sexta-feira, 27 de setembro de 2013

a poesia de Manuel Bandeira

* Victor Nogueira

1.   -Preferia não ter de morar em Passárgada, de que fala Manuel Bandeira em seu poema Vou-me embora p'ra Passárgada

2. -  A poesia de Manuel Bandeira é simultâneamente de uma enorme tristeza e duma enorme solidariedade e amor pelas pessoas e coisas simples, uma poesia muitas vezes tecida com o quotidiano em memórias ou em sonhos ou (des)esperanças.


---------------------

  • Cecilia Barata Este, por exemplo:

    Andorinha


    Andorinha lá fora está dizendo:
    — “Passei o dia à toa, à toa!”

    Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
    Passei a vida à toa, à toa…

  • Minha grande ternura


    Minha grande ternura
    Pelos passarinhos mortos;
    Pelas pequeninas aranhas.

    Minha grande ternura
    Pelas mulheres que foram meninas bonitas
    E ficaram mulheres feias;
    Pelas mulheres que foram desejáveis
    E deixaram de o ser.
    Pelas mulheres que me amaram
    E que eu não pude amar.

    Minha grande ternura
    Pelos poemas que
    Não consegui realizar.

    Minha grande ternura 
    Pelas amadas que
    Envelheceram sem maldade.

    Minha grande ternura 
    Pelas gotas de orvalho que
    São o único enfeite de um túmulo.

    ~~~~~~~~~~~~~~~~~

    Teresa

    A primeira vez que vi Teresa
    Achei que ela tinha pernas estúpidas
    Achei também que a cara parecia uma perna

    Quando vi Teresa de novo
    Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
    (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

    Da terceira vez não vi mais nada
    Os céus se misturaram com a terra
    E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.Irene no Céu 

    ~~~~~~~~~~~~~~~~

    Irene no céu


    Irene preta
    Irene boa
    Irene sempre de bom humor.

    Imagino Irene entrando no céu:
    - Licença, meu branco!
    E São Pedro bonachão:
    - Entra, Irene. Você não precisa pedir licença~

Sem comentários:

Enviar um comentário

Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)