* Victor Nogueira
como não sei os caminhos das penedias e se são ou não acetinados como não ouço o murmúrio da brisa nos desfiladeiros serei em meus sonos cega e surda sem luz mergulhada nas trevas dos pesadelos pesados e sobressaltantes um dia que nos encontremos fecharei os olhos e com os nossos dedos e lábios traçarás o mapa de mim devidamente cartografado bem se calhar levarás uma lamparina que te fará ver as estrelas olha o abusador direi pimba, lamparina para te abrir os olhos ou abro os olhos e tudo será escuridão salvo as estrelas do teu olhar ou será uma metáfora porque os teus olhos são por vezes raios relampejantes não cintilantes será apenas um jogo floral ? dardos setas, não de cupido ou vénus, mas de marte ?
só amanhã saberás os meus pensamentos até lá terás de contentar-te com os sonhos que sonho em ti. Tal como eu. Enquanto sonho, toda eu sou uma ave em ti, ave alvoraçada mas estrangulada nas tuas mãos, nas quais procuro a nossa liberdade
ele delira
e na pira
com a lira
suspira
com a pira
ateia
incendeia
preso na teia
setúbal 2013.08.28
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sem dó
sem dó
com poeira da jeira
na leira te cubro e descubro
com lazeira
a piteira
setúbal 2013.08.25
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na leitura de ti
na leitura de ti
é dos deuses o manjar
bem picante e sonante
e eu
pobre escriba
sem fibra
na lira
esturrico
qual mafarrico
setúbal 2013.08.25
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alinharei as letras
alinharei as letras
linha a linha
alinhavadas
sem tretas
nota a nota
a pauta
bem janota
- entoarei pela porta
tu à janela
singela
a mesa posta
com presteza
e gentileza
Setúbal 2013 08 25
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passo a passo
passo a passo
no paço
a espaço
passo o tempo
passa grainha
sem modinha
nem vinha
vou
não estou
virei
pé ante pé
setúbal 2013.08.25
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não sei qual é de ti o sabor
não sei qual é de ti o sabor
a paleta da cor
o aconchego do calor
de ti sei apenas a neblina
longe da oficina
oh Céus
coberta de véus !
de linho te cobres
e não descobres
o leito
refeito
o rio
frio e seco
onde o norte
a ode
piano-forte ?
setúbal 2013.08.25
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Flor do Mar
entre eros e afrodite
................a via láctea
................duas lanternas cintilantes
e o beijo
bem vejo
a serpente serpenteante entrelaçada
estrangulada
...................entre a vida e a morte
na planura
duas colinas
........entreaberto o pico
........rosado e fremente do seio
o vale-desfiladeiro
na leveza da pele
............moreno vale
o prado-bosque
............da seara em flor
a rosada cisterna
ósculo
óculo
bainha de veludo
onde nos perdemos
e re-encontramos
a nau à bolina
de onda em onda
o fragor silente do desejo
explodindo
em cem mil lucernas
setúbal 2013.08.25
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quem vai ao mar
Tanto que ela parvamente gosta dele e por ele em vão espera mas com todos os seus passos/passes de dança ainda não me convenci se mulher sou para olhos nos olhos lhe dizer que o amo.
«Se me refiro a ti, não sei como, pk ou és inamovível como uma rocha, ou serpenteante como uma enguia». [perante esta provocação] levanta-se o mocinho inopinadamente a cadeira da esplanada atirada para trás um ar inquisitorial no olhar brilhante a mão esquerda na anca o indicador direito como gatilho apontado ao seu coração a voz imperativa: RESPONDE
Seria fácil responder se estivéssemos à beira-rio numa esplanada. Ele tem sempre uma fuga. [E em sonhos] meu deus que romântico eu na cama e ele desvendando-me aqui um bocadinhdo do lençol além uma entreaberta no pijama depois os dedos como pardalito desenhando o seu contorno dela.
O segredo e a arte estão na descoberta gradual. É muito mais sedutor na primavera uma camisa ou blusa entreabertas deixando ver um bocadinho do seio do que uma garina logo de supetão toda sem roupa na praia do meco. Convidas-me ? ts ts bem morrerei de fome faminta. Mas o meu véu para ti é estilo do eça ou estilo mata-hari? Podes fotografar-me de véu? Mas não de laranjeira.
29 de agosto de 2013
Foto Victor Nogueira
Lisboa queirosiana: a estátua de Eça e sua musa - Autor(a) Ana Ferreira in http://olhares.sapo.pt/lisboa-queirosiana-a-estatua-de-eca-e-sua-musa-foto5367096.html
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Margarida Piloto Garcia - O estranho encantamento do quente Agosto. O delírio feito ave, sereia, corcel alazão, principe encantado, mata hari em véus ou maja desnuda. Um prazer para os olhos que te leem. 11 anos
Maria Jorgete Teixeira - Não sei como comentar esta profusão de sentires, este jogo de palavras, ora em tom coloquial, ora num registo mais cuidado, sempre resvalando para a ironia que é a forma de dizermos as coisas cuidando que não parecem tão pesadas, mas não, conhecendo a tua escrita sabe-se que é uma fuga onde o "eu" se esconde...um "eu " poético que por vezes aparece no feminino, numa tentativa de descobrir o que vai do outro lado...
Um prazer para os olhos como diz a Margarida. Há muitas coisas que se intitulam de poesia, mas não passam de um empilhar de palavras, metáforas, algumas até bem conseguidas. O que tu escreves é poesia, Victor, da boa! Bj 11 anos
Graça Maria Teixeira Pinto - Mordaz, irónico, terno.Que mais posso eu dizer depois destas duas poetizas que sabem e comentam melhor do que eu: Gostei muito, Victor Nogueira! 11 anos
Ana Wiesenberger - Talvez a mensagem mais organizada em partes distintas fosse mais acessível a uma leitura atenta. Quem sou eu para te dizer isto? Cada um tem o seu registo, o seu estilo. 11 anos
Victor Barroso Nogueira - Queres explicitar/exemplificar, Ana Wiesenberger ? A meu ver estão lá 3 partes - uma introdução-final em prosa,, uma parte sem métrca a que chamaria poética e uma 3ª final-introdução, de acordo com as datas da escrita, anotadas em cada "pedaço", como se fora um contínuo incessantemente recomeçado. Sem esquecer a foto das ervas no telhado. Ah! Mas a recolecta não contém qualquer mensagem, não foi essa a intenção do autor: são meros registos que se sucederam no tempo, em agosto, entre os dias 23 e 29 11 anos
Maria Lisete Almeida - Bem haja pela partilha destas verdadeiras pérolas. Abraço Amigo. 11 anos s
Graça Maria Teixeira Pinto - P.S. Eu escrevi "poetisas",mas o FB anotou erro.Francamente, já ando baralhada.E fico na minha: Acho que é mesmo "poetisas".(Cá está o sinal vermelho....🙁 11 anos
Carlos Rodrigues ~Inspiração na verdade crua e nua do Eça, com variações Vitorianas, Muito bom. Obrigado, Victor. 11 ano s
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)