* Victor Nogueira
A GRANDE MI(s)TIFICAÇÃO, COM PAPAS E BOLOS - Acidentalmente "aterrei" no telejornal da SIC, em pleno Campo Maior e pelas ruas da vila, desertas de pessoas, até encontrar magotes delas amontoadas junto à igreja que, lá no alto e colina abaixo, se impõe aos campomaiorenses.
Pelas ruas ou nos cafés, sem voz dissonante, quem é entrevistado, com maior ou menor loquacidade, tece mais ou menos rasgados elogios ao "Senhor Rui". Outros dizem que o "Senhor Rui", um "Pai", sabia o nome dos seus quatro mil trabalhadores e a cada um deles perguntava pela família.
No cemitério lotado, para além do Presidente da República, do Bispo de Évora e de notáveis do PS, para além de Carlos César, está António Costa, mãos largas no elogio ao seu "camarada", aproveitando para debitar a história de que nas idas a Lisboa o agora defunto utilizava não a auto-estrada mas a estrada nacional, para poder entrar nos cafés clientes da Delta, para conviver com a clientela.
Na imprensa não faltam os artigos laudatórios a um capitalista de "rosto humano", um capitalista que deveria ser um exemplo para os outros capitalistas, porque se como ele agissem, no mundo e arredores correriam apenas rios de fava rica, bolotas e mel, por debaixo de frondosas árvores e do chilrear das avezinhas e o murmúrio de ribeiras serpenteantes afagadas pela brisa soalheira.
Um plumitivo escreve: «Morreu no dia do Pai, talvez para nos lembrar a "paternidade" que exerceu sobre tanta gente, muitos milhares de pessoas, onde orgulhosamente me incluo. »
Um outro, Daniel Oliveira, titula: "Rui Nabeiro: um capitalista com rosto", prosseguindo, como epifania «Tivéssemos mais com as preocupações sociais e capacidade exportadora de Nabeiro e teríamos menos herdeiros do rentismo atávico que nos atrasa.» para logo de seguida afirmar que Rui Nabeiro seria "um capitalista de esquerda".
Nesta sua peça, DO consegue fazer a quadratura do círculo, acrescentando:
«Não sei se a sua relação humana e social com os trabalhadores e a comunidade são a de um patriarca paternalista ou a de um capitalista de esquerda. Sei que este capitalismo de rosto humano é quase anacrónico num tempo de capitalismo financeiro dominado por fundos de investimento.»
Talvez Daniel Oliveira nunca tenha lido obras de Victor Hugo, Balzac ou Dickens ou mesmo "A situação das classes trabalhadoras em Inglaterra", de Engels, todas elas escritas no século XIX.
Num tom apologético, Daniel Oliveira termina em apoteose: «Rui Nabeiro tinha um rosto, um nome, uma obra. Esperemos que não seja o último desse tempo. Até os socialistas precisam de capitalistas a sério. Em Portugal, são raríssimos.»
Pois ... Rebobinemos: «Até os socialistas precisam de capitalistas a sério. Em Portugal, são raríssimos.»
Donde se conclui que os banqueiros do Goldman Sachs, dos Fundos de Investimento, assim como os Bezzos e os Bill Gates ou os Zuckerberg, os Rothschild e os Krupp, sem esquecer os Rockfeller e as famílias dos Belmiro Azevedo ou dos Soares dos Santos ,são apenas capitalistas de brincadeira(s)!
Capitalista a sério, exemplar, daqueles de que o "socialismo" precisa, "com ética capitalista", seria pois o Senhor Rui, o comendador.
By the way: e a talhe de foice: o senhor Rui, o paternal Patriarca de Campo Maior, e Pai dos campomaiorenses, que nunca foi comunista embora vendesse cafés para a Festa do Avante, era o dono do empório ou também eram proprietários, em pé de igualdade, com poder de decisão, os trabalhadores que produziam a riqueza que ele e a família amealhavam e embolsavam?!
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)