sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Pingos do Mindelo em 2024 fevereiro 16 - sombras do cavaleiro monge

 * Victor Nogueira



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No limoeiro, como se fossem pétalas do sol descido à terra, os limões amadurecem e desligam-se do tronco e ramos ubérrimos, que lhes deram vida, atapetando o solo, até que uma cada vez mais longínqua e renovada primavera lhes conceda um novo ressurgir. 

Um aceno, da margem esquerda do Amazonas, neste estreitérrimo riacho que é a rua aldeã, que de Camões, inadvertidamente, tomou o nome.

«Grandes são os desertos, e tudo é deserto», escreveu Álvaro de Campos, a long time ago.


Mindelo 2019 11 06 auto-retrato monástico em tempo de Cinzas.


Fernando Pessoa - Do vale à montanha,

Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados,
Por quinta e por fonte,
Caminhais aliados.
.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.
.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por plainos desertos
Sem ter horizontes,
Caminhais libertos.
.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por ínvios caminhos,
Por rios sem ponte,
Caminhais sozinhos.
.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim.

24-10-1932

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)