2 de Fevereiro de 2014 às 18:19
* Victor Nogueira
Prossegue a saga dos fins-de-semana, nesta nota ilustrada com a reprodução dos correspondentes postais. Podem assim e no mínimo recrear a vista com paisagens e algum humor. Encontram o texto em e as correspondentes ilustrações em
ao sabor da pena e do olhar - o domingo na poesia segundo vários escritores - 25 - textos de victor nogueira 07
1957 – Luanda 1963 – Pedra Furada (Barcelos) - Goios (Barcelos) - Porto 1965 – Luanda 1969 – Évora 1970 – Évora - Porto 1971 – Évora 1972 – Paço de Arcos - Beja / Beringel 1973 – Évora – Lisboa – Paço de Arcos 1974 – Évora – Porto – Lisboa – Coimbra – Alcácer do Sal – Paço de Arcos 1975 – Évora - Lisboa – Alcácer do Sal 1977 – Évora 1978 – Évora 1980 – Barreiro – Setúbal 1986 - Setúbal 1987 – Setúbal 1988 – Beja
- Célia Champlon, Manela Pinto, Fernanda Manangao e 26 outras pessoas gostam disto.
1957 – Luanda
1963 – Pedra Furada (Barcelos) - Goios (Barcelos) - Porto
1965 – Luanda
1969 – Évora
1970 – Évora - Porto
1971 – Évora
1972 – Paço de Arcos - Beja
1973 – Évora – Lisboa – Paço de Arcos
1974 – Évora – Porto – Lisboa – Coimbra – Alcácer do
Sal – Paço de Arcos
1975 – Évora - Lisboa – Alcácer do Sal
1977 – Évora
1978 – Évora
1980 – Barreiro – Setúbal
1986 - Setúbal
1987 – Setúbal
1988 – Beja
1957
Luanda
Eu passei as férias a
estudar e a pôr os cadernos em dia. Ao domingo ia para a praia. No dia de Natal
eu e o meu irmão levantámo-nos muito cedo e fomos ver as prendas. Das que eu
gostei mais foram um relógio (de pulso), duas máquinas fotográficas e uma caixa
de aguarelas. Às 10 horas fui à missa. Fomos almoçar a casa de um senhor que é
dono da loja Fernandes Gaspar e Irmãos. Depois [fomos] até ao campo. Andámos a
ver os buracos feitos pela Petrofina. (Diário III 1957.01.13)
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1963
Pedra
Furada (Barcelos)
Fomos a Pedra Furada, a
casa da Senhora Deolinda, minha prima em 2º grau. Fica para os lados de Goios,
Barcelos, pela EN 13. (...) Os campos estavam inundados devido às chuvadas que
têm caído ultimamente. Que diferença entre estas estradas e as dos arredores de
Luanda ! Só em Nova Lisboa é que a paisagem é semelhante.
Continua em “Goios - A Páscoa numa aldeia minhota”
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Goios
(Barcelos)
No dia 14 [Abril.
1963], domingo de Páscoa, fui, com o avô Barroso e o tio Zé a Goios, passando
por Famalicão. Almoçámos em Goios, tendo me aborrecido imenso. O "compasso" chegou
por volta das 17 horas. À tardinha fomos para a Pedra Furada. Revi com prazer a[s
minhas primas] Lourdes e a Cândida, e fiquei a conhecer a[s minhas primas]
Celeste e a Amélia. Divertimo-nos bastante. (Diário III - pag. 165)
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Porto
No
domingo, 26 [Maio.1963] vi dois filmes no Coliseu: "Atlas" e
"Uma Rapariga nos teus Braços". Gostei
mais deste último.(Diário III - pag. 171)
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1965
Luanda
Carnaval em
Luanda
Mais um aniversário se aproxima e eu não podia deixá-lo
passar sem te enviar um forte xi e os meus votos de um novo ano muito feliz.
Encontramo-nos todos bem. Dentro de dias, assim que acabarem
os exercícios, escrever-te-ei um dos meus “testamentos”.
Saudades à tia Esperança e José João. Um abraço para todos,
do VM (MLCF 1965.02.21)
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1969
Évora
Évora – piscinas
municipais
Eis aqui um dos lugares
mais aprazíveis do burgo. Ao fundo, a cidade, onde se destacam as torres da Sé.
Em 1º plano, parte do parque que se vê no outro postal. Depois as diversas
piscinas, desde a infantil naté à dos saltos, passando pela olímpica. No edifício
ao lado direito ca um bar, os balneários e a piscina de inverno [coberta]. O
edifício mastodôntico é o Teatro Garcia de Resende. A seta indica o local onde
fica o Instituto, junto à Sé. (MLCF 1969.06.1968)
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1970
Évora
Évora, Fonte
das Portas de Moura
É
um domingo maravilhoso. Ontem estive em Setúbal. Falei com o dr. Armindo
[Gonçalves]. Jantei com a Noémia. Amanhã ou depois encomboio para o Porto, onde
ficarei até 1 ou 2 de Janeiro. Bom Natal. Saudades do VM
Gostei das últimas
cartas da mãe. (NSF 1970.12.20)
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Évora
São
quase horas de jantar. Passei o dia com malta amiga numa Quinta dos arredores;
foi agradável! Estudei umas coisas e agora escrevo-vos, brevemente. Uma direcção da
Associação terminou o mandato e outra tomou posse: passei de Vice-Presidente a
Secretário. Claro, estou na nova Direcção. Rever os estatutos, tornando-os mais
flexíveis e funcionais, e dinamizar a Junta dos Delegados de Curso são as duas
principais metas que nos propomos. Dentro de 13 dias começam as férias. Vou ao
Porto, onde quero ver se consigo participar num Encontro sobre Cinema
Português. Abraços do VM (NSF 1970.12.06)
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Porto
Hoje
tentei pôr a correspondência em dia, mas aquilo está tão atrasado que devem ser
necessários uns longos serões. A partir da recepção deste postal devereis
começar a escrever‑me
para Évora. Espero que tenhais recebido o SDS que enviei na véspera de Natal..
Que mais dizer? Estou na estação dos CTT da Batalha; a escrivaninha treme que
se farta com o esforço que um "hominho" faz para fechar um envelope.
Uma mulherzinha procura quem lhe preencheu um telegrama para dar‑lhe qualquer coisa. E
ao contar‑me
isto poisa‑me
a mão no braço. Gosto da gente do Porto; parece‑me mais humana que a de Lisboa e de
Évora. Saudades do VM (1970.12.26)
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1971
Évora
Plantação de
arroz em Portugal
Preparo
a frequência de Sociologia II enquanto ouço a "Valsa" de Ravel. É uma
tarde de domingo, dum inverno já não rigoroso, aprazível. Sentado numa cadeira,
os pés noutra, rodeado de livros, papéis e apontamentos. Daqui a pouco vou até
ao café lanchar e ler o jornal. A dona da casa ainda não veio arrumar o quarto.
A "Pedra Filosofal" é para o Zeca Jones.
Saudades VM (NSF 1971.01.24)
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Fiz
frequência de Teorias Políticas (8 valores) e o exame de Gestão Comercial foi
adiado. Vou sair para dar uma volta antes do almoço. Ainda não decidi se vou ao
cinema á tarde. Amanhã, com os colegas do 4º ano, visitarei uma empresa em
Torres Novas. [1] Como vai isso aí por casa ?
Saudades e abraços do VM
(NSF 1971.02.07)
[1] Nas cadeiras de Direcção de Empresas II e de
Gestão de Empresas Agrícolas os professores organizavam visitas de estudo a
empresas “exemplares”. Desta visita a Torres Novas penso que se tratava duma
fábrica de papel ou de curtumes e apenas me recordo do cheiro incomodativo que
pairava na atmosfera e do Rio Almonda coberto de espuma resultante das
descargas industriais.
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Beira Alta, pastor da Serra da
Estrela
Está
um domingo agradável, estival. A noite está fresca. Tencionava escrever-vos mas
não se proporcionou. Gostaria que as mesadas fossem depositadas o mais cedo
possível. Vou emprestar a TV á tia Esperança.
Como vai isso? Os
Ferreira de Almeida e os Andrade Ferreira vêm á metrópole este ano!
Saudades e abraços do VM (NSF 1971.04.16)
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Beja, da janela
da torre de menagem
Ten[cionava
es]crever-te, mas como se não tem proporcionado, não quero deixar de enviar-te
um grande xi pelo teu último ano [no] clube dos "minores", que é
[como] quem diz, pelos teus vinte anos. Deves estar também a preparar os teus
exames, que desejo corram na medida dos teus desejos. Quanto a mim [cá vou]
andando, cada vez mais [...]. Para a semana tenho o primeiro dos oito exames
que tenciono fazer agora. Loucuras! Fui a Beja e a Serpa, domingo passado.
Gostei. Saudades e abraços do VM (JLNS
1971.05.27)
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Beja, piscina
Não
cheguei a passar este fim-de-semana em Beja, declinando assim um convite que me
fizeram. Saíram hoje as notas de Técnicas de Investigação Social. Tive 12
valores. Quarta ou quinta devo fazer exame de Direito Corporativo. Cada vez
estou mais farto desta fantochada dos exames. Eu que sempre me estive nas
tintas para as notas, começo a preocupar-me com elas e com as vigarices,
arbitrariedades e violências dos exames. Daqui até ao fim ainda me faltam 15
exames (já fiz quinze, sem contar as reprovações), além dum vergonhoso e pomposo
exame final de síntese !!!
Saudades
e abraços do VM (NSF 1971.06.14)
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1972
Paço de Arcos
Passei
eu pela tabacaria para comprar um postal para a Maria Teresa que faz amanhã não
sei quantas risonhas primaveras e dei com vários postais engraçados, um dos
quais me deu (e está dando) uma enorme vontade de rir. Aqui to envio, com
abraços e beijos VM (MCG 1972.04.04)
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Beja
Pois
eu cheguei a Évora ontem à noite, cerca das 23:30, vindo de Beja, onde estive
domingo e segunda, em casa dos tios do Camilo e na companhia de mais dez
adultos e umas catorze crianças, do recém‑nascido ao Pedro
e à Teresa, os mais velhos com os seus treze anos. Aquilo não era uma casa, era
um quartel familiar ... que me "adoptou" por dois dias. Por todas as
salas não se viam senão miúdos. Domingo à tarde, horas antes da consoada,
andava o Camilo ás voltas com a árvore de Natal e presépio, com a mania das
perfeições e de as coisas serem como ele queria. (…) (1972.12.25/26)
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1973
Évora
Chove!
Tenho os pés encharcados e frios. A Televisão transmite um programa de
patinagem artística no gelo. Aguardo que o empregado me atenda. O Chico
[Honrado] não sabe se me pode levar e quanto á Ana ... há 10 dias que lhe não
ponho a vista em cima. De modo que o piquenique em cima da árvore fica para uma
próxima ocasião. OK? namoradinha?
Aproveitarei
o fim-de-semana para reler o volumoso "dossier" de Antropologia
Cultural. Um beijinho ... de consolação.
A
Bia [Almeida] esteve em Évora, com umas amigas. Visita-relâmpago que nem deu
para aceitar o meu convite para jantar (suspiro!) Recebi um cartão da tua prima
Mariana. Chama-me ... Victor Ramos. Enfim! ... Saudações a tua Mãe. Para ti um
abraço do VM (1973.02.2)
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Évora, Fonte
das Portas de Moura
Gosto
muito deste postal. E tu?
Está
trovejando e o céu acinzentou-se subitamente neste princípio do anoitecer.
Passei
hoje o exercício de Gestão de Empresas Agrícolas, sobre o qual incidirá o exame
desta cadeira. Terei também amanhã o exame de Sociologia do Desenvolvimento.
Queria
dizer-te da minha amizade por ti, mas não encontro outras palavras senão estas.
Esperava hoje um aceno teu e nada veio.
Virás
este fim-de-semana? Tencionava ir esperar-te à Setubalense. Mas se eu não
estiver, telefona-me, OK?
Beijo-te
com muita amizade e carinho. E também com [...] certa mágoa pelo que nos está
separando. Deixo-te a serenidade que eu gostaria houvesse entre nós. VM
Faltou
a luz. Acabei de escrever ao lusco-fusco.(MCG 1973.07.16)
~~~~~~~~~~~~
Lisboa
Lisboa, Alfama
Tinha
um postal bonito de Lisboa, com o miradouro de S. Pedro de Alcântara em
primeiro plano. Lembras-te duma menina assustada num elevador, toda aflita por
causa dum homem barbudo, cara marcada pela varíola, camisa aberta quase até ao
umbigo? Pois é, mas não encontro o tal postal; tê-lo-ei perdido ou já to
enviei? Já passa da meia-noite. Gostei bastante do programa do António Vitorino
de Almeida (sobre o nosso amigo Beethoven). Quanto ao "Octávio
Mouret" do Zola faz me lembrar uma frase do "Manifesto
Comunista" de Marx e Engels: "Os burgueses encornam se
mutuamente". [1] (Pausa para tomar um cházinho de tília). O filme de
ontem, "A Vizinha do Lado" tinha as suas cenas com piada, mas nada
valia. Não sabia era que já naquele tempo os filmes portugueses mostravam
aquelas mulheres desavergonhadas, como diria a D. Vitória [minha hospedeira em
Évora] a irem para a cama com os amantes. Ai que escândalo! Amanhã vou a casa
do Armando Nogueira (É o que perdes!).
Beijinhos do VM (MCG
1973.09.20)
[1] não sei onde fui
buscar esta “citação”; no Manifesto, não, seguramente?
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Lisboa
Paço de Arcos,
praia
Está
novamente um dia cheio de sol. Pela primeira vez as persianas da sala de jantar
estão completamente abertas e a vista estende‑se desafogadamente. Telefonei
hoje para Évora e já tenho completo o mapa de exames. Antropologia é a 9
(escrita) e 11 (oral). No princípio da próxima semana vou para Évora. Sabes,
como dia 5 OUT (6ª feira) é feriado, talvez tu pudesses ir até Évora esse
fim-de-semana (SEX.SAB.DOM). Seria bestial, tanto mais quanto eu tenho saudades
de ti. Entretanto, depois de 16 só tenho um exame (a 24), que poderia ir
preparando aí na Amareleja retribuindo a tua visita. Poderíamos assim estar
juntos uns oito dias em Outubro. Que dizes, namoradinha?
Beijo‑te,
C___, com muita ternura e amizade. VM
Saudações da minha Mãe. (MCG 1973.09.25)
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Paço de Arcos
Lisboa, Alfama, Miradouro de Santa Luzia
Já cá estou em
Paço d'Arcos desde ontem á noite; hoje de manhã cá "arrecebi" a tua
carta. O tempo está quente (relativamente, claro) e soalheiro. Daqui a pouco
vamos a Lisboa ter com a minha Mãe. Talvez voltemos á Feira da Ladra.
Na tua carta de
hoje referes dois termos cujo significado desconheço. Do teu pai dizes que
"está com uma bocha ([1])
enorme" e da pestezinha abominável transcreves um dito: "Já está
caducando com os namorados." Que significam os termos que sublinhei?
Sobre as
fotografias oportunamente terás ocasião de apreciá‑las.
Não sei se tens
recebido todas as minhas cartas e postais. Nada dizes da possibilidade de
passares o próximo fim de semana comigo em Évora: 5, 6 e 7 ou seja, 6ª, SAB e
DOM.
A minha Mãe e a
Maria Luísa retribuem o abraço. De mim para ti beijinhos e ternurinhas. VM (MCG 1973.09.29)
(1)
Barriga
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1974
Évora
(humorístico)
O quarto está
gelado. Passei o fim-de-semana lendo umas coisas de antropologia. Tenho os
"conhecimentos" um tanto ou quanto baralhados. A D. Vitória veio aqui
há pouco trazer-me um doce e pêras de arroz doce. Está uma simpatia de senhora!
E o teu
fim-de-semana, como correu? Ontem às 13 h, quando ia para o Liceu almoçar,
resolvi passar pelo Gião (Restaurante) e encontrei-me com a Ana á esquina.
Foi-se a última hipótese de ir até aí [Amareleja], pois ela tinha frequência
(exame) á tarde, ficando cá o fim-de-semana por causa do exame de Matemática.
E então, que me
dizes ao aumento do preço do petróleo e seus derivados? (Lá para Abril deve
haver mais. Olarilas!). A velhota dos jornais ali às portas do Arcada já
desabafou comigo esta manhã: não haver um raio que os partisse! Há 10 dias
encomendara uma garrafa de gás; está cozinhando a lenha. Que só na 3ª feira.
"Os patifes, os espertalhões, já sabiam disto e obrigam-me a pagar o gás
mais caro!" Como dizia o Carmelo, muito solene e sisudo na sua pose á mesa
do café: "Isto está cada vez pior!"
Beijinhos do VM (MCG 1974.01.03)
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Matosinhos,
porto de abrigo
O
computador cerebral está programado para Antropologia. São 20h 40 e tenho de ir
jantar. Antes, uma visitinha para saber de ti.
Mais
um postal para a colecção. Não chegámos a ir lá porque havia a grade no meio da
muralha, lembras‑te?
Olha,
se eu soubesse que tencionavas ir ao Monte tinha desistido mais cedo do
fim-de-semana. Não sabia se tinha tudo OK para poder ir e não queria comprometer‑me
com o Chico ou [com] a Ana, sem a certeza de ir. Afinal a Ana não foi e o Chico
não tinha lugar. Enfim, um beijinho e cara alegre. Um abraço do VM
A
tua prima [Emília] escreveu‑me para agradecer as BOAS FESTAS. (MCG 1974.01.04)
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RETRATO DE SENHORA PENSANDO SE HÁ-DE
ACEITAR UM CONVITE PARA UMA IDA AO FIM DO MUNDO (ou já terá aceitado e pensa na
data do embarque?) ENQUANTO NÃO SE DECIDE SE HÁ-DE ACEITAR: "viaje agora e
pague depois" (ERA BOM, NÃO ERA? EU GOSTAVA, E TU?), AQUI FICAM MAIS
BEIJINHOS DO VM (MCG 1974.01.08)
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Évora, Praça do Giraldo
Pela
fotografia não parece mas hoje é mesmo dia de S. Porco, i.e., 3ª feira ( ). Já
viste como seria pouco agradável o Giraldo ... se cheio daqueles chaparros
"cinzentos como cepos sem
vida" ? Estou aqui no café aguardando a sobremesa; o "rancho"
melhorou um pouco, depois da saída do Aguilar e do Moura neste fim-de-semana.
Vamos ver quando chegará a minha vez.
Amanhã
de manhã vamos à [fábrica da ] Siemens tratar das "massas" e saber de
trabalho [estágio de fim de curso]. Recebi hoje uma visita do Carlos [Nunes da
Ponte]. 'Tadinho, está mesmo a fazer um trabalho de escravo [estágio de fim de
curso], sem promessa de remuneração.
Antão,
a "pestezinha" ( ) sempre levou a dele avante e foi até à Tele-Escola
? Ele sabe-a toda. Olarilas! Um "bacalhau" para ele. Saudações a tua
Mãe. Saudades minhas. Para ti beijinhos do VM (MCG 1974.01.15)
~~~~~~~~~~
[Évora, Praça
do Giraldo e Igreja de Santo Antão]
A
fotografia é antiga! Não parece ! Mas ... a cerca da fonte já não é assim e o
táxi (1º) já não existe. Também as motorizadas já não param no topo do
tabuleiro. A indumentária das pessoas e a esplanada defronte do
"Diana" indicam que é Verão! Eis aqui a célebre Praça do Giraldo, o
local que os meus pés mais têm calcorreado. É sábado e estou jantando. Este
fim-de-semana foi um pouco "chocho". A semana passada houve uma boa
peça de teatro (O Amigo do Povo) e um filme a ver (O Espantalho). Esta semana,
nada. Enfim. Por mero acaso integrámo-nos numa das visitas guiadas do Túlio
Espanca. Mais duas igrejas visitadas. Amanhã é domingo (já é ontem, não?). Vê
lá como o tempo passa e as coisas acontecem.
Beijinhos do VM (MCG 1974.01.18)
~~~~~~~~~~
Porto
(Sabes,
não estou contente pela nossa ausência um do outro) Bem, este postal já começou
a ser escrito há muito. Depois .... ficou arrumado a um canto. Já estou no
Porto. Jantei em casa do avô Barroso e daqui a pouco vou para casa do avô Luís.
A viagem foi boa, embora tenha chovido a meio do caminho. A paisagem é
simplesmente maravilhosa - tão verdejante! Gostaria de viver por estas bandas.
E tu? Gostaria de ver contigo estas paisagens! Sábado deves escrever me para
Lisboa e 2ª para Évora. OK? O tio Zé, a 1ª pergunta que me fez foi "Então
a tua mulher, onde está?" Ah! Ah!
Ah! Um abraço do VM
Não há nenhum filme de
jeito aqui no Porto. Safa! (MCG 1974.04.11)
~~~~~~~~~~
Porto
/ Goios (Barcelos)
Aqui
na cidade [do Porto] a maioria das freguesias paroquiais já não têm
"compasso", isto é, procissão pascal - o pároco leva a cruz às várias
residências; por ser uma manifestação inadequada aos dias de hoje. Mas na
aldeia [Goios, ao pé de Barcelos] (e não só) ainda as pessoas aguardam a visita
pascal - o padre deslocando-se pelas aldeias, cujas casas aguardam a sua
visita. Na sala de entrada, bolos secos e vinho. No ar estralejam foguetes ! As
pessoas dizem: " O compasso vai na casa de Fulano, daqui a xis horas está
aqui!" As horas vão diminuindo e eis que aquela malta irrompe pela sala
dentro, o povo ajoelha-se para beijar a cruz, (mais ou menos devotamente), e
depois começa a comezaina e a copofonia. Ah! Ah! Ah! Ao fim do dia de certeza
que o padre e seus acompanhantes estarão já um tanto ou quanto toldados
. (...) São 16 horas e o meu avô já me
chamou ali do lado para me pedir um favor, muito de mansinho: que me ajoelhe e
beije os pés da imagem. Se o não fizesse seria um escândalo, que as pessoas
reparam em tudo: "Então ele é um ateu ?!" Quem diria, o primo do
senhor D. António [de Sousa] Barroso", [que foi] Bispo do Porto (e esteve
em S. Salvador do Congo, em Angola) ! Enfim!
Continua
em “Goios - A Páscoa numa aldeia minhota”
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Porto
O
"Diário de Lisboa", ao domingo, tem vindo a publicar as "Cartas
de Soror Mariana"; não me despertou o interesse para ler a primeira, mas
resolvi ler as seguintes e gostei. São muito expressivas e embora eu não
conceba amores dramáticos àquele ponto, compreendem-se os sentimentos daquela
mulher. MCG - 1974.04.17)
~~~~~~~~~~
Lisboa
São quase 19 horas e hoje o meu poiso para
escrever-te é a Praça Luís de Camões, o qual, imponente no alto do pedestal,
rodeado de pombas, “olha” para o movimento de carros e pessoas. A base da
estátua está enfeitada com faixas bicolores, da bandeira portuguesa. Já
congeminei um anúncio pedindo emprego, para publicar no Diário de Notícias, ao
bom estilo capitalista: quem dá mais (ou alguma coisa) pela minha força de
trabalho ? Nem sei como é que o coração de Portugal se vai aguentar com o meu
desemprego mai-los cem mil que, diz-se, estão nas minhas condições. Olha, já te
mentalizaste-te (e à tua mãezinha) para passarmos juntos a ponte do fim do mês?
Beijinhos VM (MCG 1974.10.23)
~~~~~~~~~~
Alcácer do Sal (Vale de Guiso / Monte da
Arouca)
Alcácer do Sal
A camioneta vai daqui a pouco para Montemor[-o-Novo]. Está
sol e daqui te envio saudades. Já engraxei os sapatos e estou mais apresentável. Gosto de ti, por
quem hoje estou com vontade de ternurinhas. Mas não pode ser! Assim, um abraço amigo do VM (MCG 1974.10.28)
~~~~~~~~~~
Coimbra
Coimbra - Palácio
de Sobre-Ripas
São
cerca de 18 horas e há 1 [uma] que terminou a sessão inaugural do Seminário
Sobre a Democratização do Ensino. Estou aqui num café (O Mandarim), meu velho
conhecido, com a malta de Évora. Está frio e ameaçando chuva. Ficámos num lar
de estudantes, ao cimo duma ladeira imensa. Perante a enormidade do tempo à
minha frente - só logo às 22 horas há uma sessão de cinema sobre a campanha de
alfabetização. Sinto-me aborrecido. Tenho que arranjar com que ocupar o tempo.
Amanhã quero ver se vou à matinée ver um filme "A Estratégia da
Aranha" [de Bertolucci]. Procurei postais "decentes" em 2
papelarias e só encontrei este. Espero gostes. Eu gostei!
Ah!
regressarei a Lisboa no próximo domingo. Bem, mas vou-me por a mexer aqui do
café, que esta pachorrice já me está a chatear.
Um abraço amigo e
beijinhos do VM (MCG 1974.11.13)
~~~~~~~~~~
Coimbra - Biblioteca
da Universidade
Antão,
como vai isso? e esse tempo por aí? Por cá chove e as ruas chegam a ser
autênticos rios, que os carros chapinham encharcando os transeuntes
descuidados. Aqui para os lados onde paro mais - Universidade, Cantina e Teatro
Gil Vicente - predomina a malta nova e não se vêm táxis. Pouco tenho visto da
cidade, que me parece desgraciosa; sem harmonia estética, ao contrário do que
sucede em Lisboa ou mesmo Évora. Parece-me uma cidade incaracterística na traça
dos seus edifícios e no delineado das suas ruas. Amanhã é o último dia do
"Seminário Sobre a Democratização do Ensino", que hoje teve a
presença do Ministro do Trabalho. Amanhã haverá um convívio. Sinto-me cansado:
Saio de manhã e só volto à noite.
De
boatos nada tenho ouvido, mas pelos jornais tenho sabido que se preparará nova
intentona reaccionária; os tumultos em Angola seriam o prenúncio. Será desta
vez a guerra civil - lá e cá? Um abraço amigo do VM (MCG 1974.11.16)
Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que
há dias [em Coimbra] vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu
gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era
comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir
fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir
ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler,
não achas? (MCG 1974.11.17)
~~~~~~~~~~
1974
Monte
da Arouca (Vale de Guiso)
Estamos
a meio da tarde de domingo, aqui no Monte de AROUCA onde a Celeste dá aulas,
uma herdade enorme que quase parece uma aldeia, agora abandonada (quase) pela
crise da agricultura e da política dos agrários. O monte fica junto ao rio
Sado, a 10 km ao sul de Alcácer do Sal e a 2 horas de camioneta de Lisboa. No
meu colo está a minha amiga Eva, filha duma trabalhadora [Aciolinda], e que tem
3 anos. Uma "mulherinha", como me diz. A mãe dela aquece-se ali ao
lume, enquanto a Celeste lê e a mãe arranja as azeitonas que colheu ontem á
tarde.
Então,
como vai isso por aí? Mais sossegado? Por cá as coisas vão andando. Ainda não
arranjei emprego, mas espero consegui-lo até ao fim do mês.
Tenho
recebido os recortes dos jornais. Gostaria de receber "O Angolense"
Pode ser? Um abraço amigo
do VM e outro da
Celeste. (NSF 74.11.24)
~~~~~~~~~~~~
Paço
de Arcos
Moura, rua
típica
Não
sei bem se isto que está em mim é "nervoso" ou ... gripe. Os dados
estão lançados e vou para Évora dar aulas na Escola Industrial. O Dr. Pimentel
queria que me apresentasse ao serviço já na 3ª feira, a mim convinha-me na 4ª e
acabou por ficar para 5ª! Vamos lá ver como isto corre. Hoje e amanhã tenho de
preparar a lição. Ah!Ah!Ah! (isto é para disfarçar a morte que me vai na alma).
Francamente, não me seduz ser professor de meninos! Mas ... podia ser pior!
Olha, não sei onde ficarei em Évora - se calhar numa pensão - até ver! - pelo
que me deves escrever para o APARTADO 65 - ÉVORA. OK?
Passei
este fim de semana em casa do Luís e da Isabel; são um casal um tanto ou quanto
original. Não têm horas para nada!
Não
queres ir visitar me a Évora no próximo fim-de-semana?
Saudades do VM (MCG
1974,12.02)
~~~~~~~~~~
1975
Évora
Évora, piscinas
Do
Victor para a C., saudações
Acabei
de ler muito por alto um livro: "Recordar Lenine". Acho que era um
tipo bestial.
O
Café está cheio e barulhento, cheio de rapazes e raparigas. Daqui a pouco vou
jantar. Logo à noite e amanhã há eleições na Escola {Industrial]. Os estudantes
apresentaram duas listas e os professores quatro, numa das quais estou eu. Se for eleito terei menos
umas horas de aulas, o que será um alívio.
O
Carlos Ponte esteve em Évora este fim-de-semana. Fomos até Monsaraz com uma
prima dele e o José Manuel. Tirei lá umas fotos, que não sei como ficarão. Ah!
o Carlos manda-te cumprimentos.
Os
acontecimentos precipitam-se em Portugal, com o pretexto da unicidade sindical.
Tudo leva a crer que o PPD sairá do Governo - e quem sabe, o PS. Tudo leva a
crer que o MDP entrará para o Governo. E quem sabe, o MES. No seu comício o PS
agita espantalhos e desmascara-se como partido da burguesia que é.
E
tu, como vais? Tenho pena que estejamos longe um do outro. A Eva, está melhor?
Saudades e abraços do
VM (MCG 1975.01.20)
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Safa,
que a barulheira aqui no café repentinamente tornou-se incomodativa,
especialmente com a gritaria das crianças e o velho aqui atrás de mim
tamborilando com a moeda no tempo da mesa.
Lá
fora chove a cântaros e um cartaz anuncia "Pides na grelha",
brevemente nesta terra. As pessoas passam enfiadas debaixo dos guarda-chuvas e
de vez em quando uma lufada de ar frio invade o café, quando alguém empurra a
porta. De hoje a dois meses, segundo o Costa Gomes, haverá eleições. "O
voto é a arma do povo". Só que o povo deve andar muito ... desarmado.
Por
Évora, penso que pelo MDP/CDE o Abílio Fernandes e o Miguel Bacelar devem estar
entre os candidatos (Mas isto ainda é confidencial). Entretanto a UDP já
entregou o seu processo de legalização como Partido; depois de andar muito
atrapalhada para arranjar as 5 000 assinaturas. A UDP é constituída por
dissidentes do PCP, que negam este partido como partido revolucionário da
classe operária.
Anteontem
fui com o João Luís, o Brito e outros até Estremoz, onde na "Flor do
Alentejo" um grupo de marialvas, bêbedos e disfarçados de mulheres,
atroavam os ares com "vernaculidades" e vivas ao CDS e ao PS (Partido
Socialista), gritando que "mais vale ser fascista uma hora que democrata
toda a vida" (onde é que eu já ouvi isto?) Enfim, a reacção ainda (ou já?)
vai falando!
É
Carnaval, mas não parece, salvo um ou outro mascarado pelas ruas e uma ou outra
criancinha. O tempo não está para folguedos... salvo em Lisboa, onde cerca de
20.000 a 40.000 trabalhadores organizaram mesmo uma manifestação contra o
desemprego e contra o imperialismo e a NATO, criada depois da 2ª Guerra Mundial
para defender o mundo "livre" da ameaça comunista! Apesar da proibição.
O
tempo vai correndo. Enquanto estudo alheio-me do que me rodeia, mas quando
pouso os livros não tenho para onde ir, onde me sinta bem.
Domingo
houve uma Conferência dos Trabalhadores Rurais do Sul, organizado pelo PCP.
Encontrei por cá alguns dos meus "camaradas" de Lisboa, nomeadamente
de Agronomia. Aéreo como tenho andado, nem sequer dei pelo anúncio de tal
Conferência; teria sido interessante ter ido até lá. Assim ...
Évora
agora "civiliza-se". Teatro, cinema, concertos ... Bem, cinemas é
como quem diz. A maior parte dos filmes nada vale, segundo o meu critério. 5ª
feira vai um filme que gostaria de ver: "Ferido na Honra", mas ...
ainda tenho aulas. Mas 6ª devo ir ver um de Jerry Lewis - "Uma Poltrona
para Três", salvo se ainda houver ballet russo a preços (pouco) populares
- 60 palhaços.
É
já noite, durante o jantar, aqui no poiso habitual que é o (restaurante)
"Manuel Iglésias". Choveu todo o dia, por vezes a cântaros, e esteve
um frio agradável. Tenho a cabeça numa grande confusão e não consegui ainda
fazer nenhum esquema ordenando os meus "profundos" conhecimentos.
Évora é uma cidade estúpida, onde não sinto calor humano ao contrário do que
sucede com as gentes do Porto. (...)
Não
sei onde passaste estes dias. Espero que ao menos tenhas aceite o convite da
Bia. Esperei - em vão - por ti todos os dias. Encolho os ombros e sigo em
frente. "As palavras estão gastas, meu amor", como dizia o poeta, já
não sei bem qual poeta, pois os livros
estão encaixotados e não são já meus companheiros como outrora.
Continuo
a ler "O Socialismo depois de Marx". Mas repito, preciso de
consolidar os conhecimentos já alcançados (onde é que eu já ouvi isto?)
Mas
... diz-me lá o que vou eu fazer ? O quarto [na Pensão] é pequeno e estou farto
de ler. Preciso de conviver. Mas com quem? O café é barulhento e cada vez estou
mais incapaz de fazer vida de salão. Não imaginas como preciso de calor humano
e camaradagem. Apesar dos meus alunos me falarem como se eu fosse um deles.
(...)
Passei
hoje pelo correio mas de ti não havia notícias. Encolho os ombros e volto para
o (Café) Arcada e continuo a ler na "História dos Factos Económicos e
Sociais" os capítulos dedicados ao movimento operário. A miúda que me
despertou a atenção desde ontem foi-se embora e entretanto outras vão entrando
e saindo.
Preciso
de editar textos de apoio para as aulas de "Política", mas ainda não
o fiz. (...) Amanhã recomeçam as aulas. São mais 5 semanas ... até ás férias da
Páscoa. Em 14 de Junho terminam as aulas. Não sei se terei de fazer exames ou
não. É provável que sim. (MCG
1975.02.11)
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Tenho
em mim uma certa nostalgia e também saudades tuas. Como te disse os meus tios
vieram a Évora este fim-de-semana. No entanto só hoje me levaram a mobília e só
hoje durmo lá em casa. Agora podes escrever-me para a QUINTA SANTA CATARINA -
LOTE 24 r/c ÉVORA.
Logo
á tarde há uma reunião dos professores da Escola. Penso que também deve ser
abordado o problema da greve dos cursos complementares, que não conseguiram a
adesão dos restantes alunos (326 votos contra 320) e que pretendem realizar
nova RGA amanhã. Andam a brincar aos "cowboys". Entretanto no sábado
houve um plenário dos professores de Évora (ou Alentejo?), por causa dos
vencimentos. Não pude lá ir mas pelo que sei os "senhores
licenciados" estão muito preocupados com os professores primários. A
História do costume. Enfim ... um abraço do VM
Saudações
dos meus tios. Até ao fim da semana trato dos teus livros. (MCG 1975.03. )
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Serra da Estrela,
Queijeiras
Perguntas-me
se gostei da Serra? Digo-te: vira o postal, e diz-me se essas pedras negras e
essa erva amarelecida têm alguma beleza ou alegram o espírito! Imagina esta
paisagem embranquecida pela neve, por entre rochas negras! E vai daí compreenderás
que tenha arrefecido um pouco o meu entusiasmo
... pela Noruega. (Ah! Ah! Ah!)
O
"nosso" patrão falou ontem. A greve vai morrendo aos poucos e na EICE
os estudantes resolveram recomeçar as aulas. Então, como vais? A hora de ir
para a Escola aproxima-se e tenho de me pôr a andar, embora não me apeteça hoje
ir dar aulas. Sabes que as férias da Páscoa só são 10 dias para os profes?
Enfim ...
E
tu, queres vir a Évora este fim-de-semana? Um abraço amigo e as saudades do VM
PS
- Se vieres traz o livro que pedi e o porta-chaves que está debaixo do divã!
(MCG 1975.03.05)
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(paisagem),
Porto fluvial ao pôr do sol
Apesar
do boletim meteorológico, este fim-de-semana pascal foi soalheiro e límpido.
Com o meu avô Luís; José João e resto da família fomos almoçar a Viana do
Castelo. Gosto muito destas paisagens.
Por
cá fiz algumas compras. Pouca coisa: duas camisas e, como não podia deixar de ser,
livros. Entretanto encontrara em Évora a lista dos temas de Geografia e dos
livros aconselhados para literatura. Em Évora procurarei tratar disso.
Entretanto
o PPD e o PCP degladiam-se mútua e consequentemente. O PPD pretende fazer crer
que não são militantes ou simpatizantes que gritam "Morte aos
comunistas". Por seu turno, em Évora, o PS apoia o governador civil
demissionário, contra o MDP, o PCP e o MES, que propõem o Dr. Abílio
[Fernandes] para o cargo, como sucedera meses atrás. Pelos jornais também soube
que Évora também conheceu umas greves, a dos caixeiros. Em Angola, a FNLA e a
UNITA (esta apoiada pelos brancos) desencadeiam acções terroristas, tentando
liquidar o MPLA, perante a passividade e a conivência dos altos comandos
militares em Angola.
Um
abraço amigo e as saudades do VM (MCG 1975.03.31)
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Lisboa
Pego na caneta para
escrever no papel; são 4 e tal da matina e o silêncio é o único som aqui em
casa. Mais um fim-de-semana está passado, neste Portugal que votou
esmagadoramente PS e PPD. Como era de esperar a burguesia ganhou as eleições,
com a ajuda do "voto do Povo". Outra coisa não era de esperar. Agora,
em nome da "liberdade", com a ajuda do PS e do PPD, vá de continuar a
"exploração capitalista". Sim, que só uns 800.000 votaram
"comunismo". As manobras começaram e o 1º de Maio foi já uma amostra.
Daqui para a frente vão aumentar as provocações. E ou se aceita o jogo, ou
teremos aí o [Mário] Soares a gritar contra a ditadura, mais os seus
amigalhaços da Alemanha Federal e Companhia.
Tive
de vir a Lisboa este fim-de-semana. Estou descontente com as aulas, com os
alunos e comigo.
Aqui
te deixo um abraço amigo e o carinho do VM
Um
beijinho pelo teu aniversário. (MCG 1975.05.04)
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Monte
da Arouca (Vale de Guiso)
É um domingo à noite. O
tic tac do relógio enche a casa. Escrevo à luz dum candeeiro de petróleo,
enquanto a Celeste estuda Geografia e a mãe dela vai fazendo uma toalha (ou
colcha). Lá fora, nos arrozais, coaxam as rãs.
Vim este fim de semana
ao Monte [da Arouca], carregado de exercícios para corrigir. Já vi 6 das 9
turmas e amanhã devo acabar a empreitada. No fim do mês de Maio haverá uma
semana de férias, pois as aulas este ano prolongam-se até 12 Julho e os exames até 14 Agosto. Uma estopada, ou
antes, mais uma ”Mecada” (de MEC – Ministério da Educação e Cultura). Os
concursos este ano são de 15 a 30 de Maio; tenho de meter novamente a papelada,
pois não vejo jeitos de arranjar outro emprego, estou “exilado” em Évora e os
meus amigos … bem, longe da vista, longe do coração.
Então,
como vai essa disposição? Por cá, consequência de toda a política seguida pelos
Governos de Salazar e Caetano, agravado pelo boicote económico dos países
capitalistas, a situação não é famosa. Há desemprego – 200 a 300 mil pessoas –
e prevêem-se medidas de austeridade, com racionamento dos bens de 1ª
necessidade e cancelamento dos bens supérfluos. A vinda dos portugueses de
Angola, numa altura destas, criará graves problemas sociais. Não sei que
medidas o Governo poderá tomar para enfrentar a situação.
Pelos jornais tenho sabido do que se passa em Angola, que me
não surpreende. Prevê-se uma grandiosa manifestação em Lisboa, convocada por
organizações e partidos políticos progressistas, de solidariedade para com o
povo angolano e de apoio ao MPLA, com o sentido de forçar o Governo Português e
o MFA a apoiarem decididamente aquele movimento de libertação, tirando o
reconhecimento desses dois braços do imperialismo que são a FNLA e a UNITA, o
1º dos quais tribalista, racista e responsável pelos massacres de Março de 1961
e que não tem o apoio das populações de Angola e muito menos de Luanda, que
procura dominar as populações pelo terror. Que vocês não entendam isso! … Nem
compreendo a indignação pelo navio jugoslavo com armamento para o MPLA, quando
a FNLA recebe incontroladamente armas e soldados estrangeiros pelas
fronteiras c/ o Zaire. Se calhar queriam que os luandenses se
deixassem massacrar pela FNLA!?
Claro que no meio disto tudo a situação dos brancos,
especialmente daqueles que nunca quiseram saber da política, é muito
aborrecida.
O
Zé João sempre vos entregou as lembranças? Era para ter levado queijos
alentejanos para o pai, mas não houve oportunidade. (NSF 1975.05.18)
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1977
Évora
(cena), Casal
contemplando recém-nascido
Chegou
hoje este postal do Zé Manel. Já vieram as fotografias; no fim de semana
mandamo-las para Santo Amador ou para o monte. São 13h30m; está calor. Daqui a
pouco "entro" ao serviço. Daqui a dois dias é menos uma semana de
aulas. Um abraço e saudades do VM
Não te esqueças de
trazer terra para o "jardim".(MCG 1977.05.05)
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1978
Évora
CTT - Bilhete
postal - 3$00
A
Susana está para ali amuada, pois quer ir para casa da Isabel, nossa vizinha.
Daqui a pouco vou até Setúbal. O mecânico não se comprometeu com a entrega do
carro [Renault 4] esta semana, pelo que não valerá a pena vires busca-lo.
Esqueceste-te de deixar os documentos do carro. Já está a pagamento o imposto
de circulação. Diz o Artur [Guerra] que termina este mês, mas só com os
documentos do carro pode ser comprado. Tens de ver isso aí nas Finanças. Tenho
de ver se o meu pai pode ir comigo a Sines por causa do trabalho deste mês. ( )
Ainda não fiz contas com o Artur. Se for a Sines este fim-de-semana não virei a
casa, salvo se conseguir ir antes. De qualquer modo tenho exames 2ª feira
próxima. Não consigo encontrar o meu fato de banho. Por aqui me fico. Saudades
e abraços do VM (MCG 1978.06.27)
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CTT - Bilhete
postal - 3$00
Vou
hoje, após o almoço, até ao Barreiro. Amanhã de manhã passo pelo INE. Ainda não
sei quando irei a Sines, nem se poderei ir a casa este fim-de-semana, pois 2ª
de manhã tenho exames. Não te esqueças de comprar o selo para o carro (tens de
levar os documentos deste). Deves entrega-lo ao Artur [Guerra] bem como os documentos,
sem os quais o carro não deve circular, sob risco de multa. Um abraço á rua
Mãe. Para ti beijos e abraços do VM (também para a Susana) (MCG 1978.06.29)
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CTT - Bilhete
postal - 3$00
Enquanto
não começa a reunião geral de professores escrevo- te umas linhas. O concurso
já abriu, pelo prazo de quinze dias. Tenho as listas das escolas, mas não há
nenhuma do concelho de Évora. Como há tempo, no fim-de-semana falaremos. Diz me
se precisas de algum "certificado de tempo de serviço ou equiparado".
Comprei também os 2 ex. do "Botão de Rosa" (100 paus) e os impressos
para o concurso. A sala vai-se enchendo lentamente mas nada que se pareça com
os 200 profs. da Escola. 5ª feira é o dia da paralisação dos professores.
A Susana, vai bem?
Saudades e abraços do VM (MCG 1978.08.31)
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1980
comboio
do Barreiro / Setúbal
CTT - Bilhete
postal - 5$00
Como
vão essa saúde e esses passeios? Nós por cá vamos indo. Recebemos hoje um
postal da Mãe. A Caixa já concedeu o empréstimo; qualquer dia devemos assinar o
contrato-promessa de compra e venda. Este fim-de-semana vamos a Évora. Ainda
não decidimos se iremos na 6ª feira 16, ou no dia seguinte. Não querem lá ir?
Regressaremos na 2ª feira seguinte.
Por
hoje é tudo. Cumprimentos da D. Maria. Beijinhos da Susana. Saudações e abraços
da Celeste e do VM (MME 1980.05.14)
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Setúbal
CTT - Bilhete postal - 5$50
Como
vai essa saúde? Nós por cá bem. Temos ido à praia, a Susana e eu, uma vez que o
Rui é pequeno e alguém tem de tomar conta dele.
Já
temos quase tudo emalado; falta fazer a mudança [de Évora para Setúbal] e
acabar a instalação eléctrica, que ficou em meio e só pode ser feita ao fim de
semana, quando o nosso amigo Moreira vem trabalhar.
Neste
fim-de-semana vamos até Évora, mas a Celeste, a Susana e eu devemos voltar para
mais uns dias de praia. Nessa altura ficaremos na casa nova. Em Setembro
voltaremos a Évora.
Saudações,
abraços e beijos de todos nós para todos vós! VM
Esqueci-me
aí dum livro de endereços e notas de capa preta, que me faz muita falta.
Mandem-mo para Évora. Deve ter ficado no quarto ou junto ao telefone (MME
1980.08.12)
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1986
Setúbal
Este
sábado é a Festa de Natal da Câmara, com teatro, desenhos animados e fantoches,
para além dos brinquedos.
.Ainda
não decidi se irei a Lisboa: aborrece-me ficar por Setúbal e depois
impaciento-me com as criancinhas, que não têm culpa, mas em Lisboa
desassossega-me não estar com a Maria do Mar. (MMA 1986.12.11)
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1987
Setúbal
Setúbal,
Palácio da Comenda
Antão,
como vai essa praia? Afinal o tempo melhorou, salvo o nevoeiro matinal.
Já
tenho as fotografias do campismo [em Aljezur]. Comecei hoje a trabalhar, mas
não há muito para fazer. Ali na tabacaria não havia postais bonitos; este foi o
melhor que encontrei. Envio-vos um postal da avó Mila.
Penso
que a Susana terá levado por engano os meus postais de V. Nova de Milfontes e
Odemira. Se assim for, que mos traga no fim-de-semana, bem como os recibos dos
livros escolares para entregar na Câmara. Saudações á CELESTE e beijinhos para
vós. VM (SRN 1987.09.01)
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1988
Beja
Beja, Ermida de
Sto.André
Estou
em Beja, na casa da Cultura. Está uma tarde de verão, apesar do inverno não ter
ainda acabado. Ontem à noite andei a passear pelas ruas da cidade, que me
pareceu mais bonita na parte velha, fazendo-me lembrar Faro. Logo à noite vamos
jantar a uma cooperativa em Pias.
Encontrei
a vossa prima Milinha que vos manda beijinhos, bem como o vosso primo João
Manuel e o tio Janica, que estavam a arrumar o talho.
Esta
Ermida [de Santo André] não é tão bonita como a de S. Brás, em Évora, mas é
mais um postal para a colecção da Susana. Beijinhos do VM (1988.08.03)
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)