sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Victor Nogueira~ Recordando



Não preciso da fotografia para me recordar de ti ou para me comover ou enternecer ao pensar em ti. Não é preciso que os outros saibam que eu me lembro de ti. E não me recordo de ti por causa da fotografia. Lembro me de ti quando arrumo o armário da sala e vejo os frascos que me deste. Ou quando abro o porta moedas e encontro o pequeno canivete. Ou quando reparo no colorido boneco do negro tocando trompete. Ou quando vejo a saboneteira, ao utilizar o lavatório. Recordo me de ti quando barro o pão com o doce que me deste e que está no fim. Ou quando visto a camisa de flanela aos quadrados. São marcas tuas, a partir das quais, conforme o dia, nascem outras recordações, enquanto para mim tiveres qualquer significado.

(...) Olho para a saboneteira e lembro me de Alcochete e da casa cheia de sol e do corredor com "azulejos". Vou ao Barreiro e no jardim lembro me que estivemos lá: "Estive aqui com [ela]" E lembro me do Seixal e dos cafés barulhentos e da primeira vez que foste a minha casa. Ou recordo a vez em que fomos ao Carregado ou a Santarém ou que fui ter contigo à Baixa da Banheira, com o Rui Pedro, tu já de roupão pois pensavas que eu já não apareceria. Recordo me das vezes em que me apeteceu ficar contigo até de manhã, mas em que não fiquei porque não queria que as pessoas falassem de ti ou tirassem as crianças da creche. (MFP - 1997.06.12)

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)