terça-feira, 11 de novembro de 2025

Alexandrina Silva

 * Victor Nogueira 

11 de novembro de 2018 
Conteúdo partilhado com: Público
foto a la minuta - Guimarães 1968.09.29 - Duas notas seguidas dum poema de Eugénio de Andrade: 'O lugar da casa'
1. - «A Susana, acabada de acordar, veio até aqui perguntar se eu andava a escrever o meu diário, emitindo a douta opinião de que os diários só se escrevem ... ao fim do dia e não a meio da manhã. Quanto ao Rui apareceu agora dizendo que era um hippie, de tronco nu, vestido com as calças de ganga, um colete da irmã e as jóias artesanais dela ao pescoço e nos braços. É o ai Jesus da Alexandrina, que o trata como o menino da avó, com ternurinhas e cuidados risonhos, coisa a que não está muito habituado.» (MMA - Paço de Arcos, 1993.08.20)
2. - «De modo que me sentei aqui no quarto do meu tio José João para ocupar o tempo a escrever enquanto ele assiste a um desafio de futebol transmitido pela TV; a minha tia Maria Luísa lá ao fundo, na sala, assiste a outro programa com a Alexandrina, a viúva do meu avô Zé Luís. Quanto ao Rui e à Susana foram para a cozinha especar-se frente a um terceiro televisor, para ver um filme com o Robert de Niro e o Robert Duvall. Televisores não faltam e é difícil haver guerras por causa dos programas (ainda há um quarto aparelho, que está desligado)»» (MMA 1993.08.18 - Paço de Arcos)
O LUGAR DA CASA, por Eugénio de Andrade
Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.
Eugénio de Andrade

11 de Novembro de 2024 

Foto JL Castro Ferreira - Em 1963, No Porto, na Rua Fernandes Tomás - Victor, Alexandrina, Teresa e Isabel, a "Chicolateira"

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)