quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Uma viagem de avião - Lisboa - Luanda e não só

* Victor Nogueira
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O avião, o Super Constelation Infante D. Henrique, descolou [de Lisboa] à meia noite, com um atraso duns 15 minutos. (1) Foi neste avião que em Dezembro último vim para a Metrópole. Até Bissau, onde desembarcaram grande número de passageiros, o avião ia cheio. Não dormi mais dumas três horas. O barulho dos motores era ensurdecedor, mas depressa me habituei.

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Deram um pequeno almoço antes da aterrisagem em Bissau. O aeroporto é simples, mas pelo que sei um dos melhores de África. Vi lá dois aparelhos de radar do exército. Estava calor.

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Como já íamos atrasados não parámos em S. Tomé. Tive bastante pena de não ver o tio Jorge. A partir do meio dia a viagem tornou se deveras monótona. Conversava com o meu companheiro de viagem, um funcionário de Luanda, via a paisagem (só núvens ou mar) ou lia ("O Céu Não tem Favoritos", de Maria Remarque) É um pouco filosófico, mas não desgosto. Assisti ao nascer do sol, visto de 3 000 metros de altitude. É um espectáculo deslumbrante. Começa com um pequeno foco vermelho, que se alastra, como um grande incêndio (as minhas notas foram tomadas às 6 h 15 m de Lisboa). O céu até há pouco estrelado, mantém se escuro, talvez azul ou preto. Por fim todo o horizonte está vermelho e começam a distinguir se as núvens, num contra luz soberbo.

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Chegámos a Luanda às 19 h 35 m (hora de Luanda). A cidade vista de cima é pouco iluminada. Mas de lado, parece um cintilar de pedras preciosas. Será um aspecto maravilhoso de Luanda que conservarei muito tempo. Um pôr do sol visto de avião também é um espectáculo agradável. (1963.11.24/26 - Diário III)

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1 - A primeira vez que andei de avião - avioneta - foi de Luanda para o Uíge, talvez em 1949. Dessa viagem recordo apenas um painel cheio de mostradores, o da cabine do piloto, com quem fiz toda a viagem, segundo a minha mãe. Gosto de viajar de avião, embora uma das viagens tivesse sido muito aborrecida, por alturas da guerra em Angola, quando os países africanos proibiram o sobrevoo dos respectivos territórios pelos aviões portugueses. Estes tinham de bordejar a costa africana. Salvo erro fizemos escala em Cabo Verde, de cujo aeroporto não podemos sair, fortemente guardado pelas forças militares. 19 horas de avião, sempre sentado, sem poder mexer, salvo nas idas ao WC, é obra! Nos Super Constelation a hélice a viagem durava cerca de doze horas, com o suplício das «quedas» bruscas do avião nos poços de ar, enquanto que com a introdução dos Boeing pela TAP ela se tornou mais agradável e menos demorada: 8 horas.

Outra vez, já nos anos 70 do século passado andei com um colega meu que pilotava a avioneta sobrevoando Évora e arrredores durante meia hora, de que recolhi algumas fotos. Só tive um certo receio na aterragem, apesar da confiança no piloto, quando vi o chão a aproximar-se e a correr logo ali até a teco-teco aterrar e parar na pista.
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Mas outro grande deslumbramento foi uma vez que o avião chegou a Lisboa já de noite e a cidade era um enorme luzeiro de mil candeias cintilantes.
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Uma viagem de avião - Luanda - Lisboa

A viagem correu optimamente, excepto quando sobrevoámos Lisboa. Devemos ter apanhado alguns poços de ar e parecia que o estômago me saía pela boca. Em Kano [Nigéria] apanhei um bocado de frio. (...) Atravessámos montanhas, ou melhor, sobrevoámos montanhas cobertas de neve e o Deserto do Saara. (...) A comida a bordo era para um pássaro. E paga um sujeito uns poucos de contos para isto.

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No aeroporto estavam à minha espera a Bita, a Maria Luísa e a minha madrinha [Cristina Santos] (NSF - 1962.12.28)

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Kano (Nigéria)

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---------Em Kano, onde chegámos de madrugada, (de Luanda para Lisboa) tive ocasião de ver que o pouco inglês que sei não servia nem para pedir uma chávena de café com leite. O que me salvou foi a hospedeira do ar, pois eu e o criado não nos entendíamos.

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Gostei bastante da viagem. Para mim é um prazer andar de avião. Em Kano apanhei um bocado de frio. (Diário III - pag. 56 - 1962.12.15)

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)