História de Castelo
A freguesia de Santa Cruz do Castelo, muralha pela alcáçova e englobando o castelo-fortaleza (Castelo de S. Jorge - assim baptizado por D. João I em honra do santo padroeiro dos soldados), o último reduto defensivo, conhecido como Castelejo (hoje castelo-monumento com uma função simbólica), os vestígios do antigo passo da alcáçova e uma área habitacional, possui uma longa e complexa história que remonta à Idade do Ferro. Desde então foi habitado por comunidades diversas, entre as quais romanas e islâmicas, que deixaram marcas da sua presença (como se depreende dos vestígios arqueológicos descobertos nas escavações em curso). Em 1147, depois de várias tentativas frustradas, a cidade islâmica é definitivamente conquistada pelos cristãos para o recente reino de Portugal. Após esta reconquista, D. Afonso Henriques transforma a cidadela militar na residência dos reis portugueses, mandando reparar as estruturas muralhadas e o palácio do alcaide muçulmano (que passa a ser o Paço da Alcáçova).
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Foi então edificada, no local da antiga mesquita, a Igreja de Santa Cruz do Castelo, que dará o seu nome à freguesia, sendo baptizada pelos conquistadores cristãos com o nome de Santa Cruz para que não restassem dúvidas de que todo o chão da alcáçova se tornasse cristão. Durante os séculos XIII e XIV são efectuadas novas obras, nomeadamente por D. Diniz (que promoveu obras de vulto no paço) e, posteriormente, por D. João I, que na sequência da crise política de 1383 - 1385, manda demolir parte das muralhas. A monarquia habitou continuamente o Paço de Alcáçova até finais do século XV e inícios do século XVI, altura em que a expansão marítima confere à zona ribeirinha particular importância, o que impõe a construção do moderno Paço da Ribeira no que é agora a Praça do Comércio, mandado efectuar por D. Manuel I cerca de 1511.
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Em 1580, a ocupação espanhola de Portugal por parte da dinastia filipina veio trazer alterações substanciais ao castelo e à freguesia civil anexa, sendo o primeiro ocupado por quartéis militares e prisões, utilizações que se manterão durante os séculos seguintes. Em 1755 o Terramoto danifica as estruturas ainda existentes no castelo e dos edifícios de habitação e a posterior reconstrução é feita não de uma forma institucionalmente organizada, planeada e racional, como aconteceu na denominada "Baixa" pombalina da cidade, mas de uma forma espontânea.
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Esta reedificação foi levada a cabo com a recuperação dos antigos materiais remanescentes e sobre as antigas fundações, originando uma arquitectura de desenho simples, que se implanta sobre uma malha urbana que repete traçados medievais, constituída por arruamentos estreitos e irregulares. Em 1938 / 1940 o castelo enquanto monumento é objecto de obras profundas que visam torná-lo um valor simbólico da nacionalidade e identidade portuguesas. Refizeram-se então quase totalmente as supostas muralhas medievais, obedecendo a critérios muito mais ideológicos que históricos, mas deixa-se esquecida a parte habitacional.
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O castelo-monumento de S. Jorge, classificado como Monumento Nacional em 1910, foi objecto de obras em 1938 – 1940 que levaram à destruição dos edifícios dos quartéis aí existentes e à recriação do actual castelo medieval. Esta grande operação de restauro e de reconstituição (ou de recriação) a que foi sujeito pelo Estado Novo de Salazar, por ocasião das comemorações da fundação e restauração da nacionalidade e da “Exposição do Mundo Português” de 1940, transformaram-no em símbolo da nacionalidade e da identidade portuguesa, assumindo o lugar que tem hoje no imaginário lisboeta. A sua reedificação foi claramente uma opção estética que se ligava ao enunciado político de dar a Lisboa um rosto de “capital do Império” e foi ideologicamente delineada pelo então Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco. Mais que recuperar testemunhos de outras épocas procurou-se fabricar um símbolo cénico.
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)