* Victor Nogueira
O circo da minha infância?
O circo da minha infância
1. - Sempre apreciei os espectáculos de circo e quando era mais miúdo desejava ser proprietário de um, para poder correr mundo, pois seduzia‑me a vida ao ar livre. Em Luanda é raro haver espectáculos destes. Mas sempre que os havia, lá estava eu. Mesmo agora não desprezaria uma digressão com uma dessas companhias. O circo atrai todos, jovens e velhos. (Diário III – 1963 pag. 151)
Mas naquele tempo eu queria
seguir com o circo a percorrer o mundo. Ilusões, porque é dura a vida do circo,
tanto mais quanto mais pobre ele for! (2012.07.17)
Comenta a Isabel: “Antigamente
no Natal, nunca falhávamos uma ida ao circo no Coliseu. Era ponto de honra e eu
gostava daquele mundo de ilusões. Não gostava dos ilusionistas, porque eu não
entendia como se faziam os truques e ficava irritada.🙂”
Por seu turno acrescenta a Alexandrina: “Ui
que festa, quando aparecia o circo na aldeia, piadas inocentes, riso puro, as
gargalhadas de velhotes desdentados como nós também a mudar os dentes todas ao
mesmo tempo, faziam uma algazarra dos diabos Tenho essas cenas guardadas, como
se passassem hoje.
As saudades que tenho desses tempos,
fazem-me lembrar como eu, e as crianças daqui, éramos felizes. ah, não tínhamos
dinheiro, mas também não era preciso. O que era preciso era convencer as mães a
deixarem-nos ir, se elas deixassem os pais também deixavam. depois era só
aparecer no terreiro, já tínhamos feito amizade com as crianças do circo e ela
iam-nos dizer por onde entrar por baixo do pano, depois era só sentar nos
bancos, metade estavam vazios. Belos Tempos, MESMO.”~ (2020 01 10)
4. - Depois, bem, depois a Feira de S. João, como a Santiago, deixaram de ter o encanto de outrora, tal como o circo, maravilha, delícia e alegria sempre renovada da infância. Hoje, do circo, gosto dos palhaços e dos ilusionistas, (embora nem sempre), ao contrário do que sucede nos programas que a TV por vezes transmite. (MMA - 1986.07.28).
5. - Estive "apaixonado" em menino por duas louras meninas
contorcionistas de circos que actuaram em Luanda. Claro que hoje encararia o
trabalho delas como exploração do trabalho infantil. Como hoje veria de outro
modo as "habilidades" dos animais amestrados.
Mas os meus olhos deslumbrados de
menino, como os da criança em o "Cinema Paraíso", de Tornatore, não
são os meus de adulto. Mas o que me atraía no maltrapilho palhaço pobre, como
maltrapilho e vagabundo era o personagem Charlot de Chaplin, era que apesar das
bofetadas que recebia do bem vestido palhaço "rico", era que sobre
este (como Charlot sobre a polícia ou o brutamontes) levava sempre a melhor. (21
de Deze)mbro de 2014 às 22:00
O circo em filmes que vi
Em O maior espectáculo do Mundo (The Greatest Show on Earth), de Cecil B. DeMille (1952) retrata-se a vida num circo, entre documentário e uma trama amorosa, conjuntamente com o segredo do palhaço Buttons (James Stewart), roubos e crimes.
Charlton Heston, Betty Hutton, Cornel Wilde, Dorothy Lamour e Glória Grahame interpretam respectivamente os papéis de gerente e artistas do circo. O enredo do filme é apoiado em números circenses reais, não encenados, mostrando também a complexa logística exigida pelos grandes circos como o Ringling Bros . e Barnum & Bailey, cujos artistas actuam na película; os palhaços Emmett Kelly e Lou Jacobs , o anão Cucciola, o maestro Merle Evans, a malabarista Miss Loni e a trapezista Antoinette Concello. John Ringling North interpreta-se a si mesmo como o dono do circo.
Diferente é a perspectiva de A Estrada (La strada), de Frederico Fellini (1954), com Giulietta Masina (Gelsomina), Richard Basehart (Il Matto), dois artistas ingénuos e simplórios, e Anthony Quinn (Zampanò), um brutal e violento ferrabrás. Não há sofisticação nas relações humanas neste circo itinerante, actuando na via pública, sobrevivendo das gorjetas dos espectadores
Mais lírico é O Circo (The circus), de Charles Chaplin (1928), uma comédia romântica do cinema mudo. Charlot é um vagabundo, confundido com um carteirista que, perseguido, se torna acidentalmente a principal vedeta dum circo. Desenvolve-se uma trama romanesca entre o vagabundo, a cavaleira, recorrentemente maltratada pelo padrasto, e o equilibrista, por quem ela se apaixona em detrimento da nova vedeta. No fim o vagabundo abandona o circo e, despreocupadamente, volta a põr o pé na estrada.
Um dia no circo (At the Circus), de Eduardo Buzzell (1939) com os Irmãos Marx, (Groucho, Chico e Harpo) é uma comédia. Groucho é um advogado que vai ajudar Harpo e Chico, empregados num circo, a descobrirem os larápios do dinheiro destinado a pagar a hipoteca do dono do mesmo. Fazem-no com êxito, no meio dos maiores disparates e loucuras com auxílio dum gorila!
Também Buster Keaton
tem pequenos sketch burlrscos relacionados com actividades circenses, como uma
actuação no Medrano Circus de Paris (1947), e outro num programa de TV, intitulado
Circus Time (1956)
Em Luzes da Ribalta (Limelight), de Charles Chaplin (1952), este interpreta o papel de Calvero, um velho comediante de vaudeville, outrora famoso, entretanto esquecido, que salva uma rapariga, bailarina, Thereza (Claire Boom). Ajudando-a a recuperar da sua invalidez, permitindo que regresse aos palcos, com êxito, Calvero, apoiado por esta, tenta por sua vez voltar ao mundo do palco, com êxito, num espectáculo único, em parceria com um antigo companheiro, interpretado por Buster Keaton. Mas, contrariamente ao habitual nos filmes de Chaplin, poderá considerar-se que este termina de forma trágica?
Saltimbancos, de Manuel Guimarães (1951), filme neorrealista como La Strada, de Felinni, baseia-se num conto de Leão Penedo (1945), sobre a vida e a morte de uma companhia de saltimbancos. Trata-se do «Circo Maravilhas – pequeno e decadente, tristonho e dramático na sua miséria, nos conflitos e fatalismo dos velhos artistas, na coragem da veterana trapezista, no trilhar errante duma aventura insolidária, onde o afecto e o companheirismo rasgam, no horizonte, uma esperança inextinguível» (Wikipedia)
Dumbo, o
elefante voador (Dumbo), de Samuel Armstrong, Norman Ferguson e
Wilfred Jackson, é um filme de desenhos
animados dos Estúdios Disney (1941) narrando a história dum elefante. alcunhado
como Dumbo (burro) devido às suas enormes orelhas, Com o auxílio dum rato,
Timothy Q. Mouse e dum corvo, Dandy Crow, torna-se a "nona maravilha do
universo" e o único elefante voador do mundo, superando o ostracismo e
desprezo que, por causa das suas grandes orelhas, haviam-no acompanhado desde o
nascimento.
O Mundo do Circo (Il Circo e la sua grande aventura / Circus World), de Henry Hathaway (1964), com John Wayne, Claudia Cardinale e Rita Hayworth, numa trama romanesca, é uma variante dos filmes atrás referidos. Nos EUA, no último quartel do século XIX um empresário, depois de adquirir um circo falido, resolve inovar misturando números circenses tradicionais com outros do Velho Oeste, tipo The Buffalo Bill Show. Após um enorme sucesso inicial do Circus Maximus, decide-se realizar uma tournée pela Europa, recuperando com estrondoso êxito do naufrágio ocorrido durante a travessia transatlântica.
Numa perspectiva completamente diferente, 007 - Operação Tentáculo Octopussy (Octopussy), de John Glen (1983), com Roger Moore, é um filme de espionagem, uma controversa comédia em torno do assassinato dum agente secreto, do furto de joias russas, e de planos dm tresloucado general soviético para destruir Berlim com uma bomba nuclear, com. um príncipe afegão exilado e Octopussy, uma contrabandista conjunturalmente aliada com o agente 007, tudo isto com rocambolescas perseguições, em que um circo surge como pano de fundo. (2024 08 13)
Indomáveis (Cristo y Rei) é uma minissérie espanhola (2023), baseada em factos verídicos, envolvendo a relação amorosa entre uma elebridade, estrela de cinema e TV, e um artista circense, famoso domador de feras, proprietário dum circo em falência. O casamento entre amos torna-se um negócio lucrativo, por detrás do qual se encontra um mundo de violência e traição
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)