terça-feira, 29 de outubro de 2024

Letras empilhadas, ano após ano, em Outubro, 28 e 29, (re)colhidas em 2024

* Victor Nogueira 

 28 de outubro de 2010  · 

boletim médico-meteorológico - Cavaco quebrou o tabu do segredo de polichinelo. É (quase) tudo para  escavacar, mais nobre, menos alegre, nas urnas? . Como o tempo: cinzento, triste, frio  e chuvinhento ! Fiem-se na Virgem e na Senhora de Fátima e óspois ...



SOL RIO INVERNAL

pálido solfejo
mau desejo
de chuva miudinha
relampejante
gélido
de frio trovejante
branco
de leitosa neblina
mal arrumadinha
infernal a
cinza trespassante
soalheiro na eira
esquálido de
brumoso invernal
sem lareira
de castanhola
batendo o dente
mal se sente
o sol
eis o dia
que rabia
no areal

Setúbal 2013.10.28

Maria Natália Bravo - Gosto destes teus escritos!
11 a

 28 de outubro de 2013  · 

 com a ciência
e na cidade
já perdi a inocência
mas não a ingenuidade
nem a crença
na liberdadigualdade
solidária e não solitária
apesar da idade

setúbal  2013.10.28



28 de outubro de 2019  · 
 
foto victor nogueira - muitas vezes tomo as refeições na cozinha, numa mesinha que também é a mesa de apoio para prepará-las. 

Esta é a vista que tenho então defronte de mim, similar á da sala de jantar. 

No plano de obras que venho concretizando desde há anos, e para cuja fase inicial e de arranque contei com a colaboração prestimosa do Sérgio, no plano de obras está pois e neste momento a modificação da cozinha, que inclui  a mudança do lava-louças e criação duma bancada de apoio.

Será esta a vista e não uma parede azulejada (que remonta ao tempo em que o meu avô Barroso a mandou edificar, a dois passos da estação ferroviária  do  então comboio suburbano da Póvoa de Varzim, hoje em dia estação do metro de superfície do Porto)  

Claro que a paisagem vai variando, ao sabor das estações climátcas e dos trabalhos agrícolas no campo que se estende até ao horizonte,


29 de outubro de 2016 
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Esta Pénelope
não em Ítaca
mas no cimo do cerro
encerrada
por Ulisses não serra
as grilhetas
em cíclope tarefa.
Cadenciadamente
cai areia nas ampulhetas
e a teia
não ateia nem incendeia,
sem chama
a nau vagueia.
Tece pois Penlope a manta
sinhá moça rendeira
e em Tróia jazz
sem paz o segredo
que rima
em degredo
A harpa
hárpia é
uma farpa na rude escarpa
Não arrima Penélope
e
sem corda não acorda
sem ponte que aponte a fonte
não corre
em cerrado morre no cerro
sem Lampião
Maria, a Bonita!.
Mindelo 2016.10.28
~~~~~~~~~

ACOMPANHAMENTO MUSICAL


Mulher rendeira, por António dos Santos (Volta Seca)


Acorda, Maria Bonita (Cantigas do Lampião), por António dos Santos (Volta Seca)


O cangaceiro (Mulher rendeira), por Joan Baez

Antonio dos Santos, mais jovem cangaceiro de Lampião, conhecido como Volta Seca, canta a versão original de Mulher Rendeira e Acorda, Maria Bonita, em Cantigas de Lampião. Jon Baez interpreta O Cangaceiro.

Volta Seca entrou para o cangaço aos onze anos de idade, após cometer, com apenas dez anos, seu primeiro homicídio. Assim como Lampião, também foi comparado ao fora da lei Jesse James.
GRAVURA - "olê, mulher rendeira 1" por EDINA SIKORA

29 de Outubro de 2013

o domingo na poesia segundo vários escritores - 10

* Vinícius de Morais (Dia da Criação)

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Judite Faquinha - Victor,o dia de criação, hoje é sábado amanhã é domingo... de Vinício de Murais está espectacular!!! as as pinturas, são obras de arte,que gosto de algumas, visto que outras não são o tipo de pinturas de que eu gosto... mas está um trabalho maravilhoso. Obrigada VICTOR, pela partilha boa noite, e tem sonhos felizes beijokinhas ❤
11 a

Maria João De Sousa -
Obrigada, Victor Nogueira! Um extraordinário poema do Vinicius de Moraes e uma não menos extraordinária colecção de telas para começar um dia que se apresenta menos bom, no que a mim me diz respeito... o meu abraço!
11 a

Manuela Miranda - As pinturas algumas fizeram-me impressão algumas e outras arrepios mas são belas, O texto gostei. Obrigado Amigo
11 a



29 de outubro de 2014 
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foto victor nogueira - oeiras - parque dos poetas (zona B da 2ª fase) - João Ruiz de Castelo Branco, da autoria do escultor Rui Matos

Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
partem tão tristes os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
otros nenhuns por ninguém
(João Ruiz de Castelo Branco)

~~~~~~~~~~
Maria Jorgete Teixeira - Uma pérola do nosso Cancioneiro! e uma foto bem adequada 10 a

Maria João De Sousa ... e o lindíssimo poema que acompanha a imagem, claro! 🙂 10 a
Joaquim Carmo - O clássico... sempre belo e actual! E que bem o cantou, Adriano, este poema! Abraço grato!
10 a


Judite Faquinha - O Adriano de Oliveira, é sempre uma maravilha e com este poema que nos encanta, e não nos cansa de ouvi-lo.
10 a

Margarida Piloto Garcia Este poema tão simples e belo , estudei-o há muitos anos e nunca o esqueci.
10 a

Isa Alçada - A foto e o poema uma conjugação maravilhosa
10 a



29 de outubro de 2019 
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foto Victor Nogueira - Eça e Ramalho escreveram «O Mistério da Estrada de Sintra» - Menos ambicioso, eu fotografo «O Mistério na Serra da Arrábida», onde não se sabe bem se a terra confina com o Mar-Oceano ou com o Sétimo Céu!

Álvaro de Campos - ESCRITO NUM LIVRO ABANDONADO EM VIAGEM

Venho dos lados de Beja.
Vou para o meio de Lisboa.
Não trago nada e não acharei nada.
Tenho o cansaço antecipado do que não acharei,
E a saudade que sinto não é nem no passado nem no futuro.
Deixo escrita neste livro a imagem do meu desígnio morto:
'Fui como ervas, e não me arrancaram'

Álvaro de Campos - Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça,
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?
Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,
Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,
Sempre, sempre, sempre,
Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...
Maleável aos meus movimentos subconscientes do volante,
Galga sob mim comigo o automóvel que me emprestaram.
Sorrio do símbolo, ao pensar nele, e ao virar à direita.
Em quantas coisas que me emprestaram guio como minhas!
Quanto me emprestaram, ai de mim!, eu próprio sou!
À esquerda o casebre — sim, o casebre — à beira da estrada.
À direita o campo aberto, com a lua ao longe.
O automóvel, que parecia há pouco dar-me liberdade,
É agora uma coisa onde estou fechado,
Que só posso conduzir se nele estiver fechado,
Que só domino se me incluir nele, se ele me incluir a mim.
À esquerda lá para trás o casebre modesto, mais que modesto.
A vida ali deve ser feliz, só porque não é a minha.
Se alguém me viu da janela do casebre, sonhará: Aquele é que é feliz.
Talvez à criança espreitando pelos vidros da janela do andar que está em cima
Fiquei (com o automóvel emprestado) como um sonho, uma fada real.
Talvez à rapariga que olhou, ouvindo o motor, pela janela da cozinha
No pavimento térreo,
Sou qualquer coisa do príncipe de todo o coração de rapariga,
E ela me olhará de esguelha, pelos vidros, até à curva em que me perdi.
Deixarei sonhos atrás de mim, ou é o automóvel que os deixa?
Eu, guiador do automóvel emprestado, ou o automóvel emprestado que eu guio?
Na estrada de Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a noite,
Guiando o Chevrolet emprestado desconsoladamente,
Perco-me na estrada futura, sumo-me na distância que alcanço,
E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,
Acelero...
Mas o meu coração ficou no monte de pedras, de que me desviei ao vê-lo sem vê-lo,
À porta do casebre,
O meu coração vazio,
O meu coração insatisfeito,
O meu coração mais humano do que eu, mais exacto que a vida.
Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao volante,
Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim...


29 de outubro de 2020 ·
"lalanja, lalanja, ué" era um dos pregões das quitandeiras que percorriam as ruas em Luanda na venda de produtos alimentares, a cesta na cabeça e por vezes o filho transportado às costas.928
foto victor nogueira - laranjas no Mindelo


29 de Outubro de 2024

Quando estive a estudar no Porto em 1963 encravou-se-me uma unha num dos pés e durante meses seguidos fui ao calista que a desencravava, mas no mês seguinte lá estava eu de novo caído. Ao regressar a Luanda fui ao calista que, menos "habilidoso", ma desencravou definitivamente, logo à primeira.

Aqui há uns anos fiquei dum momento para o outro completamente surdo, recomendando-me uma amiga minha um otorrino que descobriu de imediato a causa, excesso de cera nos ouvidos, que periodicamente tem de ser removida para recuperar (parcialmente) a audição.

Muitos anos antes consultara um outro otorrino, que me “enviou” para um exame audiológico na sua empresa. Paguei pois a consulta e os exames, e em nova consulta levei-lhe o relatório. Ao sair perguntei “Quanto lhe devo?”. “Nada”, respondeu-me. E, passando pela recepcionista da clínica de que sou “cliente”, despedi-me, retorquindo ela que tinha de pagar a consulta. Retorqui-lhe que o médico dissera que nada devia.

Já na rua, indo já mais adiante,oiço alguém a gritar-me repetdamente: “Não pagou a consulta!” Estupefacto, repeti o que o médico me dissera, mas perante a insistência dela voltei atrás para esclarecer o imbróglio.

Respondeu-me então o médico que o que dissera fora eu pagasse a consulta fora do consultório. Retorqui-lhe que não, se assim fosse, à minha pergunta deveria ter dito “Pague lá fora”, acrescentando: “Paguei-lhe a 1ª consulta, paguei-lhe o exame audiológico e o doutor quer que lhe pague para lhe mostrar o relatório que assinou”.

Comentei de seguida que lhe pagava a consulta, acrescentando que o que estava a acontecer me parecia a história do bife com batatas fritas e ovo a cavalo: “Antigamente pagava-se tudo uma única vez, agora paga-se o bife e mais duas contas separadas, a das batatas fritas e a do ovo a cavalo.” O médico sentiu-se ofendido mas retorqui-lhe que pagava a consulta, que eu não ficava nem mais rico nem mais pobre, mas que ele acabara de perder um “cliente”.

Aviei os aparelhos, um balúrdio, mas desisti de usá-los pouco depois. Perdera a minha zona de conforto, pois na rua não ouvia senão estridentes ruídos e no Jumbo me incomodaram deveras os estridentes guinchos duma criancinha com birra! No Fiesta I tinha de pôr a múica do leitor de CD's aos berros para se sobrepor à chinfrineira na rua!

Toda esta prosa na sequência dum naco em crónica de Carlos Esperança onde a certa altura ele escreve «Os aparelhos têm idiossincrasias, coisa de admirar em objetos, mas a sua vocação para sobreporem ruídos à voz humana é prodigiosa. Qualquer motor a trabalhar a dezenas de metros abafa as vozes de uma conversa. É a vida!»

29 de Outubro de 2024



29 de Outubro de 2024


Foto Victor Nogueira - Setúbal - 'Desenhos da prisão' , na Avenida Álvaro Cunhal (2024 09 29 IMG_5195)
Álvaro Cunhal (1913 - 2005) foi um destacado militante do PCP e seu Secretário-Geral de 1961 a 1992. A sua adesão ao PCP, efectuou-se em 1931, tendo sido Secretário-Geral da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas em 1935.
Em consequência da sua acção e militância comunistas e de oposição ao Estado fascista, esteve preso entre junho de 1937 e julho de 1938, entre maio e novembro de 1940 e entre março de 1949 e janeiro de 1960, num total de 15 anos, oito dos quais em completo isolamento.
Para lá da sua militância política, Álvaro Cunhal foi artista plástico e romancista, escrevendo sob o pseudónimo de Manuel Tiago, o que só revelou em 1994.
Na placa central desta artéria foram colocados painéis reproduzindo em ambas as faces alguns dos 'desenhos da prisão', executados de 1951 a 1959 nas cadeias da Penitenciária de Lisboa, onde Álvaro Cunhal passou sete anos de rigoroso isolamento, e do Forte de Peniche, de onde se evadiu a 3 de Janeiro de 1960.
A obra, inserida na requalificação desta avenida, foi inaugurada em 10 de Novembro de 2018.

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)