telefone que nos despedíamos para sempre, que iria ter com ele para lhe dar um último abraço.

Meti-me no carro rumo a Paço de Arcos e dessa vez consegui chegar a tempo, adiar, sem ilusões, aquilo que para ele seria uma determinação e tentara já por diversas vezes!

O MPLA tê-lo-ia convidado para ficar, teria querido ficar em Angola, a nossa terra, mas quando após a independência, em 1976, o MPLA mobilizara todos os angolanos face à guerra civil que se avizinhava, veio para Portugal, dizendo-me que lhe bastara o horror duma guerra, a que vivera, na frente de combate e com as vítimas do exército colonial, onde havia sido incorporado como enfermeiro. Morreu sem terminar o curso de Medicina.

Ricardo Jorge Mateus Pina abraço. bela e corajosa homenagem. 4 ano(s) Graça Maria Teixeira Pinto Horas tristes ! 4 ano(s) Isabel Magalhães 🌹❤🌹 4 ano(s) Maria Jorgete Teixeira São cheios de tristeza e saudade estes teus belos versos que eu já conhecia. Um abraço para ti! ❤ 4 ano(s) Milu Vizinho Querido amigo, comuvi-me ao ler este, estes versos, são cheios de tristeza e saudade, estes teus lindos versos, que eu já conhecia. Um forte abraço

2017 02 26 Foto de família  em Luanda - 1951 - Victor, Emília, Zé Luís (Luanda 1951.05.29 / Paço de Arcos 1987.02.26), Manuel -

IN MEMORIAM do meu irmão Zé Luís, Em 1987, a 26, ao fim do dia resolvi ir ao cinema e depois de chegar a casa à noite, o telefone tocou. Era o Jacinto, o guarda do edifício da Câmara onde eu trabalhava, no Planeamento Urbanístico, : "Doutor, Temos andado à sua procura. Sente-se, tenho uma notícia para lhe dar: O seu irmão morreu." Desta vez a tentativa de suicídio não falhara.. Vítima do stress da guerra os psiquiatras haviam dito que apenas eu o poderia salvar e não os pais, mas o meu poder era limitado. 


Litogravura de José Luís NS

elegia

 1. - À mana que nunca tive e gostaria de ter tido.

À minha outra mana inventada, de Moçambique e da Casa de Aguiar e Belmonte, sempre ocupada com o trabalho, mas sempre atenciosa e carinhosa e de quem gosto muito, muito, mesmo muito, que me pergunta sempre pelos sobrinhos e que aprecia imenso o meu filho Rui Pedro e cujos filhos me atendem sempre com simpatia ao telefone.

Ao meu único irmão, de verdade, Zé Luís, morto de morte matada por ele próprio e por muitos outros no tempo que para ele terminou

naquela tarde de 26 de Fevereiro de 1987 ............................. ).

 2. - Ao meu irmão que adorava o mano, a cunhada e os sobrinhos.

 Ao meu irmão, que não morreu na Guerra Colonial, apesar de ter estado em zonas de combate como furriel miliciano enfermeiro, na nossa terra, Angola, incorporado obrigatoriamente e a lutar no Exército Português de ocupação contra os manos dele e meus, do MPLA ou não, e a tentar salvar a vida aos «camaradas» de armas ou vê-los regressar mortos, ensanguentados e desfeitos. Mas morreu depois, 13 anos depois, encerrado em si mesmo, sem concluir o curso de Medicina, por causa da guerra que o marcou para sempre. E que não continuou em Angola, apesar dos convites do MPLA, porque, após a independência do nosso País, de novo incorporado obrigatoriamente como cidadão angolano, veio para um país estrangeiro porque já lhe bastara o horror duma guerra. (1).

 ((1) - O nome dele, como o de muitos outros que morreram depois de terminada a guerra mas por causa dela, não figura em nenhum monumento aos mortos em combate ! É um dos soldados desconhecidos, morto em vida, na terra de ninguém ! 

 3. - À minha mãe, que ao chegar a casa encontrou o filho morto de morte matada por ele próprio, que resistiu e não enlouqueceu mas entristeceu com uma tristeza funda e sem fim, ficando para sempre marcada.

 4. - Não sei se foi após a morte do meu irmão que assumi definitivamente que o nascimento marca o início da caminhada para a morte, que a morte de quem quer que seja, incluindo a minha, é um dado adquirido e inelutável. Embora face à constante preocupação da minha mãe se eu me atrasava lhe dissesse, meio a sério, meio a brincar: "Mãe, eu sou imortal, não te  preocupes quando me atraso !".

 ECCE HOMO

 Era o dia 26 de Fevereiro

O Pituca morreu!

Encerrado em si

hirto no seu pijama azul

as mãos bonitas e o rosto frio

um vergão em torno do pescoço

o rosto violáceo

o ar sereno.

.

Longe vai o tempo da minha alegria

das nossas brigas

da nossa amizade

.......................silenciosa

.......................tímida

.......................desajeitada.

Fica-me no pensamento

a lembrança de ti

nas coisas que me deste

.......................os livros os posters

.......................os bibelots as estatuetas

.......................africanas as tuas pinturas

.......................a Marilyn e o Pato Donald

.......................os discos e as cassetes.

Memória da infância perdida

nas palavras silenciadas

Meu irmão!.

1987.Dezembro.22 (1989.Março.10) - Setúbal

.É TEMPO DE CHORAR

.É tempo de chorar

silenciosamente

os nossos mortos

.

irmãos encerrados

encurralados

.

É tempo de chorar

enquanto

para lá desta hora

a vida se renova

por entre

.............os bosques e

.............os regatos

...................................sussurantes

...................................do imaginar o son (h) o estilhaçado

É tempo de chorar o tempo que voa!

.

...................................(IN MEMORIAM do meu irmão Zé Luis, morto de morte matada

...................................por ele próprio e por muitos outros no tempo

...................................que para ele terminou naquela tarde de

......................................................................26 de Fevereiro de 1987 ............................. )

..

 1989.Fevereiro.03 - Setúbal

 

Luisa Neves Triste. ABRAÇO. Maria Célia Correia Coelho Dolorosas recordações, algumas, outras bonitas e ternas .Um abraço Victor . 9 ano(s) Belaminda Silva Triste. Beijinho 9 ano(s) Ana Maria Madail Tristes recordações.. Um abraço amigo. 9 ano(s) Laura Rijo Recordações...abraço. 9 ano(s) Graça Maria Teixeira Pinto A guerra, continua a fazer vitimas.Silenciosamente, mas faz, não tenhas dúvidas.Chamam-lhe stress de guerra...Bj, Victor Nogueira! 9 ano(s) Arminda Griff Só amanhã poderei colocar tua leitura em dia! Beijocas muitas. 9 ano(s) Maria João De Sousa Sei que partilhaste comigo esta excelente elegia... mas não a encontrei no mural... acho que a ligação está bem pior do que eu... obrigada, Victor Nogueira! Muito boa publicação! 9 ano(s) Maria Mamede Obrigada por partilhares Amigo, esta tua elegia, bela e triste. Bj. 9 ano(s) Elsa Cardoso Vicente

Obrigada pela partilha, tocou-me profundamente, recuei, revivi emoções, vidas, mortes, as próprias fotos...Praia do Bispo, e por outras paragens, felizmente corri angola toda com os meus pais... Luanda onde vivia, nasci no lobito...por estas recordações todas, obrigada e abraço...

9 ano(s)

Clara Roque Esteves

Meu amigo, a tua avaliação estava correcta. O dia do nosso nascimento é o primeiro dia do caminho para a nossa morte. E, sabendo-a inevitável, como é difícil lidar com ela...Também perdi os meus pais. Nem quero imaginar-me a perder o meu irmão. A tristeza da tua escrita de hoje deixa-me algum amargo de boca, Bela mas muito cheia de saudade. E aí estás tu, eterno, ECCE HOMO, tentando trocar as voltas à vida e ao tempo. Comovi-me com os poemas, até me comovi com a irmã imaginada. Para ti, Vítor Victor Nogueira, um grande abraço de admiração pelo ser humano que és. Beijinhos gratos pela partilha.

9 ano(s)Editado Maria Jorgete Teixeira Memórias tão dolorosas que parecem furar os olhos...corajosamente partilhadas... beijinhos, Victor! 9 ano(s) Isabel Maria Abraço Victor. 9 ano(s) Maria Natália Bravo Só me ocorre partilhar contigo, um bocadinho da ternura que me liga ao meu mano. Um beijo, Vitor. 9 ano(s)

https://www.facebook.com/notes/10219934009005978/


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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)