27 de Setembro de 2013 às 23:48
* Victor Nogueira
O Nosso Partido
O nosso partido
é o futuro no presente construído
Na praça se demonstra
Na praça se vê
Na praça se ouve
Na praça se diz
.
Abril é passado
presente o deserto
esperança o futuro
.
Fora dele....... deste nosso partido
sem vida é o presente
sem humanidade o futuro
vazios os campos
inóspita a cidade
1982 | 1992
No comboio para o Barreiro
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De negro vermelho
De negro vermelho
Em campo aberto mal fechado
…………..pela paz em construção
…………..pelo pão que se não faz
…………..pela liberdade sem caridade ...
Coisas…belas só de vê-las
……uma criança em contradança
……com imaginação no coração
.……esperança e alegria
…… pedra a pedra no dia-a-dia
…….da cidade em democracia.
Não há criação sem mim, diz o patrão
…………..amigo da servidão
…………..de porrete na mão !
Quem assola o sossego de quem teme o povo demente
…………..seja ou não terra-tenente
…………..com o zé povão em baraço ?
Mas poderá haver outra inspiração
…………..poderá um homem dizer sim ou não
…………..deixando de ser solidário
……com quem tem mau solário
quando lhe pesam a fome
………………a sede e
………………a opressão
……………... de quem não tem pão no meio da escuridão ?!
1991.06.25 | 1992.03.12|
Setúbal
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ELEGIA POR UMA CERTA JUVENTUDE
Eram jovens
..........passeando como fantasmas
com fatos talhados à medida duma roda sem destino.
.
Sorriam
e o sorriso era
.................uma vereda para lado nenhum
.................uma vida de sonhos amortalhados.
.
Eram jovens
de gestos calculados
...............com mil olhos e
.......................dez mil bocas em cadeia
.
E no entanto
para lá deste horizonte cinzento
debruado a cetim
as gaivotas (não) eram águias inatingíveis!
1991.03.20
Setúbal
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LIBERDADE
A felicidade tem o travo amargo
..................de tudo aquilo que é finito
e no entanto distingo
..................por entre a multidão
o teu rosto alegre e o teu ar sereno
!Nas tuas mãos e nos teus dedos
.......................nasce uma criança
que sorri e corre dentro de mim.
Em silêncio junto as palavras
................percorro o teu corpo
................flexível e moreno.
Um rio enche a casa com o murmúrio de mil candeias
enquanto ouço e reconheço os teus passos.
Rio, choro e bailo contigo
quando assomas à porta e
..........busco o veludo dos teus lábios e do teu rosto.
Reparto contigo o pão sobre a mesa
e bebemos o vinho da esperança.
Tudo tem agora outra qualidade
.........................a qualidade do trigo em flor
........................................da brisa incandescente
........................................da sombra refrescante
........................................do sol sem ardor
E no entanto
para lá deste dia
moram o medo, a fome e a solidão
quando tu não estás.
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Nós somos
Nós somos
argila barro calcário
argamassa que une
tijolo a tijolo
pedra a pedra
a ponte o muro a casa o celeiro
o ferro a caldeira o aço
a charrua o arado o tractor
a grua o guindaste o elevador
esta oficina esta fábrica
a corda a linha
o tecido
que amassa nosso alimento
que protege o nosso corpo
Nós somos o caminho
a distância e o acontecimento
no instante ultrapassados
Sem nós
outra seria a mudança
outra seria a qualidade
outro seria o mundo
outras seriam as sementes
Desde sempre pela paz e pela liberdade lutamos
Não pela liberdade dos senhores e dos senhoritos
Não pela paz dos cemitérios
deserto da Roma imperial
Mas pela vida
Enquanto houver voz e mãos
Enquanto houver inteligência e vontade
Enquanto houver
um homem uma mulher
duas crianças
(do Barreiro a Setúbal, em 17 Janeiro 1985,
reelaborado em 13 Outubro 1985 e 01 Março 1989)
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)