Letras empilhadas, ano após ano, em Outubro, 30, (re)colhidas em 2024
* Victor Nogueira
30 de Outubro de 2011
Carlos Drummond de Andrade - Caso Pluvioso, interpretado por Paulo Autran
A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que Maria é que chovia.
A chuva era Maria. E cada pingo
de Maria ensopava o meu domingo.
E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.
Eu era todo barro, sem verdura...
Maria, chuvosíssima criatura!
Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.
Era chuva fininha e chuva grossa,
matinal e noturna, ativa...Nossa!
Não me chovas, Maria, mais que o justo
chuvisco de um momento, apenas susto.
Não me inundes de teu líquido plasma,
não sejas tão aquático fantasma!
Eu lhe dizia em vão - pois que Maria
quanto mais eu rogava, mais chovia.
E chuveirando atroz em meu caminho,
o deixava banhado em triste vinho,
que não aquece, pois água de chuva
mosto é de cinza, não de boa uva.
Chuvadeira Maria, chuvadonha,
chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!
Eu lhe gritava: Pára! e ela chovendo,
poças dágua gelada ia tecendo.
Choveu tanto Maria em minha casa
que a correnteza forte criou asa
e um rio se formou, ou mar, não sei,
sei apenas que nele me afundei.
E quanto mais as ondas me levavam,
as fontes de Maria mais chuvavam,
de sorte que com pouco, e sem recurso,
as coisas se lançaram no seu curso,
e eis o mundo molhado e sovertido
sob aquele sinistro e atro chuvido.
Os seres mais estranhos se juntando
na mesma aquosa pasta iam clamando
contra essa chuva estúpida e mortal
catarata (jamais houve outra igual).
Anti-petendam cânticos se ouviram.
Que nada! As cordas dágua mais deliram,
e Maria, torneira desatada,
mais se dilata em sua chuvarada.
Os navios soçobram. Continentes
já submergem com todos os viventes,
e Maria chovendo. Eis que a essa altura,
delida e fluida a humana enfibratura,
e a terra não sofrendo tal chuvência,
comoveu-se a Divina Providência,
e Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Não chove mais, Maria! - e ela parou.
~~~~~~~~~~
Victor Nogueira - Não estava aqui, Jorgete. De vez em quando baso e estive a ler um livro sobre naufrágios!
13 um
Maria Jorgete Teixeira - Não faz mal. Naufragados estamos todos nós...
Mas também li, há uns anos atrás, um livro do Gabriel Garcia Marquez sobre um naufrágio, muito interessante!
13 um
Victor Nogueira - Gosto da linguagem (actualizada) da História Trágico-Marítima e da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes. Não me lembro desse do Gabriel e ainda não acabei de arrumar os milhares de livros ue povoam esta casa, excepto nas duas casas de banho e nas varandas da sala e da cozinha
Mas o que estou a ler é um para adolescentes, por causa das gravuras. Leio vários ao mesmo tempo: um do Cesário Borga e outros dois jornalistas sobre o 25 de Novembro (muito mais isento e documentado, citando as fontes, ao contrário dum outro do Freire Antunes, que manda bocas mas não cita as fontes) e Os Tambores de Bronze do Jean Lartéguy. Acabei de ler No percurso das Guerras Coloniais, de Moutinho de Pádua e, da Alice Vieira, um Os Profetas, metáfora aos tempos presentes, embora a acção decorra no tempo do senhor D. João III e da Inquisição. Gostei muito deste último
13 um
Maria Jorgete Teixeira - Cruzes, tanto livro e tanta leitura!
Eu, como ainda estou a trabalhar, leio mais nas férias, romances principalmente, não tenho muita pachorra para histórias. Ultimamente li um de Mia Couto que eu adoro incondicionalmente , também li há pouco um de José Luís Peixoto. "A sombra do Vento" de Zafon,é um romance muito interessante sobre um livro e a relação que o personagem estabelece com as personagens do livro num desenrolar quase como se fosse uma história policial.
13 um
Victor Nogueira - Ah! Eu sempre li muito. Mas enquanto fui gestor de recursos humanos no Barreiro e em Setúbal tinha de ler e escrever a contragosto - diários da república, requerimentos, escrever informações e pareceres ... Durante uns dois anos depois de ser "saneado" e emprateleirado pelo PS tinha um a fartura tão grande que não me apetecia ler e apenas escrevia poesia e - claro - pareceres no Planeamento Urbanístico. Era um saltimbanco, pois ao 6º parecer negativo mudavam-me as tarefas e passavam-nas a outro mais acomodatício". Mas nos últimos três do PS e nos três do meu partido, quando resolvi reformar-me, a minha única tarefa era picar o ponto à entrada e à saída, e o que me valia era o trabalho sindical e político
13 a
Maria Jorgete Teixeira - Ora, nós somos ainda do tempo da biblioteca ambulante da Gulbenkian. Eu devorava livros desde os portugueses Julio Dinis, Eça Aquilino Ferreira de Castro : Victor Hugo, Balzac, Hemingway, Maximo Gorki, Tolstoi, sei lá...Quando vim para a faculdade comecei a entrar em contacto com um novo universo "os subterraneos da liberdade" do Jorge Amado, o Alves Redol, o Soeiro Pereira Gomes...
13 a
30 de outubro de 2012 ·
Foto Victor Nogueira - Ferreira do Alentejo - Capela que erradamente dissera ser um monte [foto anterior] . Em foto anterior não estava ... imaculada.
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Manuela Vieira da Silva - Afinal tem cruz! É a mesma capela que a anterior, Victor Nogueira? A mim parece-me, pena é a degradação a que chegou.🙁
12 a
Judite Faquinha - Tem cruz sim senhor, é pequenina mas tem... aqui junta desta capela deve ser um paraiso... com calmaria tranquilidade, local lindo, mas desprezado, há muito situações destas por este Portugal a fora. bjs
12 a
27 de outubro de 2012 ·
Foto Victor Nogueira - Ferreira do Alentejo capela na herdade da Quinta de São Vicente (legenda rectificada)
Judite Faquinha
Ó Victor, assim que vi esta linda foto no meu mural conheci logo esta maravilha...na serra do lado esquerdo andei por lá mas tinha que ser de gatas pois o vento não me deixava por de pé, era a minha praia preferida, e o Castelo majestoso! Linda foto e o mar, que eu adoro... de vez em quando ainda lá vou há casa do choco frito e pelo Carnaval!!! Obrigada Victor pela partilha adorei, faz reviver emoções do passado.
11 a
Manuela Miranda - bonita esta vista do castelo e paisagem maravilhosa Obrigada Amigo
11 a
Maria Márcia Marques - Fica a imagem para registar....e perdura
11 a
Donzilia Conceiçao - Sesimbra é uma coisa, e esta foto é o exemplar vivo da beleza eterna que tem Portugal. Beijo Victor pela partilha.
11 a
Manuela Vieira da Silva - Para variar, Victor, digo de sorriso aberto, que já estive neste lugar, ainda com apenas meia dúzia de prédios. Como cresceu!!!
11 a
30 de outubro de 2016 ·
Esta madrugada, antes de deitar-me, mudo a hora nos relógios. Quando hoje entre no carro paa ir almoçar ao Porto, olho para o relógio e leio 12:40. Telefono à minha tia Teresa a dizer-lhe que vou chegar atrasado e ea responde-me coma sua habitual placidez sorridente:"Ainda vens muito a tempo, só são ainda 10:40. Não sabes que ontem mudou a hora ?"
Bolas, andei eu na esgalha e afinal em vez de atrassr a hora adiantei-a. Enfim .. Talvez assim e no caminho ainda tenha tempo de fotografar a Igreja românica de Cedofeita.
Isto de chegar tarde é uma pecha de família. Para tentar evitá-lo a minha mãe tinha o relógio sempre adiantado 10 minutos e eu comentava-lhe que se eu tivesse o relógio adiantado 10minutos nem por isso chegaria a tempo pois sabia que ele estava .. adiantado e dava o desconto.
Ontem a imagem ao lado foi a minha foto de perfil mas, com as minhas "apressuras" e habituais leituras em diagonal, li que deveria adiantar a hora quando, reparando melhor, o Tintim às duas horas está não a puxar para diante o ponteiro das horas mas sim a empurrá-lo para trás.
30 de outubro de 2018 ·
foto victor nogueira - Setúbal - O Convento de Jesus na Revista O Panorama, Jornal Litterario e Instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, vol I Série 2ª (Janeiro a Dezembro 1842), gravura 15, página 113
30 de outubro de 2020 ·
Há uma expressão popular que é "dão-se como cães e gatos", isto é, dão-se mal, brigam entre si.
Aparentemente os da foto estão em coexistência pacífica, tal como os qe havia em nossa casa no quintal, em Luanda, que cmpartilhavam o mesmo preto da comida.
foto victor nogueira - cães e gatos, em Alcácer do Sal
Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)