27 de dezembro de 2022 ·
Auto-retrato no Mindelo, numa soalheira manhã com amena temperatura, vislumbrando o céu entre o azul e o cinzento, sobre os campos verdejantes para lá da vidraça, rodeado pelo silêncio, depois de ouvir o Concerto nº1 para piano, de Tchaikovski, no leitor de CD's, em 2022 12 27.
Regressaram as aves, que em voos planados passam no horizonte. É tempo de ir almoçar:, estufado de coxas de frango ou de galinha com arroz de tomate. Para o jantar ficará a sopa de abóbora, produto ali do quintalejo.
Para o almoço a companhia musical será mais serena: dois dos imoromptus ou improvisos de Schubert, para piano.
EM TEMPO – Tchaikowski surge nas minhas cartas do meu exílio em évoraburgomedieval.
*** «A tarde está tristonha. Dos alto-falantes do gira discos saem as notas da "Rapsódia Húngara" de Liszt. .
Não há dúvida que o piano é um instrumento agradável de ouvir. E a Rapsódia Húngara nº 6?! Dá uma sensação de afirmação persistente, que nunca se quebra. Mas uma das minhas composições preferidas é o "Concerto para piano, nº 1", de Tchaikowski. (NSF - 1970.03.21)
À "Rapsódia Húngara" de Liszt (o piano é maravilhoso!) junta-se o chilrear dos pássaros no telhado, o ronronar duma avioneta pelos ares e o ruído abafado do trânsito na Praça do Giraldo, aqui a dois passos. (NSF - 1970.05.17)»
*** «Ouço o Concerto nº 1 para piano, de Tchaikowski. Os sons desprendem-se em cavalgada, saem do piano pelo alto-falante, umas vezes de mansinho, outras violentamente, elevam-se, envolvem-nos, penetram em nós e arrebatam-nos. Neste momento os violinos dialogam com o piano, tentam impor-se-lhe, este assemelha-se a um riachozito saltitante. A voz daqueles eleva-se, tentam emudecê-lo. Os violinos perdem a sua delicadeza, tornam-se autoritários. Abafam o piano, o frágil, quem diria, piano! Veio a calma. Lentamente, a medo, uma flauta tenta quebrar o silêncio. Outras vozes vão-se-lhe juntando. Violinos e piano restabelecem o diálogo, secundados por outros elementos. Há uma quietude no ambiente. Uma voz grave, que não identifico, surge. O piano saltita pelo riacho, de pedra em pedra, apressa-se, corre ligeiramente pelos prados. Os outros seguem-no. Os sons misturam-se, elevam-se em cascata. O diálogo repete-se serenamente, em espiral. Termina mais uma cena.
Silêncio. Violência. Brusquidão. Violinos e piano defrontam-se de novo. Implacavelmente o piano tenta impôr-se. Consegue, com alguma luta. Os violinos aceitam a derrota e rendem-lhe homenagem. Ele aceita-la do alto da sua vitória. Os sons ora dialogam, ora competem entre si. Os violinos são os árbitros. Parece que nada mais pode deter o piano, soltito, com ternura, com delicadeza, umas vezes, com altivez, outras. Ah! os outros silenciaram-no. Mas ele debate-se, liberta-se, corre, surdo à majestade dos violinos. Está sozinho. É perseguido, tenta fazer-se ouvir. Mas é tarde! Este final soberbo, empolgante, arrebatador! (NSM - 1969.01.23)
Joana Espanca Bacelar
Adoro Schubert! Oiço muitas vezes....
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Joana Espanca Bacelar
Estás com ar satisfeito! 👌
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Victor Barroso Nogueira
Joana Espanca Bacelar Agora já consegui ultrapassar as minhas inibições e já consigo "representar", olhando em frente, desassombradamente, para a cintilante luzinha verde do PC (entenda-se, personal computer)
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Joana Espanca Bacelar
Victor, a experiência faz milagres.... 😄😄
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Victor Barroso Nogueira
Joana Espanca Bacelar Tinha dez anos em Luanda quando fui designado para interpretar o "Príncipe das mãos vazias," um texto do livro de leitura, na récita da 4ª classe, e parece-me que nos ensaios desempenhava bem o papel. Mas, quando chegou o dia da representação pública deu-me uma branca e esqueci as minhas falas. Fiquei imensamente aborrecido por todos me aplaudirem, apesar do meu fiasco clamoroso.
Remeti-me ao silêncio até que decorridos 10 anos pedi a palavra num plenário de estudantes, em Económicas, em Lisboa. Meti os pés pelas mãos, não dise coisa com coisa e calei-me com uma enorme frustração:
Depois disso ganhei calo e passei a ser capaz de "enfrentar" audiências de largas centenas de pessoas, por vezes aplaudido pela assistência LOL.
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Joana Espanca Bacelar
Victor Barroso, só te conheci quando já eras um grande comunicador e com sucesso. Um líder...
Desconhecia até, das tentativas falhadas 😄
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Victor Barroso Nogueira
Joana Espanca Bacelar Gracias pela gentileza 🙂
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Madalena Mendes
Merry Christmas and a Happy New Year!
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Nzuá Aral
Este homem é um ponto!
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Victor Barroso Nogueira
Nzuá Aral Um ponto ? Porquê?
Bom ano de 2023 🙂
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Nzuá Aral
É único! Era uma força-de-expressão mto usada em Angola. Faz-nos ficar bem-dispostos Doc. Feliz 2023, abraço
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Nzuá Aral
Victor Barroso Nogueira, nada a ver com o texto, ok?!!!
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Yolanda Botelho
Bom Ano,amigo.
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Victor Barroso Nogueira
Yolanda Botelho
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Victor Barroso Nogueira
Yolanda Botelho Igualmente para ti. Beijos do "esquerdista" preferido 😛
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)